Guitarrista faleceu em 2020, aos 65 anos, devido ao avanço de um câncer; baterista admite que ainda não superou perda do irmão
Publicado em 05/12/2024, às 18h28
O baterista Alex Van Halen não esconde o quanto a perda de seu irmão, o guitarrista Eddie Van Halen, lhe afetou. Desde o falecimento do familiar e colega de banda aos 65 anos, em 2020, ele se manteve recluso — e só retornou aos holofotes agora para lançar um livro de memórias, Brothers, que serve praticamente como uma carta de amor fraternal.
Os momentos finais da vida de Eddie, encerrada em função de um câncer no pulmão e no cérebro, e o sofrimento posterior foram abordados por Alex, também, em entrevista ao podcast de Anderson Cooper para a CNN (via Blabbermouth). Inicialmente, o baterista do Van Halen admitiu que continua a lamentar pela morte do irmão — e que não foge desse sentimento, pois isso não resolve o problema.
Outro ponto abordado tem a ver com a surpresa pelo falecimento. Embora Ed lidasse há anos com um câncer, Alex garante que nem ele, nem os outros familiares e pessoas próximas achavam que isso poderia ocorrer.
“Ele sempre se recuperou. Ele tinha o DNA mais incrível que já vi em alguém. Ele podia usar mais e mais drogas do que qualquer um e ainda acordar no dia seguinte e fazer um show. Acho que ninguém realmente pensou que ele iria falecer. Então, quando ele faleceu, foi realmente um choque.”
O baterista acha que nem Eddie sentia ou sabia que estava no fim da vida. Não à toa, os dois continuaram trabalhando em músicas juntos e planejando o ano seguinte — que, infelizmente, nunca chegaria, pois a saúde do guitarrista se deteriorou bastante especialmente nos últimos meses, em função dos bloqueios provocados pela pandemia de covid-19.
“Foi difícil, porque seu sistema imunológico estava fraco, então a última coisa que ele precisava era ser infectado por qualquer coisa. Sempre havia uma distância entre nós na casa dele. Tínhamos que observá-lo de fora, na entrada da garagem, pela janela.”
A última vez que Alex conseguiu tocar Eddie Van Halen ou mesmo sentar próximo dele ocorreu um bom tempo antes de sua morte, quando o guitarrista foi levado à Suíça para fazer um tratamento especial. O baterista conta que o irmão “sentia muita dor na maior parte do tempo —física, mental e emocional”. “Ele começou a perder a função das extremidades. Tudo se agravou e a cada dia era alguma outra parte do corpo que não estava mais funcionando”, complementa o músico.
De acordo com Alex Van Halen, Eddie foi submetido a um procedimento chamado Gamma Knife, uma alternativa à cirurgia tradicional no cérebro. De acordo com o site do hospital HCor, a radiocirurgia “utiliza até 201 feixes de raios de alta precisão para controlar tanto tumores malignos e benignos como distúrbios vasculares e funcionais no cérebro, sem lesionar tecidos sadios circundantes”. O baterista conta:
“Cortaram o câncer, o que foi bem-sucedido, mas no processo, causou um inchaço no cérebro dele. Então eles o colocaram em esteroides. E mesmo em uma situação de vida ou morte, a decisão foi: ‘se dois é bom, vinte deve ser melhor’ — e tomou punhados de esteroides e isso o tornou o Superman temporariamente. Mas nós o levamos para a Suíça para curá-lo.”
Infelizmente, a doença avançou e, de acordo com Alex, Eddie sofreu um derrame grave. O baterista recorda:
“Estávamos na sala com ele quando ele realmente deu seu último suspiro. Apenas nos sentamos lá, cada um estava em seu próprio espaço mental. Quando ele parou de respirar, eu não vi nem ouvi nada. Não havia sinos ou anjos. Apenas parou. E então a sala ficou vazia. E então eles desligaram o equipamento, porque ele estava em um ventilador. Por causa das restrições da covid, imediatamente levaram o corpo. Foi isso. Não o vimos mais. Um final muito tranquilo para uma vida agitada.”
Como grande lição de tudo isso, o baterista aponta que o guitarrista lutou até o fim e nunca desistiu. Por outro lado, lamentou que o irmão não tenha tido uma “vida completa de 75 ou 80 anos”, culpando o seu notório abuso de drogas e álcool.
“Estou com raiva dele? Sim, houve momentos em que eu tinha um grito de ciúmes: ‘Ed, o que diabos há de errado com você? O que você está fazendo? Ed, se você parar de usar todas essas drogas malditas…’ [risos] ‘Você não pode fazer isso com seu corpo e esperar viver uma vida plena’. Se ele tivesse parado, ele ainda poderia estar aqui. Meus filhos não têm mais um tio. Seu filho não tem pai. Eu não tenho um irmão.”
De forma filosófica, Alex concluiu que Eddie Van Halen viveu toda a vida “em busca de algo”. Nem ele sabe o que, visto que, musicalmente, os dois eram plenos a ponto de “conseguirem tocar qualquer coisa”. Porém, o baterista tenta superar o luto ao apontar que, no fim das contas, ele não tem controle sobre isso.
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.