Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil
Música / PROCESSO DIFÍCIL

Por que compor músicas era como estar possuído para John Lennon

Ao longo da vida, Beatle sempre comparou processo de criar canções a sensações ruins, de tortura e desconforto total

Por Igor Miranda (@igormirandasite)
por Por Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 07/11/2024, às 08h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
John Lennon (Foto: Divulgação)
John Lennon (Foto: Divulgação)

Seja nos Beatles ou em carreira solo, John Lennon se notabilizou como um dos maiores compositores de todos os tempos. Desde o início de sua atividade como músico, ainda nos primórdios no Fab Four, era um dos entusiastas do processo autoral. Como seus colegas, não queria apenas tocar versões de outros artistas.

No entanto, engana-se quem pensa que processo criativo era fácil ou prazeroso para o músico. Em entrevistas, Lennon deixava claro o quanto era difícil e comparou o processo a “tortura” ou “possessão” em algumas ocasiões.

Numa declaração resgatada pela conta oficial em sua homenagem no X/Twitter (via Far Out Magazine), Lennon explicou que, para ele, compor era algo similar à expulsão de um demônio que tivesse assumido o controle de seu corpo. A necessidade de ter paz o motivava a criar.

John disse:

Compor música é sobre tirar o demônio de mim. É como estar possuído. Você tenta ir dormir, mas a música não te deixa. Então você tem que levantar e fazer algo daquilo, aí então você tem permissão para dormir.”

Em sua última entrevista, trazida pelo Showbiz CheatSheet, Lennon reflete sobre as “reclamações” feitas ao longo dos anos sobre o processo de composição. Mesmo naquele momento, o músico assassinado em 1980 parecia não ter mudado tanto de ideia.

Nas palavras do próprio:

O que eu percebo quando leio ‘Lennon Remembers’ ou a nova entrevista para a Playboy é que estou sempre reclamando sobre o quão difícil é compor, ou o quanto eu sofro quando estou compondo – que quase toda canção que já escrevi tem sido uma absoluta tortura. Sempre penso que não há nada lá, que é uma m*rda, que não é boa, que não está saindo, que isso é lixo. E mesmo quando sai, eu penso: ‘O que diabos é isso? É apenas estúpido’. Eu penso: ‘essa foi difícil. Jesus, eu estava mal aqui’. Exceto pelas 10 canções, mais ou menos, que os deuses te dão e elas vêm do nada.”
Paul McCartney e John Lennon em apresentação dos Beatles em 1963 (Foto: David Redfern/Redferns)

Paul McCartney confirma

Paul McCartney, seu maior parceiro, confirma a dificuldade que John Lennon tinha com as composições. Em entrevista de 1994, disponível no site Beatles Interviews, Macca explica como a parceria funcionava nos momentos em que o colega não conseguia seguir em frente com a ideia: na base de uma fórmula.

Havia a tendência de ter quatro estrofes em nossas músicas, além de um refrão que se repetia infinitamente e uma ponte. Então, se era ideia de John, geralmente eu entrava na segunda estrofe. A primeira estrofe era sempre bom para fechar com ele — era como: ‘Lembra do que eu te disse no começo da música? Vou reafirmar agora’. Esse sempre foi um bom truquezinho.”

A evolução das composições de John Lennon

Na segunda metade da carreira dos Beatles e principalmente na trajetória solo, John Lennon passou a escrever letras mais pessoais e profundas. Todavia, nem sempre foi assim.

Em conversa com a Rolling Stone EUA, o músico revelou que considerava apenas duas de suas composições com os Fab Four “verdadeiras”. Ele explica:

Eu não sei sobre outras coisas, mesmo, e as poucas verdadeiras canções que já escrevi eram como ‘Help’ e ‘Strawberry Fields’. Não consigo pensar nelas como algo externo. Elas foram as que eu sempre considerei minhas melhores músicas. Foram as que eu realmente compus por experiência própria e não me projetando em uma situação e escrevendo uma bela história sobre isso.”

Curiosamente, “Help” e “Strawberry Fields Forever” representam dois momentos diferentes dos Beatles. A primeira é a faixa-título do álbum de 1965 e dá nome também a um dos filmes do grupo. Já a segunda, mais experimental, chegou como single inicialmente e depois foi incluída em Magical Mystery Tour (1967).

+++LEIA MAIS: Por que a música “Let it Be” fracassaria se saísse hoje, segundo Paul McCartney

+++LEIA MAIS: O grande arrependimento que Ringo Starr tem com relação aos Beatles

Colaborou: André Luiz Fernandes.