Opeth no Brasil: Fredrik Åkesson fala à RS sobre shows, Ghost e disco solo
Banda sueca é uma das atrações do Monsters of Rock, festival que acontece dia 19 de abril em São Paulo; dois dias depois, grupo abre para o Savatage
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 14/04/2025, às 08h00
No próximo sábado, 19, o Opeth se apresentará pela primeira vez na edição nacional do Monsters of Rock, mas Fredrik Åkesson já subiu no palco do festival. Aconteceu em 2023, quando o guitarrista foi chamado para ocupar temporariamente a vaga do ausente Lars Johansson no Candlemass — banda que já era substituta naquela ocasião, tendo entrado no lugar do Saxon.
“É incrível que eu também possa vivenciar isso com o Opeth também, pois foi um dos maiores shows que toquei”, conta Åkesson, em entrevista à Rolling Stone Brasil, sem deixar de destacar o desafio ao substituir Johansson naquela ocasião:
“Tive que treinar as músicas por um mês e aprender os solos em detalhes, pois queria fazer justiça e eles. Tenho falado com o pessoal do Opeth sobre a arena enorme, já que eles não conhecem. Lembro que passamos o som às 4 da manhã!”
A arena em questão é o Allianz Parque, estádio em São Paulo que, como em 2023, recebe o festival, agora em sua edição de 30 anos. Scorpions, Judas Priest, Europe, Savatage, Queensrÿche e Stratovarius completam o lineup do evento. Paralelamente, o Opeth ainda abre um show à parte do Savatage no Espaço Unimed, na capital paulista, dois dias depois. Ingressos para ambos os compromissos estão à venda no site Eventim.
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Ter tocado anteriormente com o Candlemass no evento é um dos motivos que podem fazer Åkesson sentir-se confortável no Monsters of Rock. Outra razão é a forte presença de escandinavos no lineup desta vez: Opeth e Europe são suecos e o Stratovarius, finlandês. Aliás, das sete atrações, cinco vêm da Europa; somente Savatage e Queensrÿche têm origem americana.
Ao mesmo tempo, a sonoridade do Opeth pode destoar dos demais. É o único grupo da escalação a fazer uso de vocais guturais — cada vez mais raros nos trabalhos recentes, embora o último álbum The Last Will and Testament (2024) retome o estilo — e a flertar com o death metal, embebido em raízes progressivas que também saltam mais aos ouvidos nos discos dos últimos anos.

Ciente do perfil do evento, Fredrik adianta: o repertório do quinteto completo por Mikael Åkerfeldt (voz e guitarra), Martín Méndez (baixo), Joakim Svalberg (teclados) e Waltteri Väyrynen (bateria) deve ser mais abrangente que o habitual. Ele reflete:
“Deve ter muita gente que não nos viu antes, então é importante escolher o tipo certo de setlist. Daremos muito foco ao novo álbum, mas tocaremos muitas músicas que não entraram da última vez no nosso show como headliner em São Paulo [em fevereiro de 2023].”
Brasil, álbum e... prêmio!
A relação com o Brasil, diga-se, é curiosa. O Opeth já veio cinco vezes ao país, mas até hoje só tocou em São Paulo. Após a estreia no Santana Hall, tocou três vezes na mesma casa, Carioca Club, com capacidade para pouco mais de mil pessoas. Seria o destino da passagem mais recente, mas a procura por ingressos foi tamanha que a produtora deslocou o evento para o Terra, que comporta entre três e quatro mil fãs. Um upgrade e tanto.
Åkesson, aliás, é só elogios ao público não apenas do Brasil, mas da América do Sul como um todo. “A plateia sul-americana é a melhor do mundo. É a mais intensa. Não estou palpitando; é a verdade”, afaga, logo após refletir sobre a boa recepção de The Last Will and Testament: “Temos começado os shows com a música ‘§1’, que é bem pesada e as pessoas adoram. Não é como se estivessem esperando pelas músicas antigas — o que provavelmente também estão. E as novas são muito divertidas de se tocar. São diferentes, intensas e cheias de ação”, afirma o guitarrista sobre o disco, que chegou ao quarto lugar da parada sueca e no top 10 de outros sete países europeus, incluindo Alemanha e Áustria.
Outra prova deste sucesso veio em março último, quando The Last Will and Testament também foi premiado com um Grammis (o Grammy sueco), na categoria de hard rock/metal. Foi a segunda vitória do Opeth, mas a primeira com Fredrik, pois, em 2003, quando Deliverance (2002) recebeu o mesmo troféu, o guitarrista ainda não fazia parte da formação. Ao mesmo tempo, um disco gravado por ele se viu campeão em 2023: Impera, quinto registro de estúdio do Ghost, projeto que o mantém apenas como músico de estúdio.
Dono de fala mansa e personalidade relativamente reservada, Åkesson admite que é meio esquisito ir a premiações do tipo. “Você tem que beber algumas cervejas para entrar no clima”, diz, antes de confessar, também, o nervosismo envolvido:
“Quando chamam seu nome, dá para sentir a pressão arterial subir um pouco. De toda forma, estamos muito felizes. Mikael, Méndez e eu já tínhamos estado lá outras quatro vezes com álbuns anteriores. Aí ouvimos: ‘e o vencedor deste ano é... In Flames’. Ok, tudo bem, parabéns para eles. Ano passado, por exemplo, nem fomos, porque pensamos: ‘ah, não vamos ganhar mesmo, vamos pular essa premiação’. Desta vez, foi especial.”

De volta ao Brasil, mas ainda a respeito do novo álbum, há uma questão inevitável: será que Joey Tempest vai participar do show do Opeth? O vocalista do Europe, normalmente arredio a colaborações, aceitou cantar em “§2”, uma das faixas de The Last Will and Testament — à Rolling Stone Brasil, ele admitiu ter adorado a experiência e ser fã dos colegas suecos. A pergunta, devidamente feita para Fredrik, recebeu uma resposta ligeiramente decepcionante. “Temo que agora não estejamos tocando essa música”, diz. “Preciso revelar para que ninguém fique desapontado. Tivemos Ian Anderson (Jethro Tull) participando ao mesmo tempo que Joey, então seria meio errado não ter os dois. Nessa faixa em particular, a ‘§2’, eles fazem tipo um ‘falar e responder’. Então estamos sem um cara. Mas eu não me importaria em tocá-la, ele é fantástico, fez uma ótima participação. Quem sabe? Talvez tenhamos tempo para ensaiar. Temos que fazer isso rápido”, completa, quase que mudando de ideia conforme o desenrolar de sua fala.
Novo álbum solo e Ghost
O Opeth é apenas um capítulo — extenso e relevante — na trajetória de Fredrik Åkesson, que se juntou à banda em maio de 2007, quando já estava com 34 anos, na vaga deixada por Peter Lindgren. Aos 19, em 1992, impressionou o saudoso baixista Marcel Jacob durante uma audição para entrar no Talisman, seu supergrupo que ainda trazia Jeff Scott Soto (Yngwie Malmsteen, futuro Journey, etc) nos vocais. Envolveu-se ainda com Arch Enemy, Shock Tilt, Southpaw e Clockwise antes de se juntar a Mikael Åkerfeldt e companhia.
Mesmo como membro do grupo, tocou com Ghost, Krux (projeto de Leif Edling que levou Åkesson àquela participação com o Candlemass no Brasil), John Norum, Biff Byford (cantor do Saxon, banda a quem o Candlemass substituiu no Monsters of Rock 2023), entre outros. Por isso, até demorou para que o guitarrista começasse a trabalhar em um álbum solo, mas chegou o momento. Sabe-se que o já mencionado Byford assumirá os vocais de uma das faixas.
Ainda não há data de lançamento e Åkesson confessa que não era nem para ele estar falando sobre isso. Mesmo assim, dá algumas informações:
“Não sei quem vazou isso para a imprensa; Mikael falou sobre isso em alguma entrevista, então um jornalista me perguntou e meio que espalhou. De toda forma, é difícil trabalhar nisso agora, porque fazemos muitas turnês com o Opeth, mas tenho algumas janelas de tempo. Preciso compor pelo menos outras seis músicas e tenho muitas ideias. Pelo menos três músicas estão prontas. Duas músicas estão mixadas e masterizadas. São instrumentais, com muitos e muitos solos de guitarra.”
Mesmo em um currículo tão extenso e pesado, ainda surpreende pensar que Åkesson é guitarrista de estúdio do Ghost. O projeto criado pelo vocalista e multi-instrumentista Tobias Forge era de fato uma banda no início, com integrantes recorrentes — e anônimos — nos álbuns e turnês. Todavia, no meio da última década, os demais músicos romperam com Forge e moveram um processo contra ele. O frontman, que enfim teve sua identidade revelada em documentos judiciais, passou então a contar com músicos distintos nas gravações e nas apresentações ao vivo. Fredrik é um deles.

O músico se envolveu com Impera, álbum de 2022; Phantomime, EP de covers de 2023; e Skeletá, disco a ser disponibilizado no próximo dia 25 de abril. A respeito do trabalho mais recente, Åkesson conta ter gravado sete músicas, inclusive os solos de seis delas. Ele comenta:
“Tobias está tocando mais um pouco de guitarra neste álbum. Acho que ele queria fazer isso porque tocou em todos os álbuns até Prequelle (2018, anterior a Impera), mas em Impera eu toquei praticamente todas as guitarras, tanto a principal quanto a rítmica. Muito trabalho. Fiquei no estúdio por 10 horas por dia durante seis semanas. E então fizemos Phantomime, o EP cover, que foi muito divertido. Já neste novo, só toco solos.”
E como é trabalhar com o misterioso Tobias Forge? “É ótimo e é diferente do Opeth, mas fico feliz por ser convidado”, responde inicialmente Fredrik, antes de emendar:
“Tobias é um grande amigo e eu o admiro como líder de banda e compositor. Ao estar em estúdio com ele, não consigo preparar nada. Tive que inventar tudo na hora e também produzir. Tobias pode ter algum tipo de desejo, como ‘você pode fazer esse tipo de melodia?’. Fazemos um ‘brainstorm’ até percebermos que temos um solo. Em Impera, ele trabalhava com outro produtor, então havia ideias diferentes surgindo. No EP, tive mais liberdade. Em Skeletá, também foi solto, embora eu não toque tanto como toquei no álbum anterior.”
*O Opeth se apresenta no festival Monsters of Rock, no Allianz Parque, em São Paulo, no dia 19 de abril. Dois dias depois, abre para o Savatage no Espaço Unimed, na mesma cidade. Ingressos estão à venda no site Eventim.
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