À Rolling Stone Brasil, Marcelo D2 e BNegão relembraram três décadas de história da banda e o show Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça
Publicado em 11/07/2024, às 13h40 - Atualizado às 15h10
Lá em 1993, pouco mais de 30 anos atrás, Marcelo D2, Skunk, Rafael, Formigão e Bacalhau decidiram fundar a banda Planet Hemp, que conseguiu sobreviver ao longo dos anos, apesar dos artistas nadarem contra muitas marés no Brasil, país que possui muita resistência sobre assuntos delicados que o grupo retrata, como maconha, racismo, preconceito, etc.
Agora formado por Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia, Daniel Ganjaman, Nobru e Venom, Planet Hemp se prepara para celebrar as três décadas de existência com um show, intitulado Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça, no Espaço Unimed, em São Paulo, na noite desta quinta, 11. Com todos os ingressos vendidos, a festa, que promete ser histórica, ainda será gravada para virar um DVD (ou audiovisual, ou disco ao vivo).
Porém, antes desta celebração importante na carreira destes artistas, a banda ficou cerca de 20 anos sem lançar músicas inéditas. Após o aclamado A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000), Jardineiros chegou apenas em 2022. Neste período, o grupo seguiu na estrada e até chegou a lançar um álbum ao vivo em 2001.
Por conta desta longa janela sem lançamentos, os integrantes do Planet Hemp decidiram atualizar o catálogo com um show bastante diferente e para ter algo que atualize Planet Hemp (Ao Vivo), de 2001. “Estamos em um momento novo depois desses dois Grammys[Latinos que ganharam com Jardineiros] que ganhamos,” afirmou Marcelo D2 durante entrevista à Rolling Stone Brasil.
Seria interessante a gente dar uma revisitada na nossa obra. Temos pouco material desses últimos anos porque, tirando Jardineiros, estávamos há 20 e poucos anos sem lançar nada, com pouco material no YouTube e nas redes.
Então, com uma formação diferente em relação daquela do começo, além de estar com um show sólido na estrada, a banda decidiu então “gravar esse DVD,” cuja definição ainda é muito ambígua para D2 e BNegão, que também estava presente na conversa.
“É muito louco falar DVD porque não existe mais DVD. Audiovisual não pega, né? É igual certas leis no Brasil. Não pegam,” disse D2. Descrito como banda de “ultra cariocas” por BNegão, Planet Hemp decidiu trazer a celebração em São Paulo, mas eles explicam o motivo de não escolher Rio de Janeiro para Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça.
Segundo D2, o grupo tem um estrutura interessante em São Paulo, além da maioria dos convidados especiais, como Seu Jorge, Emicida, Pitty, Criolo, BaianaSystem, Black Alien, Major RD, Rodrigo Lima, As Mercenárias, Mike Muir e DJ Zegon, morar na capital paulista.
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Além disso, a cidade possui muita identificação com Planet Hemp. Lá, a banda gravou MTV ao Vivo, lançaram os principais discos (Usuário, Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára e A Invasão do Sagaz Homem Fumaça) e possuem grandes influências na música, como Ratos de Porão, Thaíde e DJ Hum.
Agora, o que a galera presente no Espaço Unimed pode esperar do show? Para BNegão, “a parada vai ser bem louca” e única, tanto pelos convidados de alto calibre e toda estrutura do palco, inspirada nos Jardins Suspensos da Babilônia.
“Comemoramos 30 anos, mas, ao mesmo tempo, quem tiver ali vai ver uma parada que não vai rolar mais,” disse o cantor, que garantiu como a banda não levará o espetáculo para outras cidades e estados. “Por isso está vindo gente do Brasil todo. Isso é bem responsa.”
Pode esperar algo único, então quem quer viver verá. E, quem não estiver lá, verá o produto audiovisual, bicho.
Nos últimos quase dois anos, a banda colocou o quarto disco de estúdio da carreira, Jardineiros, e vem colhendo literalmente os frutos de um ótimo trabalho, que rendeu o primeiro Grammy da história do Planet Hemp. Por incrível que pareça, o grupo não estava familiarizado com um sucesso tão grande assim.
“Está sendo responsa para caralho. Nesse disco, a gente fez coisa que não costumava rolar: ganhar prêmio para caceta [risos],” disse BNegão. “É engraçado que sempre concorremos, mas nunca ganhamos. Então nem ligávamos muito. E aí agora começou. Lembro quando a gente saía da premiação do Grammy para a festa, eu cheguei paro Marcelo: ‘Quer dizer que agora a gente já sabe o tipo de banda que ganha prêmio’ [risos].”
“Não é que rolava mesmo, a gente nunca ganhou po*** nenhuma,” complementou D2, no que BNegão reafirmou, com ótimo humor: “100% de nada.”
A gente botou desde sempre o sarrafo lá no alto e conseguimos fazer uma parada que está lá. É incrível fazer um disco relevante que traz coisas novas e meta bronca. É a função clássica de quem trabalha com criatividade, com as paradas não se repetirem. Sou feliz e muito orgulhoso de ter esse álbum.
Caso façamos um exercício de imaginação e pensar como seria Planet Hemp caso fosse um ser humano adulto de 30 anos, Marcelo D2 e BNegão comentaram como seria uma pessoa bastante sábia, com cicatrizes e tudo mais. Inclusive, essa seria uma ideia descartada para Jardineiros.
“O Planet seria uma mina. O disco ia começar e a gente ia falar: ‘Po***, acordei depois de mó tempão, o que aconteceu? Quê!? Idade Média voltou?’ Vendo todos os retrocessos que aconteceram nesse tempo que a gente estava parado,” relembrou BNegão.
Ou seja, Planet seria uma pessoa daquelas que faz o próprio caminho, independente de dar bom ou ruim. Na alegria ou na tristeza. Mais faz do que acredita. Viveria de forma radical, tanto de opinião quanto de ação e arte, também.
Já D2 opinou como seria uma pessoa que puxa os limites, sempre com muita energia: “Seria um velho sábio, digamos assim. Cheio de cicatrizes, mas sábio, após tomar muita porrada.” Para encerrar o assunto, BNegão fez o que seria a forma definitiva: “Um velho de 30 anos [risos].”
Ao longo desses anos de existência, com hiatos, Planet Hemp conseguiu sobreviver ao teste do tempo e marcou o próprio nome na história do rap brasileiro, mesmo com todas as dificuldades que o país oferece para os artistas.
Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça será mais uma prova da importância e tamanho da banda na música brasileira em geral — com muita fumaça e talento, claro.
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