DISCOGRAFIA

Os 4 discos de Lorde e as histórias por trás de cada um

De Pure Heroine a Virgin, a artista navegou entre diferentes estilos e se consolida como uma das maiores vozes femininas contemporâneas

Gabriela Nangino (@gabinangino)

Lorde (Foto: Stephane Cardinale/Getty Images)

Nesta sexta-feira, 7 de novembro, a cantora e compositora Lorde completa 29 anos. Nascida em Takapuna, Nova Zelândia, Ella Yelich-O’Connor cresceu em Devonport, um subúrbio de Auckland. Ella começou a escrever canções na adolescência, e chamou atenção por sua maturidade artística: aos 16 anos, sob o nome artístico Lorde, lançou seu primeiro álbum, redefinindo o que se esperava de uma jovem estrela pop.

Os ouvintes da artista cresceram com ela — desde o retrato de adolescente confusa em Pure Heroine (2013), passando pela intensidade emocional em Melodrama (2017) à serenidade de Solar Power (2021), até chegar à vulnerabilidade experimental de Virgin (2025).

Ao longo de sua carreira, Lorde se consolidou como uma das vozes mais autênticas e sensíveis de sua geração, transformando experiências pessoais em discos de forte identidade estética e narrativa. Cada álbum marca não apenas uma fase de sua vida, mas também um diálogo com o tempo, o amor e o próprio ato de crescer sob o olhar do público. A seguir, a Rolling Stone Brasil resgatou os destaques e significados da sua discografia.

Pure Heroine

Reprodução/Amazon
Pure Heroine (Foto: Reprodução/Amazon)

O álbum de estreia de Lorde é, em poucas palavras, um verdadeiro ode à adolescência. A cantora dá destaque aos sentimentos de liberdade e angústia — que entram em conflito quando se vê como um ser independente num mundo cheio de possibilidades.

Pure Heroine tem uma produção minimalista, e mistura pop com influências da música eletrônica e do indie. “Eu queria ser acessível para as pessoas da minha idade, fazer o mesmo que os artistas independentes que eu admiro fazem”, contou a cantora ao O Globo na época. “Quis que a capa do disco lembrasse a de um livro. E você não vê fotos dos autores na capa dos livros, né?”

Lorde se tornou a mais jovem artista a conquistar o primeiro lugar da Billboard Hot 100 dos EUA e foi eleita a jovem mais influente do mundo pela revista norte-americana Time. Na época, ela ainda foi nomeada “Mulher do Ano” pela MTV. “Esse álbum, para mim, é justamente aquela mistura de força e ingenuidade que você tem aos 15 anos”, contou posteriormente à Apple Music.

Melodrama

Lorde - Melodrama
Melodrama (Foto: Reprodução)

Quatro anos depois, em 2017, Lorde lançou “Green Light”, primeiro single de seu segundo disco. Melodrama é o retrato tumultuoso de uma mulher de 19 anos, que, desiludida com o amor, se entrega aos prazeres supérfluos da vida — mas não consegue abandonar a melancolia e a profundidade de suas emoções, mesmo nos momentos mais eufóricos.

Este é o primeiro passo da cantora na vida adulta: a sonoridade do álbum é um pouco mais sóbria do que Pure Heroine, mas ainda escancara muitas referências do electropop.

Melodrama foi um dos álbuns mais aclamados pela crítica em 2017. Em entrevista ao The Guardian, Lorde contou que considera um milagre que o disco tenha sido feito – ela e Jack Antonoff, ambos “jovens e sem noção”, demoraram dois anos para produzi-lo. O disco é poético e niilista ao mesmo tempo; o ouvinte pode se perder no fundo do poço com Lorde, mas retorna à superfície para uma noite inesquecível alguns minutos depois.

Segundo a própria cantora, o álbum usa o conceito de uma festa para explorar as complexidades da vida adulta. Ela descreveu o disco como um “teatro de sentimentos extremos” que misturam realidade e delírio. Apesar de não atingir o mesmo sucesso comercial de Pure Heroine, Lorde afirmou não se importar: “Se você está aqui pelo desempenho comercial do meu trabalho, ficará cada vez mais desiludido.”

Solar Power

Capa de Solar Power, novo disco de Lorde (Foto: Reprodução/Instagram/@lorde)
Solar Power (Foto: Reprodução/Instagram/@lorde)

Mantendo o intervalo de quatro anos, o terceiro disco de estúdio de Lorde, intitulado Solar Power, chegou às plataformas digitais em 2021, muito mais intimista que o antecessor. A artista fugiu da estética densa e das batidas fortes dos seus primeiros anos de carreira e apostou no uso de instrumentos acústicos para construir uma atmosfera mais leve, que remete ao folk-pop.

Ao mesmo tempo, as letras das canções são reflexivas e introspectivas, ressoando com o período da pandemia de Covid-19. Pela primeira vez, Lorde colaborou com outros artistas: Phoebe Bridgers e Clairo fizeram os vocais de fundo para seis faixas do disco. “Eu amo demais essas garotas. Nunca tive outras vozes nas minhas músicas. Esta é a primeira vez que tem pessoas cantando comigo”, disse à Pitchfork.

Uma grande inspiração para o álbum foi uma viagem que Lorde fez para a Antártida. “É tanto terror quanto beleza. Você não se sente acolhido pelo mundo natural – eu me senti completamente como uma intrusa”, disse ao The Guardian. “Era pleno verão na Nova Zelândia. Ir da praia e do bronzeado para esse ambiente hostil e frio, e depois voltar para a praia, essa mudança brusca, ajudou a criar o clima para começar a escrever”.

A artista comentou que a conexão com a natureza e o afastamento do mundo digital foram fundamentais para sua produção. “Acho que essa foi parte da razão pela qual me afastei de consumir a internet de forma tão constante – eu queria descobrir o que faria quando não estivesse sintonizada no que todos os outros estavam fazendo”, disse. “Sinto que agora consigo ver meu mundo e a mim mesma com muito mais clareza.”

Virgin

Capa do álbum "Virgin" de Lorde - IMPRENSA
Virgin (Foto: Reprodução)

Já em 2025, Lorde surpreendeu os fãs com Virgin. O disco aposta em sonoridades mais experimentais, que desfazem a paz espiritual proposta por Solar Power. Este é provavelmente seu álbum mais íntimo até hoje, porque ela elabora experiências que marcaram seu amadurecimento na vida adulta, desde sexo e uso de drogas até transtornos alimentares e traumas com a família.

À Rolling Stone EUA, ela disse: “Muita gente vai achar que eu não sou mais uma boa menina, uma boa mulher. Acabou. Vai acabar para muita gente, e então, para outras pessoas, eu finalmente vou ter chegado. Vou estar onde sempre esperaram que eu estivesse”. A artista aposta num visual polêmico — na capa, uma radiografia pélvica com DIU —, e tão vulnerável quanto as metáforas contidas nas faixas.

Virgin transcende o ouvinte para uma dimensão introspectiva, refletindo de forma visceral a juventude de uma geração que cresceu ao lado do som de Lorde. “Eu estava realmente tentando fazer um álbum que não se baseasse na instrumentação, na linguagem, no sentimento”, disse em entrevista ao programa triple j Mornings. “Já fiz trabalhos no passado que dramatizavam a questão, exagerando nas cores e no estilo. Mas com este, senti que havia algo muito… simples e verdadeiro que precisava vir à tona, algo puro.”

Em entrevista à Variety, a cantora disse que não pretende repetir o longo intervalo entre seus últimos álbuns, e que novas músicas podem chegar em breve. “Definitivamente, estou me sentindo muito ativa e não preciso de uma pausa na criatividade. Estou meio insaciável, para ser sincera. Já lancei o desafio de que não serão quatro anos [de novo], então preciso me manter firme nisso”, contou.

+++ LEIA MAIS: As 13 músicas mais essenciais de Lorde, segundo Rolling Stone

Jornalista em formação pela Universidade de São Paulo, Gabriela é mineira e apaixonada por arte e cultura. Ela também já foi dançarina e seu principal hobbie é conhecer todos os cinemas de rua de SP. Foi estagiária no Jornal da USP e, na Rolling Stone Brasil, fala sobre música, filmes e séries.
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