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Música / Entrevista

Peter Hook vai relembrar Ian Curtis, do Joy Division, em podcast: "Sempre vou pensar nele com 23 anos"

Em conversa com a Rolling Stone Brasil, baixista relembrou a memória do amigo e vocalista do Joy Division, que faria 68 anos nesta segunda-feira (15): "Ele sempre cuidou de todos, quando ironicamente ele era provavelmente quem precisava de mais cuidados"

Eduardo do Valle (@duduvalle)
por Eduardo do Valle (@duduvalle)
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Publicado em 15/07/2024, às 19h12

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Ian Curtis e Peter Hook (Getty Images)
Ian Curtis e Peter Hook (Getty Images)

Se estivesse vivo, Ian Curtis completaria 68 anos nesta segunda-feira (15). Mas não para Peter Hook, a quem a memória do colega e vocalista do Joy Division segue inalterada: é com 23 anos que Curtis será relembrado, tanto no show que Hook realiza em São Paulo no próximo mês de agosto, como em um podcast inédito, produzido por ele. 

Ian Curtis (Getty Images)

"[suspiro] Eu não penso, nem nunca vou pensar nele com 68. Sempre vou lembrar dele com 23", disse Hook. "Aquele tão amigo era um dos cantores mais generosos que conheci em minha vida. Ele sempre queria que você cantasse. A maior parte dos músicos não é assim - eles querem cantar tudo e não querem que você cante nada [risos]. Ele era o exato oposto."

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Peter Hook (Getty Images)

Ao recordar-se do amigo, vítima de um suicídio aos 23 anos, em 1980, Peter Hook reforçou o quanto a vida de Curtis era diferente de as dos demais membros do Joy Division - que incluía o guitarrista Bernard Summer e o baterista Stephen Morris, além dele próprio. Apenas meses mais velho que Curtis, Hook, hoje com 68, relembrou o que ele chama de "senso de responsabilidade", que diferenciava Curtis dos colegas, ainda na casa dos 20:

"Ele casou-se aos 19 e teve uma filha aos 20. Ele tinha muito mais - não sei se esse é o termo, mas um senso de responsabilidade do que nós. Digo, nós éramos completamente idiotas, absolutamente idiotas aos 23. Mas ele tinha um bebê, uma casa, e estava tentando manter um emprego enquanto tocava com a banda. E ele era epiléptico, sabe? Ele estava doente de verdade. Então ele tinha muito mais responsabilidade e problemas do que nós tínhamos."

Em retrospecto, a memória que Hook mantém do colega é a de um "líder de torcida" dos demais membros do Joy Division. Ele conta que era Curtis quem dava as palavras de apoio aos membros caso qualquer um deles atravessasse momento de dúvida - como aconteceu com ele próprio em certa altura.

"Lembro dele me sacudindo quando queria largar a banda e voltar para o meu trabalho - 'você não vai fazer nada disso, você vai ficar aqui, você é um ótimo baixista, blablabla...'", contou o baixista.

"Ele sempre cuidou de todos, quando ironicamente ele era provavelmente quem precisava de mais cuidados. Mas ele também escondia melhor."

Ian Curtis relembrado em podcast

A vida de Ian Curtis será tema de um podcast produzido por Peter Hook em parceria com Kelvin Briggs, o melhor amigo e padrinho de casamento do vocalista. Como Hook contou à Rolling Stone Brasil, o projeto já foi gravado e está em processo de edição. A ideia, segundo ele, seria relembrar Curtis como homem por trás do músico, o jovem que entrava na vida adulta e sua paixão pela música.

Ian Curtis e Peter Hook: Joy Division (Getty Images)

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"[Kelvin] era o melhor amigo de Ian desde a escola primária, passando pelo ensino médio e chegando a ser padrinho em seu casamento. Ele era muito, muito próximo de Ian. E eu ficava dizendo a ele: 'antes de nós partirmos daqui para o grande show de rock'n'roll no paraíso, nós precisamos fazer um podcast sobre a vida de Ian, sobre como ele era como um jovem'", conta Hook.
Kelvin Briggs e Ian Curtis (Reprodução/Pinterest)

Ainda sem detalhes, o programa deve falar abertamente sobre o envolvimento crescente de Curtis com a música e com o Joy Division, mas não deve se furtar aos problemas e às questões que o levaram ao fatídico suicídio, que aconteceu na véspera da data em que a banda embarcaria para sua turnê de estreia na América do Norte, em maio de 1980. De fato, Hook adianta que ele e Briggs falam abertamente sobre a morte, com direito à reprodução da cópia exata do álbum The Idiot, de Iggy Pop, que tocava em repeat quando o corpo do vocalista foi encontrado.

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Ian Curtis (Getty Images)

"Quando Ian morreu, sua mulher doou a coleção de vinis de Ian - e o disco que Ian colocou quando cometeu suicídio foi o The Idiot, de Iggy Pop. Quando sua mulher o encontrou o LP estava tocando no repeat. E Kelvin ficou com esse disco. E ele me deu o disco durante a gravação do podcast para que eu segurasse - ele nunca tinha deixado ninguém pegar no disco, já que a última pessoa que tocou no álbum foi Ian Curtis", relembra Hook.

"Oh meu Deus, os calafrios que eu tive quando toquei no disco... E nós tocamos o álbum no podcast. Digo, estou arrepiado agora, só de pensar no que ele devia estar atravessando naquele momento com aquele álbum. Aquele disco nunca foi tocado outra vez desde que Ian dera o play em 1980. Então foi simplesmente incrível. Estou muito animado para finalizar a edição, porque acho que as pessoas vão ficar fascinadas."

Peter Hook em São Paulo

Ian Curtis é parte das memórias que Hook traz consigo no show que realiza em São Paulo com seu grupo, Peter Hook & The Light, dia 27 de agosto. Acompanhado por David Potts (guitarra/vocal), Paul Kehoe (bateria), Martin Rebelski (teclados) e Paul Duffy (baixo/vocal), ele leva para o palco da Audio uma setlist com a lista completa de músicas das coletâneas Substance (1987), do New Order, e Substance (1988), do Joy Division.

Peter Hook & The Light: show em São Paulo relembra New Order e Joy Division (Divulgação)

No show, Hook & companhia seguem a proposta dos discos de sucesso, que listaram em ordem cronológica uma série de singles dos dois grupos que definiram o pós-punk. Do Joy Division, faixas como "Love Will Tear Us Apart", "She's Lost Control" e "Transmission" estão confirmados, bem como "Bizarre Love Triangle", "Blue Monday" e "Ceremony", do New Order - essa última música, marcando o único crédito de Ian Curtis na banda que seus colegas fizeram após a dissolução do Joy Division. Uma lembrança que, para Peter Hook, segue viva na voz do próprio vocalista:

"Toda vez que eu toco Joy Division para você ou em qualquer canto, eu sempre lembro daquelas palavras que Ian costumava me dizer: 'nós vamos tocar em todo lugar e eles vão nos amar'."
Capas de 'Substance' (1987), do New Order, e 'Substance' (1988), do Joy Division) (Reprodução)

Peter Hook & The Light

Dia 27/8, às 22h
Audio (av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, São Paulo, SP)
A partir de R$ 120
Classificação: 18 anos.
Ingressos à venda pelo site da Ticket360.