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Música / Rock

Pão-duro? A característica de Renato Russo que poucos conheciam, segundo tecladista

Carlos Trilha, que trabalhou tanto com a Legião Urbana quanto na carreira solo do cantor, revelou curiosidades em entrevista

Igor Miranda
por Igor Miranda

Publicado em 21/10/2023, às 15h00 - Atualizado em 27/10/2023, às 13h13

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Carlos Trilha (Foto: via Instrumental SESC Brasil)
Carlos Trilha (Foto: via Instrumental SESC Brasil)

Renato Russo fez história como vocalista e compositor da Legião Urbana, uma das bandas mais populares do Brasil. Ao mesmo tempo em que seus pensamentos expressos em letras ficaram muito populares, seu comportamento no geral não era tão conhecido, visto que o artista adotava uma postura bastante reservada.

Uma curiosidade tinha a ver com sua pouca disposição para gastar dinheiro. Mesmo já em boa situação financeira, Renato era bem criterioso com suas despesas.

A revelação foi feita pelo tecladista e produtor musical Carlos Trilha em entrevista ao Pitadas do Sal (via Whiplash). Embora não tenha sido integrante oficial da Legião Urbana,Trilha tocou com a banda tanto ao vivo quanto em estúdio, em discos como A Tempestade ou O Livro dos Dias (1996) e Uma Outra Estação (1997). Além disso, acompanhou o cantor em trabalhos solo.

“Ele era um administrador excepcional, mas também bastante pão-duro, algo que poucos conhecem.”

Em seguida, Carlos deu alguns exemplos de como o lado “pão-duro” do saudoso artista se manifestava. Um deles tinha a ver com seus próprios instrumentos musicais.

“Ele nunca investiu em um instrumento decente, ele tinha um violão Washburn. Sempre optava por comprar instrumentos mais baratos, justificando que não precisava de algo maravilhoso. Dizia: ‘quando precisar, eu pego o do Dado’. Era verdade! Pelo amor de Deus, aquele violão vermelho Washburn dele era horrível.”

Apesar disso, os equipamentos usados para gravar os discos da Legião Urbana eram sempre os melhores. É o que garante Trilha.

“Agora, esses instrumentos eram para ele compor. No estúdio, usávamos apenas as melhores ferramentas disponíveis no mundo.”

Carro antigo e ar condicionado

Outra situação curiosa destacada por Carlos Trilha se deu quando Renato Russo precisou contratar um técnico para consertar um ar condicionado. O músico se incomodou com o alto valor cobrado pelo profissional para executar o serviço.

“Ele tinha um carro Caravan antigo que nem ficava com ele, ficava com a prima, pois ele não sabia dirigir. Lembro de uma tarde em que fui com ele para consertar o ar condicionado. Achou que o técnico cobrou muito caro, e realmente cobrou. Ele tinha uma noção clara dos preços e achou que cobraram caro, como se o técnico fosse o Renato Russo. Decidiu não chamá-lo novamente, afirmando: ‘vai continuar sendo um técnico de ar condicionado, e eu continuarei ganhando meus milhões com a música’.”

Sem risada no palco

Em outra entrevista, de 2021, ao Papo com Clê,Carlos Trilha revelou mais uma característica de Renato Russo, agora enquanto líder da Legião Urbana. O vocalista proibia terminantemente que qualquer músico da banda desse risada no palco.

A norma era estabelecida porque a banda buscava discutir temas profundos em suas letras. Não era como uma banda de rock convencional, com versos mais mundanos, por assim dizer. Trilha afirma:

“Aquilo ali para o Renato era uma coisa muito séria. Tem um nível de entrega muito grande dele ali também. A gente ficar gargalhando é quase desrespeitoso com a entrega, o que querem dizer as letras. [...] O show da Legião tinha essa coisa. O Renato falou: ‘Gente, é uma banda espartana. Não é para ficar gargalhando no palco, ficar rindo’.”

Ainda de acordo com o tecladista, levou algum tempo até a plena compreensão do que significava tudo aquilo. Não era apenas tocar e fazer som: existia uma questão política e filosófica por trás do grupo.

“Fui passar a entender essa vibe do punk, pós-punk, essa posição política, musical e filosófica com o passar do tempo. Não foi só chegar. Achava que era meio ruim, meio frouxo, depois fica legal, depois fica ruim de novo... mas depois fui entender o valor artístico e tudo o que significava.”
Igor Miranda

Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.