Os 25 melhores álbuns internacionais de 2025, segundo Rolling Stone Brasil
Um retrato da Rolling Stone Brasil sobre o ano em que artistas apostaram em discos ambiciosos e cheios de identidade; veja
Felipe Grutter, Gabriela Nangino, Giovana Laurelli, Henrique Nascimento, Igor Miranda, Kadu Soares e Pedro Hollanda
Em um cenário ainda dominado por singles virais e movimentos rápidos de consumo, o ano de 2025 se destacou justamente pela força de discos de estúdio pensados como obras inteiras, do art rock nervoso ao pop maximalista, do rap clássico à canção confessional.
Na eleição da Rolling Stone Brasil para os melhores álbuns internacionais de 2025, mais de 120 de lançamentos disputaram espaço em uma lista que atravessa gerações, cenas e geografias. Entre eles, Getting Killed, do Geese, canaliza energia caótica e ambição rock em um trabalho intenso. Já o retorno do Clipse em Let God Sort ’Em Out reafirma Pusha T e Malice como mestres do rap.
O pop aparece em escala monumental. Em Mayhem, Lady Gaga entrega um álbum de excessos calculados, drama e reinvenção, enquanto Rosalía transforma Lux em um exercício de sofisticação e ruptura, expandindo ainda mais seu vocabulário artístico. Bad Bunny, por sua vez, usa Debí Tirar Más Fotos para revisitar memórias, afetos e identidades latinas, resultando em um trabalho de alcance global.
O ano também foi marcado por trabalhos que apostaram na exposição emocional como força estética. Hayley Williams surpreende com Ego Death at a Bachelorette Party, disco direto e vulnerável, que soa como diário aberto. Já Florence and the Machine encontra em Everybody Scream transforma dor, fúria e transcendência em um espetáculo sonoro.
Escolher apenas alguns títulos entre tantos lançamentos relevantes foi um desafio à altura de um ano diverso e inventivo. Reunidos, esses discos mostram que 2025 produziu obras capazes de permanecer muito além do calendário de lançamentos semanais.
Abaixo, veja os 25 melhores álbuns internacionais de 2025, segundo Rolling Stone Brasil:
25º lugar: Everybody Scream, Florence and the Machine
Sexto álbum de estúdio de Florence and The Machine, Everybody Scream é uma experiência eletrizante. Ao longo de 12 faixas viscerais, Florence Welch utiliza a potência de sua voz para construir uma reflexão sobre a vida, a morte e a perda, abrindo as portas para uma fase mais pessoal de sua música. A produção combina elementos etéreos com arranjos densos e coros vocais, criando um som quase cinematográfico.
O trabalho nasceu após Welch sofrer uma gravidez ectópica e ruptura da trompa de Falópio, que exigiu uma cirurgia de emergência durante a turnê do álbum Dance Fever em 2023. A partir desse trauma, a cantora decidiu mergulhar em estudos sobre magia e misticismo. Essa busca por sentido se traduz na atmosfera sombria e ritualística do álbum: a arte serve como ferramenta de sobrevivência e aceitação, um gesto de reconstrução em meio ao caos.
“Everybody Scream abriu um portal para outro lugar. Era um lugar de verdadeira exploração, e abriu todos esses diferentes tentáculos de mim mesma”, contou a artista à Rolling Stone. “Eu estava procurando por formas de poder e me sentia muito primitiva. Foi muito repentino, muito violento, [e] salvou minha vida”. — Gabriela Nangino

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24º lugar: That’s Showbiz Baby!, Jade Thirlwall
Em 2021, quando Little Mix anunciou uma pausa após dez anos de carreira, a girlband não mentiu para os fãs: a ideia era “recarregar as baterias e trabalhar em alguns outros projetos”. Logo após maio de 2022, quando o grupo realizou o seu último show, os tais projetos começaram a surgir, com lançamentos de Leigh-Anne Pinnock e, meses depois, Perrie Edwards. Jade Thirlwall, no entanto, precisou de mais tempo: “[Little Mix] foi mais de uma década da minha vida, e foi tão importante para mim. Nada importou mais que o Little Mix, sempre veio primeiro”, confessou à Rolling Stone Brasil. “Realmente me consumiu, porque eu estava tão apaixonada pelo que éramos”.
Quando finalmente decidiu colocar o descanso no passado, voltou para a música com os dois pés no peito. Lançado em julho de 2024, “Angel of My Dreams” até poderia soar como algo do repertório de sua girlband, mas era apenas o prenúncio do que Jade era capaz de fazer no controle de sua própria obra. “Midnight Cowboy“, “Fantasy” e “It girl“, lançados na sequência, confirmaram isso, antes mesmo do lançamento de That’s Showbiz Baby!, em setembro, uma mistura caoticamente divertida, perfeita para a pista de dança — “Before You Break My Heart” não me deixa mentir —, mas também emocionalmente honesta e corajosa, que revela uma artista que, jogada aos leões ainda adolescente, não sucumbiu às malícias do show business, mas se aproveitou dele para chegar ao topo. — Henrique Nascimento

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23º lugar: Something Beautiful, Miley Cyrus
Após “Flowers” dominar 2023 e Endless Summer Vacation provar que Miley Cyrus sabe fazer hits quando quer, ela poderia ter continuado na zona de conforto do pop radiofônico. Mas Miley nunca foi de seguir roteiros. Com Something Beautiful, seu nono álbum lançado em maio de 2025, ela entrega seu trabalho mais ambicioso e polarizador, um disco conceitual sobre cura, trauma e beleza nos momentos mais sombrios, acompanhado de filme visual de 55 minutos.
Produzido com Shawn Everett e colaboradores como membros do Alvvays, War on Drugs, Flea, Danielle Haim e Pino Palladino, o álbum transita por pop progressivo, rock, disco, techno e baladas orquestrais. São 13 faixas que se recusam a entregar o single fácil. Miley comparou o projeto a The Wall, do Pink Floyd, e embora a comparação seja ambiciosa demais, a intenção fica clara. É disco que exige comprometimento, recompensando quem mergulha fundo, mas frustrando quem busca hits instantâneos.
“Something Beautiful” (a faixa-título) transita entre soul sensual e explosão dissonante — é como assistir Miley se desfazer e se reconstruir em tempo real. “End of the World” é disco-pop açucarado sobre distopia sexy, single que funcionou melhor no rádio. E “Easy Lover” traz aquele rock barulhento que contrasta perfeitamente com a voz rouca e danificada de Miley, resultado de sua decisão de não operar o pólipo nas cordas vocais. — Kadu Soares

22º lugar: Never Enough, Turnstile
Turnstile já havia rasgado uma série de regras do punk/hardcore com o aclamado Glow On (2021). Never Enough é uma continuação equilibrada do que foi feito pelo grupo quatro anos atrás — até as capas são parecidas —, mas agora, pela primeira vez, sem o guitarrista e membro fundador Brady Ebert, substituído pela também competente Meg Mills.
Enquanto o trabalho anterior soa mais ensolarado e curioso, Never Enough tem uma abordagem mais introspectiva em letras e saídas melódicas. Tal característica, porém, se disfarça pela roupagem repleta de menções à sonoridade da década de 1980 e paleta instrumental ainda mais ampla, com efeitos diversos, sintetizadores, guitarras com Floyd Rose e até metais.
Fato é que não dá para encaixar mais o Turnstile em um gênero musical, o que vai ao encontro da crença do vocalista Brendan Yates. “Hardcore talvez seja mais uma cultura e uma comunidade [do que um estilo com sonoridade fechada]”, diz à Rolling Stone. A charmosamente oitentista “I Care”, o groove irresistível de “Dreaming” e a insana “Birds” são alguns dos destaques. — Igor Miranda

21º lugar: Melt, Not For Radio
O primeiro projeto solo de María Zardoya é estética e sonoramente uma manhã nublada nas montanhas, com orvalho por todos os cantos. A vocalista da banda indie pop The Marías apresenta um álbum que, ao mesmo tempo que tematicamente muito parecido com outros projetos em banda, é muito mais autoral. Na banda, a voz doce e atmosfera gótica romântica de María está sempre presente, mas, como Not For Radio, é palpável a liberdade da cantora para tornar as músicas suas.
Cantando em inglês e espanhol, a maioria das canções de María falam sobre romance, mas de um jeito melancólico e muitas vezes nostálgico. Em suas faixas solo, ela ofereceu um vislumbre do seu próprio jeito de amar e da história de amor que viveu com Josh Conaway, baterista do The Marías. Em “Swan”, a cantora se compara com cisnes que procuram um parceiro para toda a vida. Já em “Puddles”, pensa nas memórias do antigo relacionamento como poças d’água, lindas e temporariamente em foco. O nome aderido em carreira solo, Not For Radio, já indica que as músicas não são tão animadas, pop e felizes como a maioria daquelas que ouvimos no carro. Mesmo assim, a melancolia orvalhada de Melt pode ser apreciada a qualquer momento, um álbum indie que comprova a potência lírica da artista. — Giovana Laurelli

20º lugar: Don’t Tap the Glass, Tyler, the Creator
Cansado das superproduções, personagens, eras meticulosamente pensadas e dos desabafos de Chromakopia (2024), Tyler, the Creator fez o impensável: lançou outro álbum. Anunciado apenas três dias antes do lançamento através de instalações de arte durante sua turnê mundial, Don’t Tap the Glass chegou em julho de 2025 como antítese de tudo que Tyler vinha fazendo. Sem conceito elaborado, sem narrativa cinematográfica, sem angústia existencial. Apenas 28 minutos, dez faixas, e um único comando: dance.
O disco é carta de amor ao house, techno, funk e Miami bass dos anos 80. Tyler abandonou a introspecção para criar festa de porão suada, iluminada por neon. É resposta direta à cultura de vigilância constante — ele percebeu que as pessoas pararam de dançar em público com medo de virar meme.
“Big Poe” abre estabelecendo as regras: movimento corporal obrigatório, sem bagagem emocional, não toque no vidro (leia-se vidro como celular). “Ring Ring Ring” e “Sugar on My Tongue” são os principais momentos pop, ambas com melodias grudentas que poderiam estar em Cherry Bomb ou Igor, mas agora com propósito de pista de dança.
É o álbum mais curto da discografia de Tyler e talvez o mais divertido desde os tempos de Odd Future. Não é revolucionário, mas também não precisa ser. Às vezes, fazer as pessoas dançarem já é revolução suficiente. — K.S.

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19º lugar: Tall Tales, Mark Pritchard & Thom Yorke
Cerca de 25 anos atrás, Thom Yorke se apaixonou por música eletrônica. O vocalista do Radiohead viu no gênero um futuro cheio de possibilidades, especialmente a de transcender clichês do rock. Isso influenciou não apenas o trabalho da sua banda mais famosa, como também a carreira solo.
Entretanto, nenhum trabalho do artista britânico pareceu ao longo dos anos ser capaz de deixar para trás a estrutura do rock completamente. Tall Tales, álbum feito em parceria com o produtor Mark Pritchard, é o mais próximo que Yorke talvez tenha chegado de realizar a possibilidade vislumbrada anos antes.
Gravado durante a pandemia, o disco encontra a dupla em modo de, basicamente, um desconstruir o que o outro consegue fazer. Pritchard, cabe destacar, é um dos nomes mais versáteis da música eletrônica, capaz de composições dançantes, industrial ou paisagens ambient. Dito isso, cada um estraçalha as contribuições do outro para criar algo alienígena, mas no fundo familiar.
O resultado é um álbum sonicamente experimental, no qual Thom Yorke ainda pode soar como ele mesmo, mas está claramente se divertindo, principalmente nas faixas “Back in the Game”, “This Conversation is Missing Your Voice” e “Bugging Out Again”. E isso é raro. — Pedro Hollanda

18º lugar: Baby, Dijon
Quatro anos após Absolutely (2021) estabelecer Dijon como talento geracional do R&B alternativo, Baby chega como confirmação. Lançado de surpresa em agosto de 2025 sem singles prévios, o segundo álbum foi feito em casa com a nova família do artista — sua parceira Joanie e o filho recém-nascido que dá nome ao projeto. É sobre a loucura da domesticidade: a alegria, o pânico, a devoção avassaladora que acompanha a paternidade.
Produzido por Andrew Sarlo e com participações de Mk.gee, BJ Burton e Tobias Jesso Jr., o disco é R&B experimental que flerta com glitch-pop, neo-soul e funk dos anos 80. As músicas são fragmentadas, caóticas, construídas como colagens sonoras onde samples de hip hop da era dourada coexistem com vocais manipulados e efeitos de reverberação que fazem você questionar se Dijon está na sala com você. É produção suja, emocional, impossível de replicar por IA.
“Baby!” abre como balada sedosa à la Prince que constantemente se desconstrói; a batida corta, volta, se transforma em outra coisa. “Another Baby!” acelera pro funk contagiante dos anos 80, com Dijon gritando literalmente sobre fazer mais bebês, e “Fire!” tem um piano terno interrompido por feedback, batida frenética, depois a capela gospel. Tudo em uma faixa.
Baby recebeu aclamação universal e é um disco que exige presença — ouvir enquanto faz outra coisa não funciona. Dijon criou algo visceral, doméstico e transcendente. — K.S.

17º lugar: The Clearing, Wolf Alice
Foi justamente em The Clearing, quarto álbum de estúdio, que Wolf Alice, liderada pela vocalista e guitarrista Ellie Rowsell, evoluiu em narrativa e sonoridade, flertando com o pop e o rock setentista. Completando uma década de estrada, o grupo agora aposta em uma energia mais melódica e menos rock’n’roll do que em trabalhos anteriores.
“Não é necessariamente uma reflexão sobre essa época entre [esse e o último álbum], mas sobre como nossas vidas mudaram nos últimos dez anos”, pontuou o baixista Theo Ellis em entrevista à Rolling Stone Brasil. “A performance é um grande tema deste álbum, e como crescer como performer, ser mais corajoso para fazer coisas, se sentir confortável para tentar”.
O disco também foi um espaço de experimentação: em “White Horses“, por exemplo, Joel Amey assume os vocais principais pela primeira vez. “Ellie é a pessoa mais generosa que você vai encontrar quando se trata de criatividade. É tudo sobre colaboração, sobre nos envolver”, elogiou Joel. O disco é repleto de emoção e, ao mesmo tempo, serenidade: para Theo, escutá-lo é como sentir “um respiro profundo”. — G.N.

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16º lugar: Music, Playboi Carti
Talvez o álbum de hip hop mais esperado em anos. Foram cinco anos por Music, que começou logo depois de Whole Lotta Red (2020). E quando finalmente chegou em março de 2025, trouxe 30 faixas, 77 minutos de duração, e uma das recepções mais polarizadas do ano. O álbum é tanto celebração quanto frustração — momento de genialidade seguido de mesmice, empolgação genuína ao lado de preguiça aparente.
Music abandona o vampirismo punk de WLR em favor do trap de Atlanta old school, com aquela vibe de mixtape do DatPiff dos anos 2010. Produzido por pesos-pesados como F1lthy, Metro Boomin, Kanye West e Cardo, o disco oscila entre batidas glitchadas e sinistras, sintetizadores de videogame e aquele chimbal incansável do sul.
“Pop Out” abre o álbum com energia elétrica, com baixo distorcido e vocal agressivo de Carti. “Mojo Jojo“, com Kendrick Lamar — uma baita surpresa aqui — é puro divertimento, os dois trocando ad-libs como se estivessem jogando pingue-pongue verbal. E “Rather Lie“, com The Weeknd, traz um pouco mais de calma — e toxicidade.
Music vai muito além do álbum, inspirou moda e estilo de vida em vários cantos do mundo e provou por que Carti diz que ele é a música. — K.S.

15º lugar: So Close To What, Tate McRae
Se Think Later (2023) foi o momento em que Tate McRae abraçou completamente o pop dançante dos anos 2000, So Close To What é a confirmação de que ela chegou para ficar. O terceiro álbum de estúdio da canadense de 22 anos vendeu 177 mil unidades na primeira semana — seu maior número até então — e consolidou sua posição ao lado de Sabrina Carpenter e Chappell Roan na nova geração de pop girls.
O álbum é sobre estar à beira de algo sem saber exatamente o quê. Produzido por Ryan Tedder e companhia, o disco revisita a estética Y2K de Britney Spears, Nelly Furtado e Christina Aguilera, com 21 faixas na versão deluxe que transitam entre ostentação sexy, vulnerabilidade calculada e a ansiedade de crescer sob os holofotes.
“2 Hands” é descarga de adrenalina pura, com bateria frenética e sirenes que escalam até Tate praticamente implorar por intimidade. “It’s OK I’m OK” virou hino de superação falsa — repetir que está bem até convencer a si mesma. E “Purple Lace Bra” é o momento mais corajoso: crítica afiada à objetificação feminina disfarçada de faixa sexy, onde ela canta sobre como dar prazer é o único momento em que é levada a sério. — K.S.

14º lugar: Ego Death at a Bachelorette Party, Hayley Williams
Lançado de maneira quase acidental — primeiro escondido em um player retrô no site da artista e depois revelado durante uma despedida de solteira — Ego Death at a Bachelorette Party contrasta uma tracklist despretensiosa com um conteúdo extremamente coeso. No trabalho mais centrado de Hayley Williams fora do Paramore, a cantora soa leve, confiante e aberta, costurando referências que vão do pop sofisticado ao R&B de grupos como TLC. As canções revisitam feridas emocionais e escolhas mal resolvidas, como no desabafo cru de “Parachute”, mas nunca ficam presas ao passado. O disco aponta para frente, com Williams se libertando do peso antigo e encarando um futuro amplo e em aberto. — Felipe Grutter

13º lugar: Moisturizer, Wet Leg
Formado por Rhian Teasdale, Hester Chambers, Henry Holmes, Josh Mobaraki e Ellis Durand, Wet Leg saiu do anonimato em 2021 direto para o centro do indie rock global. Agora, no segundo álbum, a banda mostra que o sucesso só ampliou seu apetite por caos, diversão e irreverência. Moisturizer aposta em músicas diretas, rápidas e cheias de atitude, alternando entre delírios pop exaustos e ataques de raiva pós-romance. As letras seguem afiadas, debochadas e sem filtro, enquanto os refrões grudam com facilidade. Não é o auge do grupo, mas mostra todo potencial dos integrantes. — F.G.

12º lugar: West End Girl, Lily Allen
Um dos lançamentos mais surpreendentes de 2025, West End Girl é um retrato brutal do término conturbado do relacionamento de Lily Allen e David Harbour, astro de Stranger Things. Após sete anos afastada da música e um ano de divórcio, a cantora britânica ressurge em um momento de vulnerabilidade total: são 14 faixas que mesclam beats eletrônicos, pop frenético e honestidade lírica. Allen transforma a dor, a solidão e a raiva da infidelidade em matéria-prima criativa, canalizando anos de sofrimento com humor ácido e muito sarcasmo.
Enquanto alguns compositores podem optar por insinuações discretas, Allen detalhou sem amarras questões da sua vida sexual, de sua luta com a sobriedade e de seus problemas com rejeição e abandono. West End Girl é como uma conversa íntima com o ouvinte, e a identificação é sua arma mais potente.
Uma preocupação da artista no processo criativo foi não se colocar na posição de vítima, mas tomar as rédeas da narrativa de sua vida. “Eu sempre dizia: ‘Temos que mudar essa fala. Ela soa muito coitada de mim.’ Eu queria que soasse trágico, mas também empoderador, que houvesse alegria em poder expressar isso”, disse em entrevista ao The Sunday Times. — G.N.

11º lugar: Man’s Best Friend, Sabrina Carpenter
Indicado a seis categorias na 68ª edição dos Grammy Awards, o sétimo disco de estúdio de Sabrina Carpenter é a chegada oficial da artista ao estrelato. Presente no mundo da música desde 2012 com um cover de “I’ll Be Home For Christmas” e lançando seu primeiro álbum de estúdio em 2015, Eyes Wide Open, finalmente é a vez de Carpenter brilhar. A artista surgiu de onde tantos talentos da música pop surgiram na última década: Disney Channel. Seu papel como Maya Hart fez parte da infância e adolescência de jovens fãs, mas Sabrina ainda não era um nome popular.
“Nonsense”, hit do álbum Emails I Can’t Send (2022), foi um primeiro vislumbre da fama, mas “Espresso” rendeu o Grammy de Melhor Performance Solo de Pop e confirmou a artista como um dos grandes nomes do pop americano. Man’s Best Friend era a chance da artista comprovar a teoria, e a sonoridade country, pop e disco agradou a legião já fiel de fãs, além de agregar quem ainda não conhecia a massa de apaixonados por Carpenter.
Quase uma comediante, Sabrina escreve suas letras para rir de amores e noites de bebedeira que não deram certo (“Go Go Juice“), satirizar o tipo de homem com quem se envolve (“Manchild”) e até desejar agorafobia para ex namorados (“Never Getting Laid”). Um álbum verdadeiramente divertido, o ritmo alegre acompanha as palavras de uma jovem mulher que não tem medo de se apaixonar, sofrer, falar de seus desejos ou de sua sexualidade. Indo contra as expectativas para uma garota americana perfeita, Carpenter admite que deseja (“Tears”) e que quer ser desejada (“My Man on Willpower”), tratando sua sexualidade com a mesma liberdade de Madonna e Cher. Atrevida, delicada, sensual e divertida, Sabrina veio para ficar. — G.L.

10º lugar: Addison, Addison Rae
Com quase 90 milhões de seguidores no TikTok e mais de 30 milhões no Instagram, Addison Rae ganhou fama como uma das maiores influenciadoras digitais de sua geração. Apesar das críticas que marcaram o início de sua carreira musical, Rae alcançou um ponto de virada com seu álbum de estreia autointitulado, comprovando plena capacidade artística.
Marcado por refrões chiclete e uma estética meticulosamente calculada, o disco esbanja sensualidade, diversão e autoconfiança. Addison revela um projeto coeso e conectado com o espírito da Geração Z: são 12 faixas de pop dançante que flertam com a eletrônica e outros toques experimentais — remetendo à sua colaboração com Charli xcx no remix de “Von Dutch“, lançado em 2024.
“Charli foi como uma irmã mais velha e mentora. Ela me ensinou a confiar nas minhas ideias e seguir minha intuição”, contou Rae em entrevista à Rolling Stone. “Sempre soube que queria mais do que apenas as redes sociais. Estou aprendendo a transformar sonhos em realidade”.
Mesmo nas (poucas) canções de amor do disco, a cantora ainda se coloca como protagonista de sua própria narrativa — e a busca por uma identidade autêntica é, afinal, a assinatura de Rae na música. Em novembro, ela foi indicada a Melhor Artista Revelação no Grammy 2026. Talvez essa fosse a última coisa que a internet poderia prever há cinco anos. — G.N.

9º lugar: Eusexua, FKA Twigs
Em um dos discos mais inusitados de 2025, FKA Twigs explora o universo club, que ficou em alta após Charli xcx brilhar com Brat e suas infinitas variantes. Eusexua une techno pulsante, house minimalista e texturas industriais duras, criando uma experiência sensorial que a própria artista descreveu como capaz de levar alguém além do corpo físico. É nos momentos mais desafiadores que o disco encontra sua força, soando menos como um produto pensado para playlists e mais como um projeto concebido para ecoar em pistas de dança ao redor do mundo, em uma narrativa que gira em torno de movimento, desejo e metamorfose. — F.G.
- Destaques: “Childlike Things”, “Eusexua” e “Striptease”.

8º lugar: The Art of Loving, Olivia Dean
Assim como Gal Costa em “Dê um Rolê”, Olivia Dean é amor da cabeça aos pés. O segundo álbum de estúdio da cantora britânica levou ao estrelato uma nova musa do neo-soul e do pop. Com o mesmo carisma das ídolas do Motown e leveza instrumental da bossa nova, é possível literalmente ouvir o sorriso estampado no rosto de Dean ao ouvir sua voz, e é impossível não sorrir junto. Também é muito difícil não se apaixonar pela forma que Dean canta sobre o amor, com um timbre aveludado e intenso que preenche o ambiente.
Com seu vibrato delicado e harmonias melódicas, a cantora aborda diferentes tipos de amor em suas letras. “Man I Need” e “Nice to Each Other”, populares nas redes sociais, tem um ritmo contagiante e um retrato do amor romântico. Em “Baby Steps”, o tema é o amor-próprio que precisa ser aprendido aos poucos, um passo de cada vez. Já “So Easy (To Fall in Love)” exemplifica bem o amor que exala de Dean, que já se tornou um ícone fashion com seus vestidos e silhuetas românticas.
Mesmo com tantos hits sobre as borboletas no estômago, Dean não deixa o público esquecer sobre sua potência vocal nas canções mais melancólicas. Gravada em um único take no dia da gravação orquestral, “Loud” já se configura como uma audição para a saga de James Bond. Em cada arranjo do álbum é possível compreender que Dean tem uma ampla gama de referências, o que torna a experiência de ouvir ao projeto não apenas uma aula sobre a arte do amor, mas também da música. A cantora estudou música na conceituada BRIT School, casa que formou ícones como Amy Winehouse, Adele e Raye. A formação de peso é palpável na sonoridade do álbum, que contém jazz, pop, Motown, soul e bossa nova misturados à perfeição. The Art of Loving te faz sorrir, chorar, dançar, e, principalmente, te lembra que todos somos capazes de espalhar amor por onde passamos. — G.L.

7º lugar: Getting Killed, Geese
Muitos nem se deram conta de que Getting Killed é, na verdade, o terceiro álbum do Geese. A banda americana indie/art rock foi largamente ignorada com seu trabalho de estreia, Projector (2021), e experimentou sem deixar de soar comum em 3D Country (2023), embora este traga o renomado James Ford (Arctic Monkeys, Florence and the Machine) na produção. Comercialmente, porém, o disco lançado neste ano foi o responsável por expor o antes quinteto, agora quarteto, ao mainstream.
Culpa, parcialmente, de Kenny Beats. Oriundo do hip hop, mas versado no indie contemporâneo, o produtor adotou uma abordagem menos perfeccionista e fez uma filtragem do esparso repertório após, curiosamente, ouvir o recente trabalho solo de Cameron Winter, Heavy Metal (2024). Só ali ele conseguiu entender a dinâmica criativa do vocalista e de seu grupo.
Ainda assim, Getting Killed é desafiador e desengonçado. Causa estranheza na primeira audição. Todavia, também provoca curiosidade — e premia os insistentes. Por tudo isso, fica difícil pontuar destaques, mas as melodias grudentas de “Cobra” e “Au Pays du Cocaine”, as batidas envolventes da faixa-título e o hino alternativo “Taxes” merecem menções. — I.M.

6º lugar: Virgin, Lorde
Quatro anos após seu último projeto, Solar Power, Lorde lançou Virgin, o álbum mais íntimo de sua carreira. Aqui, a artista mergulha com franqueza em experiências que moldaram seu amadurecimento ao longo da vida adulta — desde relacionamentos amorosos, busca por identidade, expressão de gênero, uso de drogas, transtornos alimentares e traumas com a família. Nada é tratado de forma decorativa: cada letra ecoa com urgência e sem rodeios.
Sob os holofotes desde os 16 anos, Lorde ocupou um lugar singular na história do pop alternativo. Agora, ela aposta em sonoridades mais experimentais, mesclando eletrônica minimalista, silêncios calculados e sintetizadores que soam, muitas vezes, desconfortáveis. A produção crua e o visual polêmico — na capa, uma radiografia pélvica com DIU — são elementos tão vulneráveis quanto as metáforas contidas nas faixas.
“Muita gente vai achar que eu não sou mais uma boa menina, uma boa mulher. Acabou. Vai acabar para muita gente, e então, para outras pessoas, eu finalmente terei chegado. Vou estar onde sempre esperaram que eu estivesse”, afirmou à Rolling Stone.
A declaração sintetiza o espírito de Virgin: um rompimento de Lorde com expectativas externas e uma recusa em continuar performando versões palatáveis de si mesma. O disco convida o ouvinte a atravessar uma dimensão introspectiva, traduzindo de forma visceral as angústias, contradições e descobertas de uma juventude que cresceu ao lado de sua música. — G.N.

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5º lugar: Private Music, Deftones
Enquanto o mundo da música pesada caminha em direção à nostalgia, Deftones se mostra um raro nome a olhar para presente e futuro. Pudera: com apreço crescente em meio à Geração Z, o grupo ex-nu metal formado por Chino Moreno (voz), Stephen Carpenter (guitarra), Abe Cunningham (bateria) e Frank Delgado (teclados e DJ) soa mais relevante do que no auge da fama, na virada do século. Maturidade é a palavra-chave.
Talvez por isso Private Music tenha levado cinco anos para sair. O décimo álbum do quarteto, atualmente reforçado pelo baixista Fred Sablan, foi costurado de modo cuidadoso em um processo de composição espaçado, no qual as canções eram deixadas “marinando”, segundo Cunningham relata à Rolling Stone Brasil.
Com uma polida produção de Nick Raskulinecz e dose extra de energia, Private Music oferece tudo o que fez do Deftones um nome influente no metalcore, blackgaze e até no indie: camadas de guitarra, melodias atmosféricas, bateria insana e os vocais versáteis de Chino Moreno, que salta da delicadeza à agressividade em um estalar de dedos. Destacam-se a hipnótica “Milk of the Madonna”, a afável “Infinite Source” e a quase épica “Souvenir”. — I.M.

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4º lugar: Let God Sort ‘Em Out, Clipse
O retorno do Clipse, duo formado pelos irmãos Malice e Pusha T, em 2025, com Let God Sort ‘Em Out, entrou para a história do rap nos Estados Unidos. No início dos anos 2000, eles se destacaram no hip hop por um nível de precisão e exigência que poucos alcançavam. Agora, os artistas retornam sem perder o status de mestres da frieza verbal e do domínio narrativo. Nas 13 faixas, eles falam sobre o luto pela mãe (“The Birds Don’t Sing”), fazem uma parceria refinada com Tyler, the Creator (“P.O.V.”) e discutem dinheiro e risco (“F.I.C.O.”). O álbum mantém um nível de excelência constante, provando que o Clipse ainda é referência. — F.G.
- Destaques: “P.O.V.”, “So Be It” e “The Birds Don’t Sing”.

3º lugar: Mayhem, Lady Gaga
O melhor de Lady Gaga surge como um diamante: sob pressão. Mas não se engane — ninguém cobra a artista mais do que ela mesma. E os anos não têm sido fáceis desde o lançamento do imbatível Born This Way (2011), que definiu a sua identidade como Mother Monster e a colocou entre as maiores artistas da música pop. Desde então, Gaga vem tentando superar o nível que ela mesma jogou nas alturas. Em duas ocasiões, ela tentou voltar ao pop eletrônico que a apresentou ao mundo em Artpop (2013) e Chromatica (2020), aventurou-se no jazz ao lado de Tony Bennett, nos álbuns Cheek To Cheek (2014) e Love For Sale (2021); flertou com o country em Joanne (2016); e até desafiou os limites da própria arte com Harlequin (2024). Porém, o reencontro com a sua melhor fase veio apenas agora, em 2025, com Mayhem.
Lead singles da nova era, “Disease” e “Abracadabra” são grandes exemplos do retorno definitivo da Mother Monster. Mas Mayhem é, na verdade, uma dualidade. Ao mesmo tempo em que abraça o lado sombrio de Gaga, que conquistou tantos fãs, explora também o seu lado mais afetuoso. Ela reflete o bom momento pessoal vivido com o noivo, Michael Polansky, retratado em hits apaixonados, como “Vanish Into You” e “How Bad Do U Want Me“. — H.N.

2º lugar: Lux, Rosalía
Após o sucesso global de Motomami (2022), Rosalía poderia ter continuado surfando a onda do reggaeton experimental e da música eletrônica. Mas a artista catalã nunca foi de seguir caminhos previsíveis. Com Lux, seu quarto álbum de estúdio, ela faz a escolha mais ousada de sua carreira: substituir batidas eletrônicas pela grandiosidade da London Symphony Orchestra e mergulhar em um projeto conceitual sobre santos e misticismo feminino.
O álbum é uma odisseia espiritual dividida em quatro movimentos, com 18 faixas cantadas em 14 idiomas diferentes — incluindo italiano, árabe, português, ucraniano e latim. Rosalía passou três anos pesquisando as vidas de santas como Hildegard of Bingen, Rabia Al-Adawiya e Miriam, criando um disco sobre a relação entre a feminilidade e o divino, entre o amor terreno e o amor a Deus. É pop vanguardista em sua forma mais ambiciosa, um álbum que demanda atenção total e recompensa a paciência.
“Berghain“, com Björk e Yves Tumor, são quatro minutos de caos orquestral onde a rainha do art-pop abençoa sua sucessora. “La Perla” é vingança pura sobre um ex infiel, transformada em valsa teatral repleta de drags devastadores. E “Sexo, Violencia y Llantas” abre o álbum estabelecendo o tema central: como viver entre amar o mundo e amar a Deus?
Lux não foi feito para TikTok ou playlists rápidas. É antídoto contra a cultura da dopamina instantânea, um disco que exige comprometimento, mas entrega transcendência. Aqui, Rosalía provou que pop pode ser arte, que ambição pode ser recompensada, e que às vezes o caminho mais arriscado é o único que vale a pena seguir. — K.S.

1º lugar: Debí Tirar Más Fotos, Bad Bunny
O melhor e mais influente álbum internacional do ano se fomentou como uma coletânea de faixas sobre memória, resistência, amor, perda e pertencimento. O sexto disco de estúdio de Benito Antonio Martinez Ocasio, o Bad Bunny, é resumidamente sobre sua terra natal, Porto Rico. Mais do músicas sobre o amor imenso que Benito sente por lá, as faixas das canções relembram o ouvinte da colonização e opressão que persiste fora do eixo Europa-Estados Unidos, e contém emoções e vivências que unem a América Latina de formas inexplicáveis.
A capa do álbum já é o primeiro indício da caga emocional e política do disco para a comunidade latina, com duas cadeiras simples de plástico expostas, solitárias, em frente a uma bananeira. Para os ouvintes latinos, a imagem é quase memória muscular, já que remete ao senso de comunidade compartilhado no continente. A imagem poderia ser tanto de uma festa na infância quanto do jardim de um vizinho. A resistência porto-riquenha do artista não é só temática e lírica, mas sonora. Misturando reggaeton, cumbia, dembow, salsa, plena e vertentes do pop e da música eletrônica, Bad Bunny desenvolve um estilo próprio, uma celebração de todos os gêneros que cresceu ouvindo e agora leva ao mundo.
A sensação de conforto, nostalgia e de “estar em casa” é justaposta com a constante lembrança daqueles que sofrem com os efeitos destrutivos da hegemonia norte-americana. Em “Lo Que Le Pasó a Hawaii”, história e luto se misturam para relembrar o destino do Havaí, uma população nativa que hoje foi extirpada de sua cultura e é hoje um estado americano. Porto Rico é central nessa conversa, com o sapo coquí sendo um dos vários símbolos de resistência. O vídeo de 13 minutos da faixa título (“Dtmf”), que liricamente aborda a importância do acervo fotográfico na memória de um povo, conta com um anfíbio (animado) da espécie nativa da ilha como uma representação do apagamento enfrentado pela população porto-riquenha. A espécie em extinção é amada e respeitada por locais, mas tem sua vida ameaçada por turistas, que se irritam com a canção característica dos bichinhos e matam a espécie.
Benito, que será o ato do intervalo do próximo Super Bowl (evento mais importante do futebol americano), compromete-se em cantar sempre em espanhol e enfrentar quem for preciso — inclusive o Donald Trump ,presidente dos EUA — para proteger e apoiar a população latina no país. Em Debí Tirar Más Fotos, Bad Bunny conseguiu o trabalho ímpar de relembrar a população latina, que vive em seu país de origem ou não, de que nosso jeito de sentir, de lembrar, de comemorar, de sofrer e de amar é único e é lindo, e deve ser preservado à todos os custos. — G.L.

*Votaram: Ademir Correa, Amanda Oestreich, Daniela Swidrak, Felipe Fiuza, Felipe Grutter, Fernanda Soares, Gabriela Nangino, Giovana Laurelli, Guilherme Gonçalves, Henrique Nascimento, Igor Miranda, Kadu Soares, Luan Bertolini, Pablo Miyazawa e Pedro Hollanda