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Música / RECOMEÇO

Ouvimos From Zero, novo álbum do Linkin Park; saiba o que esperar [RESENHA]

Pecados à parte, primeiro trabalho com a vocalista Emily Armstrong revisita legado ao compilar elementos de trabalhos anteriores

Por Igor Miranda (@igormirandasite)
por Por Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 11/11/2024, às 15h37 - Atualizado às 15h54

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Linkin Park (Foto: James Minchin III/Divulgação)
Linkin Park (Foto: James Minchin III/Divulgação)

O primeiro álbum da nova formação do Linkin Park chega nesta sexta-feira (15). From Zero marca as estreias da vocalista Emily Armstrong e do baterista Colin Brittain, respectivamente nas vagas de Chester Bennington (falecido em 2017) e Rob Bourdon (que optou por se ausentar das atividades atuais). Além da dupla estreante, o grupo conta com Mike Shinoda (vocais e vários instrumentos), Joe Hahn (DJ), Dave “Phoenix” Farrell (baixo) e Brad Delson (guitarra, substituído em turnê por Alex Feder).

Em nota à imprensa, Shinoda declarou que o título From Zero faz menção “tanto a este começo humilde quanto à jornada atual” dele e de seus colegas. O músico afirma:

Sonoramente e emocionalmente, é sobre passado, presente e futuro — abraçando nosso som característico, mas novo e cheio de vida. Foi feito com uma profunda apreciação por nossos novos e antigos companheiros de banda, nossos amigos, nossa família e nossos fãs. Estamos orgulhosos do que o Linkin Park se tornou ao longo dos anos e animados com a jornada que temos pela frente.”
Linkin Park (Foto: James Minchin III/Divulgação)

A Rolling Stone Brasil teve acesso antecipado a From Zero e destaca, faixa a faixa, o que esperar deste novo trabalho. Ao fim, uma análise final do registro como um todo. Vale lembrar que, além de lançar novo álbum, o grupo realiza dois shows no Brasil no fim desta semana — sexta-feira (15) e sábado (16), no Allianz Parque, em São Paulo. Os ingressos estão esgotados.

From Zero, faixa a faixa

  1. “From Zero” (Intro): Um breve coro vocal, meio gospel, meio operístico, é a primeira coisa que se ouve do álbum. Na breve vinheta, uma voz questiona: “Do zero? Tipo, do nada?”. Não dá para saber se o grupo realmente acredita que conseguirá começar “zerado” — o que é impossível —, mas ao longo da audição, percebe-se que eles também não tentam. É um disco que, acima de tudo, prega para convertidos — e dado o risco de se reativar a banda sem um de seus principais integrantes, surpreenderia se fosse o inverso.
  2. “The Emptiness Machine”: Sabiamente escolhida como primeiro single, apresenta todas as credenciais do que fez o Linkin Park se popularizar: tem seu peso, mas não é necessariamente explosiva; produção polida; batida não exatamente acelerada. Soa como LP, ainda que tenha muito mais a assinatura criativa de Mike Shinoda do que o resultado da dinâmica entre ele, Brad Delson e Joe Hahn.
  3. “Cut the Bridge”: Emendada na anterior a partir de uma breve transição (numa dinâmica que se repete entre quase todas as faixas), esta é ligeiramente — e surpreendentemente — dançante. Fica difícil não fazer associações com o Paramore em seu álbum de 2013, onde também Hayley Williams e companhia exploraram o groove. Com Emily Armstrong, as canções exploram tons mais agudos que o esperado do LP — e Shinoda, à sua maneira, consegue acompanhar bem.
  4. “Heavy is the Crown”: Também já conhecida do público, tendo em vista sua divulgação como segundo single. Ainda que sem abdicar do groove, esta apresenta um peso que até então não havia marcado presença no álbum. A linha de bateria executada por Colin Brittain, produtor experiente antes de se juntar ao grupo, faz a diferença. O longuíssimo grito de Emily Armstrong apresenta de vez suas credenciais e é nítida a química que ela possui com Shinoda. Talvez só não seja a química característica do Linkin Park.
  5. “Over Each Other”: Outra conhecida do público (saiu como terceiro single e ganhou videoclipe dirigido por Joe Hahn), esta é a primeira e talvez a única a não trazer uma transição que a conecta com a anterior. Também é a única a ter Emily só no vocal. Dividiu algumas opiniões após seu lançamento, tendo em vista sua sonoridade mais afável, quase pop, remetendo a One More Light (2017) — álbum final com Chester e o mais criticado da carreira do grupo. Todavia, soa mais natural do que várias faixas do disco anterior, sendo mais contemplativa do que experimental. Por outro lado, o tracklist guarda outras similaridades com One More Light.
  6. “Casualty”: Não tem como ser ruim uma faixa que começa com os dizeres “get you screaming pants on” (“coloque suas calças de gritar”). Uma das melhores. Como prometido, inicia-se com um belo berro de Armstrong. É talvez a mais pesada de todo o tracklist e explora uma influência relativamente rara na trajetória do grupo: o punk/hardcore, especialmente no refrão. Nos versos, Shinoda é novamente obrigado a explorar um vocal mais agudo — e apresenta até mesmo uma abordagem mais rasgada. Também é um raro momento onde se ouve o baixo de Phoenix com definição. Todos os integrantes têm seus momentos de destaque no álbum, exceção feita ao sempre discreto Delson.
  7. “Overflow”: Conectada à anterior com um scratch característico de Joe Hahn, tem abordagem mais orientada ao electropop, quase como uma versão triste de Imagine Dragons — você se lembra da prometida conexão com One More Light, né? Infelizmente, não mantém o nível lá no alto após o destaque “Casualty” e talvez seja uma das canções menos interessantes do trabalho.
  8. “Two Faced”: A transição para esta faz com que “Overflow” soe mesmo como um peixe fora d’água no tracklist: ouve-se um som de fita sendo trocada, como se voltássemos ao que interessa. “Two Faced” é como uma “One Step Closer” do mundo moderno: tem scratches típicos de Joe Hahn, a cadência característica de uma boa canção do Linkin Park, dinâmica entre versos mais calmos e refrães explosivos e até o típico pós-refrão aos berros — elemento utilizado outras vezes no disco, mas aqui de forma elementar.
  9. “Stained”: Antepenúltima, volta a flertar com o electropop da década passada à la Imagine Dragons, mas com linhas vocais no refrão que chegam a remeter a divas pop contemporâneas como Katy Perry. Quem reclamou de One More Light poderá pular esta faixa na metade desperdiçando a oportunidade de notar um instrumental de bom desenvolvimento, novamente com Brittain liderando as ações nos versos, que transitam entre batidas fortes e quase silêncio.
  10. “IGYEIH”: E lá vai Emily vestir as calças de gritar novamente: começa com a cantora aos berros mais uma vez, em abordagem a ser repetida no pós-refrão. Execução de uma fórmula? Certamente, a ponto de beirar o previsível em alguns momentos, mas não é exatamente ruim. Soa como um nu metal polido caracteristicamente pós-Meteora, com cadência de impacto e a entrada de cada elemento, peça a peça. O diferencial está em, novamente, explorar tonalidades mais agudas que o esperado para o Linkin Park.
  11. “Good Things Go”: Uma das mais experimentais, agrada por justamente soar menos previsível do que a faixa anterior. Nos versos, raps de Mike Shinoda em modelo mais convencional possível do Linkin Park. Nos refrães, as linhas melódicas superpop retornam, inicialmente sem acompanhamento de guitarra, depois com. As últimas palavras ouvidas na canção e em todo o trabalho — “às vezes, coisas ruins ocupam o lugar e coisas boas se vão” — não poderiam ser mais representativas da história do Linkin Park pós-20 de julho de 2017. As cicatrizes permanecem. Por essas e outras, para o bem ou para o mal, não dá para vir “do zero”.
Mike Shinoda e Emily Armstrong (Foto: Timothy Norris/Getty Images for Warner Music)

Um válido recomeço

Se não é possível começar “do zero”, dá para simplesmente reiniciar. From Zero usa sabiamente da bagagem construída pelos remanescentes do Linkin Park, com destaque ao líder criativo Mike Shinoda, em busca de algo que ao menos honre o legado do que foi construído.

É, sobretudo, um álbum respeitoso a essa trajetória. Curto (32 minutos) e relativamente direto, não apresenta experimentos profundos, nem tentativas de se reinventar a roda. Praticamente todos os discos anteriores são representados, da estreia Hybrid Theory (2000) ao controverso One More Light. Quem já gostava, vai curtir. Quem já não era chegado, muito provavelmente seguirá desta forma — até porque Chester Bennington nunca foi a figura de maior rejeição no grupo.

Por outro lado, não é um álbum 100% Linkin Park. É nítido que falta algo da química presente no passado. E não há culpados, visto que os novos músicos se integraram da melhor forma possível: Colin Brittain vai até além do que se espera e Emily Armstrong, embora peque na apresentação de uma identidade mais própria, cumpre à risca tudo que se espera.

Isso invalida a continuidade do projeto? De forma alguma. Só fãs mais desavisados se surpreenderam com o retorno do grupo, algo cogitado publicamente por Shinoda em entrevistas desde 2018. Talvez From Zero sirva, acima de tudo, para aguçar a curiosidade em torno do que ainda vem por aí. Nesse ponto, sim, começa-se do zero.

*From Zero chega às plataformas de streaming e às lojas (em CD e vinil) nesta sexta-feira (15).

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