FUTURO

Os Rolling Stones cancelaram sua turnê de 2026. E agora?

O futuro da maior banda de rock do mundo é incerto depois de eles terem cancelado mais uma turnê, mas ainda há muitas formas de os Stones continuarem ativos

ANDY GREENE

Mick Jagger e Keith Richards, dos Rolling Stones, em 2024
Mick Jagger e Keith Richards, dos Rolling Stones, em 2024 (Foto: Gary Miller / Getty Images)

Os fãs dos Rolling Stones receberam uma notícia bastante decepcionante no início desta semana, quando vazou a informação de que datas provisórias para uma turnê europeia em 2026 haviam sido canceladas. “É difícil para os fãs”, disse um porta-voz não identificado ao The Sun, “mas os Stones vão voltar ao palco quando estiverem prontos”.

Nenhum plano formal de turnê para 2026 havia sido anunciado, mas a excursão estava em preparação havia bastante tempo. O site de fãs IORR informou que um show em 25 de maio no Estádio Olímpico de Berlim estava previsto, junto com paradas em Lisboa, Roterdã e Munique. Fãs empolgados já começavam a pensar em arranjos de viagem quando o fundador do IORR, Bjornulf Vik, deu a má notícia. “Não há drama, nem questões graves relatadas”, escreveu ele. “É apenas que eles não estavam prontos para se comprometer com mais de três meses de ensaios e turnê no próximo verão europeu”.

Vários veículos de imprensa relataram que Keith Richards tomou a decisão final de cancelar a turnê. Não há indicação de que ele esteja lidando com qualquer problema de saúde, e ele parecia bastante disposto no mês passado quando apareceu em uma edição do Soho Sessions, em Nova York, para tocar com Mavis Staples e Norah Jones, mas, segundo relatos, ele simplesmente não está com vontade de sair em turnê por razões que ainda não articulou publicamente.

A notícia foi especialmente devastadora porque uma situação quase idêntica aconteceu no início deste ano, quando os Rolling Stones cancelaram uma turnê europeia em estádios em 2025 apenas alguns dias antes de ela ser anunciada. Àquela altura, um itinerário detalhado já havia vazado.

Isso não significa, no entanto, que a maior banda de rock do mundo tenha encerrado as atividades. Significa apenas que entramos em uma nova era em que o futuro deles é incerto. Aqui estão alguns cenários que podemos imaginar, segundo Rolling Stone — mas lembre-se: “You can’t always get what you want”.

Cenário 1: os Stones passam a se dedicar inteiramente a músicas novas

É o pior segredo guardado do rock que os Stones passaram 2024 trabalhando com o produtor Andrew Watt em um sucessor do LP Hackney Diamonds, de 2023. Nada foi anunciado oficialmente, mas o disco deve chegar em algum momento de 2026. Há apenas alguns anos, até mesmo um único álbum novo dos Stones parecia muito difícil de imaginar, já que a produção de estúdio da banda virou um fio de água depois de A Bigger Bang, de 2005. Ninguém apostaria que eles lançariam dois álbuns consecutivos a esta altura da carreira. Se os dias de turnê ficaram para trás, não há motivo para que eles simplesmente não continuem no estúdio. Hackney Diamonds foi muito melhor do que qualquer um poderia razoavelmente esperar. Por que não manter o ritmo?

Ponto positivo: a surpresa completamente inesperada de músicas inéditas de uma banda formada antes da Crise dos Mísseis de Cuba. E, se seguirem a fórmula de Hackney Diamonds, elas provavelmente serão excelentes.

Ponto negativo: os Stones são, indiscutivelmente, a maior banda ao vivo da história do rock. Um álbum vai parecer incompleto se não houver a chance de ouvir as novas músicas ao vivo.

Cenário 2: eles vão para a Sphere, em Las Vegas

Não sabemos por que Richards não está com vontade de sair em turnê, mas é possível que ele simplesmente não queira arrastar o corpo pela Europa por meses a fio. A Sphere, em Las Vegas, lhe dá a oportunidade de ficar em um só lugar, relaxar entre os shows e tocar no espaço de concertos mais inovador do planeta.

Ponto positivo: uma residência dos Rolling Stones na Sphere seria um grande evento cultural, que atrairia fãs do mundo todo, independentemente do preço dos ingressos. Muitos fãs fariam um segundo financiamento da casa só para ver esse show, especialmente se não houvesse outros.

Ponto negativo: deixemos de lado o fato de que a Sphere é fortemente ligada à Live Nation, enquanto os Stones costumam trabalhar com a AEG. Se ambas as partes quisessem que isso desse certo, aconteceria. Mas os Stones têm pouco motivo para isso. Artistas como U2, Dead and Co., Backstreet Boys e Eagles tocam noites consecutivas e concordam com mais de 40 shows cada. Essa é basicamente a única forma de o modelo de negócios da Sphere fazer sentido. Os Stones, porém, precisam de cerca de quatro dias de descanso entre os shows, e as turnês recentes tiveram algo em torno de 14 apresentações. Além disso, eles não são uma banda em que os visuais sejam o grande foco. A Sphere é um lugar incrível, mas não foi feita para os Stones.

Cenário 3: os Stones assumem o lugar de Billy Joel no Madison Square Garden

Billy Joel encerrou sua residência mensal no MSG no ano passado, após uma década de shows com ingressos esgotados. Foi um sucesso impressionante, que provou que grandes residências podem funcionar fora de Las Vegas. Os Stones seriam um substituto perfeito no calendário mensal do MSG — e isso não exigiria que eles criassem todos os visuais necessários para a Sphere.

Ponto positivo: Keith Richards passa boa parte do tempo em Connecticut, o que tornaria seu deslocamento mensal para o trabalho bastante fácil. Ele não precisaria passar um minuto sequer em um avião ou mesmo em um hotel. Dormiria na própria cama todas as noites. Em qualquer mês, teria cerca de 728 horas de lazer e duas horas de trabalho — e essas duas horas seriam muito, muito lucrativas.

Ponto negativo: um show de Billy Joel é muito diferente de um show dos Rolling Stones. Ele pode tirar vários intervalos, sentar ao piano e despejar aqueles hits com facilidade. Poderia fazer isso dormindo a essa altura. Os Stones precisam de semanas de ensaios intensos, e só depois de vários shows entram em um entrosamento realmente afiado. Eles não conseguem construir esse tipo de embalo e memória muscular tocando apenas uma vez por mês. Uma residência no MSG parece atraente, mas vai contra a natureza da banda.

Cenário 4: Mick Jagger segue carreira solo

Paul McCartney, Roger Waters, Stevie Nicks e John Fogerty continuam se saindo muito bem na estrada, mesmo com suas bandas icônicas já não existindo mais. Mick Jagger é a voz dos Rolling Stones. Ele está em forma impressionante para a idade que tem. Poderia facilmente sair em turnê simplesmente como “Mick Jagger” e lotar casas de show pelo mundo todo. Sim, a tentativa de fazer isso em 1988, com Joe Satriani na guitarra, não agradou muitos fãs. Mas isso aconteceu porque os Stones ainda estavam plenamente ativos naquela época, e Keith Richards foi abertamente desdenhoso de todo o projeto. Seria muito diferente se Richards estivesse essencialmente aposentado e a alternativa fosse isso ou nada.

Ponto positivo: ainda poderíamos ver Jagger cantar “Jumpin’ Jack Flash”, “Gimme Shelter” e “Sympathy for the Devil” todas as noites. De novo, não seria muito diferente de McCartney tocar “Helter Skelter” sem os Beatles ou de Nicks apresentar “Rhiannon” sozinha. Quando o vocalista de uma banda famosa continua tocando as músicas, os fãs aparecem felizes. E aqui não estamos falando de qualquer cantor ou qualquer banda. Ele é o cantor da banda.

Ponto negativo: ainda assim, não seriam os Rolling Stones. É como comer hambúrgueres de verdade por 63 anos e, de repente, passar para carne vegetal. Simplesmente não desce do mesmo jeito.

Cenário 5: os Rolling Stones substituem Keith Richards

Sabemos que isso soa quase como sacrilégio. Mas este já não é exatamente o lineup original dos Rolling Stones. Brian Jones foi demitido pouco antes de sua morte, em 1969; Mick Taylor saiu em 1974; Bill Wyman deixou a banda em 1993; e Charlie Watts morreu em 2021. Todas essas foram perdas enormes, mas o grupo seguiu em frente em todas as ocasiões. Se Richards não quiser mais fazer turnês e aprovar um substituto, como Waddy Wachtel, a banda poderia continuar tocando em estádios. Não seria a mesma coisa, e alguns fãs talvez ficassem em casa em protesto, mas muitos iriam.

Ponto positivo: a formação atual da banda, com um reforço respeitável como Wachtel, entregaria um show muito poderoso. Steve Jordan é um baterista incrível, Ron Wood ainda tem toda a técnica na guitarra, e Jagger é uma força da natureza que desafia toda a ciência médica. A versão ideal dos Rolling Stones não existe há muito, muito tempo. Precisamos viver no mundo do possível. E, se esses forem os melhores Stones ainda possíveis, isso é melhor do que não ter Stones nenhum, certo?

Ponto negativo: nunca houve um show dos Rolling Stones sem Keith Richards. Ele é o coração e a alma de toda a operação. Se os relatos forem verdadeiros de que ele foi o motivo do cancelamento desta turnê, a decisão foi a correta. Não existe banda sem Richards. Como disse certa vez um guitarrista sábio de outra banda popular dos anos 1960, tudo tem seu fim. Se Keith acabou com os Stones, a era deles acabou.

[Nota do editor: para deixar claro, ninguém sabe o que vai acontecer no futuro. Os Stones podem lançar um novo álbum em 2025, fazer alguns eventos promocionais e acabar marcando shows no outono. Podem ficar em silêncio até 2027 e, então, sair em turnê pelo mundo. Ninguém jamais ganhou dinheiro apostando contra Keith Richards — e não deveria começar agora.]

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