Os melhores discos de rock de 2024 segundo crítico da Rolling Stone Brasil
Jornalista apresenta top 10 pessoal com álbuns favoritos do ano além de outros 20 trabalhos que chamaram atenção e playlist com destaques
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 24/12/2024, às 13h37Igor Miranda, jornalista da Rolling Stone Brasil, apresenta lista com os 10 melhores discos de rock de 2024 em sua opinião. O levantamento se restringe apenas ao gênero musical mencionado.
Trata-se de um ranking pessoal, orientado apenas pelo gosto de quem a redigiu. Recomenda-se que o artigo seja utilizado para conhecer bandas diferentes ou revisitar álbuns que passaram batido nos últimos meses.
Além do top 10 pessoal, há indicações de outros 20 bons discos de rock lançados em 2024. Uma playlist no Spotify com destaques do ano também está disponível abaixo ou clicando aqui.
Primeiro, o top 10:
10. Judas Priest — Invincible Shield (heavy metal)
Clique aqui para ouvir no Spotify | Os reis do heavy metal vão muito bem, obrigado. Décimo nono álbum lançado pela banda inglesa, Invincible Shield mantém a qualidade apresentada em Firepower (2018) e espanta em definitivo a zica de antecessores divisivos. Em relação ao disco de seis anos atrás, traz faixas mais longas na média — nada progressivo, porém — e soa um pouquinho menos “heavy metal tradicional”, com momentos de tempero hard rock que chegam a referenciar os trabalhos dos anos 1970.
9. DeWolff — Muscle Shoals (blues / southern rock)
Clique aqui para ouvir no Spotify | O nome é sugestivo: em seu novo álbum, o trio neerlandês de blues/psychedelic rock deixa claro ter gravado o material no lendário estúdio Muscle Shoals — e o “vizinho” Fame —, por onde passaram Rolling Stones, Lynyrd Skynyrd, Aretha Franklin, Wilson Pickett e Duane Allman. O som obtido é um perfeito retrato da influência dos artistas mencionados. A psicodelia de outros trabalhos ficou de lado para que se explorasse o lado mais clássico do rock, com um rico tempero southern soul.
8. King Gizzard & the Lizard Wizard — Flight b741 (neste álbum, blues / country rock)
Clique aqui para ouvir no Spotify | Extra, extra! Alerta de crise! O King Gizzard & the Lizard Wizard só lançou um álbum em 2024! Brincadeira à parte, o extremamente produtivo e inrotulável grupo australiano mostrou — de novo — em Flight b741 por que é uma das melhores coisas do rock atual. Após terem flertado — só nos últimos anos — com electropop, thrash metal, pop/rock psicodélico e jazz fusion, eles simplesmente resolveram oferecer um álbum de blues/country rock. E soou fantástico como de costume. Há, curiosamente, um ingrediente adicional desta vez: foram raras as vezes em que a banda conseguiu soar tão coletiva como neste registro.
7. The Warning — Keep Me Fed (hard / alternative rock)
Clique aqui para ouvir no Spotify | Error (2022) dava sinais, mas Keep Me Fed confirma que The Warning tem tudo para se tornar o próximo fenômeno global do rock. O trio mexicano formado pelas irmãs Villarreal Vélez consegue fundir identidade própria a um conjunto de composições palatáveis, desenvolvidas dentro do que se chama de “hard rock alternativo”. É ao mesmo tempo afável e pesado (especialmente pelo trabalho de guitarra da frontwoman Daniela), contemporâneo e de formatação clássica. Quase todo o tracklist tem perfil de hit de rádio rock. Parece só faltar uma canção puramente hit para tornar real a projeção feita na primeira frase deste texto.
6. The Black Crowes — Happiness Bastards (classic / blues rock)
Clique aqui para ouvir no Spotify| Melhor do que uma treta familiar, só o fim dela. Ainda em 2019 o Black Crowes confirmou uma reunião, quatro anos após o anúncio de um conflituoso hiato. Chris e Rich Robinson se reuniram — infelizmente, sem o talentoso baterista Steve Gorman — e rodaram o mundo com uma turnê que celebrou os 30 anos da estreia Shake Your Money Maker. Seja pelo grupo americano de blues/southern rock nunca ter sido inovador, seja pelos últimos anos terem sido marcados por uma revisitação ao passado, só pode estar maluco o fã que esperava experimentações em Happiness Bastards. O primeiro álbum a nascer desse retorno é uma declaração de amor ao rock clássico e a tudo que inspirou seu nascimento/desenvolvimento: blues, country, gospel e soul music. Para o momento, não precisava de nada além.
5. Blues Pills — Birthday (classic / blues rock)
Clique aqui para ouvir no Spotify | Não era uma obrigação, mas o Blues Pills não conseguiu superar o formidável Holy Moly! (2020) em Birthday. Ainda assim, o quarto álbum de estúdio do grupo sueco revivalista classic/blues rock tem grandes méritos. Se falta consistência na produção pouco potente de Freddy Alexander — que gravou a banda “ao vivo em estúdio” —, há notório capricho nas composições, menos pesadas e mais ecléticas. Se não é o disco mais envolvente do quarteto, ao menos é aquele de paleta mais ampla.
4. Pearl Jam — Dark Matter (classic / alternative rock)
Clique aqui para ouvir no Spotify | Se o som da produção de Andrew Watt pode render críticas — normalmente justas —, não há como negar que o jovem profissional de estúdio tem o dom de auxiliar na escolha de repertório. Mais rocker, Dark Matter traz o Pearl Jam destinando olhares mais carinhosos às suas nem sempre orgulhosas raízes com um tracklist redondo, sem fillers, diferente de vários antecessores — incluindo Gigaton (2020). Brilham, sobretudo, as guitarras de Mike McCready e Stone Gossard, dois dos guitarristas mais subaproveitados da história do rock.
3. Corey Glover’s Universe — Corey Glover’s Universe (hard rock / heavy / groove metal)
Clique aqui para ouvir no Spotify | Não julgue um livro pela capa, nem um álbum pela arte de Paint que o estampa — caso do disco homônimo do projeto Corey Glover’s Universe. Enquanto o hiato criativo do Living Colour dura quase uma década, seu cantor segue se envolvendo com projetos paralelos, quase sempre com resultados acima da média. Neste grupo Universe, o vocalista — um dos melhores que o rock já nos deu em toda a sua história — se une ao guitarrista Mike Orlando (ex-Adrenaline Mob, Noturnall etc) para um trabalho formidavelmente pesado. É quase “heavy metal moderno”, seja pelo trabalho de Orlando (que de vez em quando passa do ponto na virtuose), seja pela cozinha que não abdica do groove. E como canta Glover…
2. Jack White — No Name (garage / blues rock)
Clique aqui para ouvir no Spotify | Cobra-se que os artistas sejam inventivos e surpreendentes o tempo todo, mas às vezes tudo o que precisa ser feito é atender aos anseios do público. No Name é o álbum que os fãs pedem de Jack White desde antes do fim do White Stripes. Tardou, mas não falhou: aqui, o cantor e multi-instrumentista dono de uma carreira solo relativamente experimental retoma sua fusão característica de garage rock e blues, com uma pitada de punk que se traduz mais na atitude (incluindo o lançamento surpresa) do que em elementos sonoros. Crueza irresistível, que apenas melhora composições boas por si só.
1. Hannah Wicklund — The Prize (classic rock)
Clique aqui para ouvir no Spotify | Com um álbum mais pessoal, profundo e maduro que sua estreia homônima de 2018 (com a banda de apoio The Steppin Stones), Hannah Wicklund conseguiu transcender — com sobras — o movimento revivalista de rock clássico do qual havia surgido. Se não completamente original, The Prize tem enorme frescor. Por vezes até distante das influências bluesy, a jovem americana passou a flertar um pouco mais com folk e soft rock ao mesmo tempo que oferece composições carregadas e, por que não, dramáticas. O trabalho de guitarra segue exemplar, mas pareceu ter existido maior preocupação com os vocais, magistrais por aqui.
Impressionam ainda as contribuições de dois integrantes do Greta Van Fleet, banda que surgiu sob a acusação copiar Led Zeppelin e se afundou ao tentar fazer algo próprio. Sam Kiszka assume produção, piano (instrumento decisivo para o resultado final) e baixo, enquanto Danny Wagner grava a bateria (que, aqui, não soa como imitação de John Bonham). Ambos mostraram que não são o problema do marasmo criativo do GVF.
Mais sugestões de discos de rock lançados em 2024
Além dos 10 melhores discos de 2024 em minha opinião, separei outras 20 sugestões de álbuns que podem agradar. Nesta seção, os trabalhos são mencionados em ordem alfabética dos nomes dos artistas. Não há comentários.
Black Pantera — Perpétuo (Brasil; hardcore / thrash / groove metal)
Blacktop Mojo — Pollen (hard rock)
Crobot — Obsidian (hard / stoner rock)
Deep Purple — =1 (classic / hard rock)
Gary Clark Jr — Jpeg Raw (blues rock / R&B)
Grace Bowers & the Hodge Podge — Wine on Venus (blues rock / funk / soul)
Hammerhead Blues — After the Storm (Brasil; hard / psychedelic rock)
Hurricanes — Back to the Basement (Brasil; blues rock)
Jerry Cantrell — I Want Blood (metal alternativo / grunge)
Joanne Shaw Taylor — Heavy Soul (blues rock / soul)
Kiko Loureiro — Theory of Mind (Brasil; metal instrumental)
Lenny Kravitz — Blue Electric Light (pop / rock)
Linkin Park — From Zero (metal alternativo / nu metal)
Lucifer — Lucifer V (hard / occult rock)
Marcus King — Mood Swings (blues rock / soul)
Mdou Moctar — Funeral for Justice (desert blues / rock)
Opeth — The Last Will and Testament (progressive / death metal)
Spektra — Hypnotized (Brasil; hard rock)
The Cold Stares — The Southern (blues / southern rock)
The Georgia Thunderbolts — Rise Above It All (southern rock)
Reforçando: uma playlist no Spotify com destaques do ano também está disponível abaixo ou clicando aqui.