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Música / Contratos abusivos

Por que indústria musical atual lembra o velho oeste, segundo M. Shadows

Vocalista do Avenged Sevenfold diz que corporações controlam a arte e revela incômodo com tentativas de transformar sua banda em “viral de TikTok”

Igor Miranda (@igormirandasite)
por Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 15/08/2024, às 09h38

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M. Shadows (Foto: Mariano Regidor/Redferns)
M. Shadows (Foto: Mariano Regidor/Redferns)

O Avenged Sevenfold conquistou fama no meio dos anos 2000, quando a indústria fonográfica passava por mudanças. Muito tempo se passou, mas nada parece ter se alterado — de acordo com o vocalista M. Shadows, este cenário se assemelha ao velho oeste americano.

Em conversa com a Kerrang!, Matt compartilhou informações e reflexões a respeito do momento vivenciado por sua banda no lado dos negócios. Com iniciativas como NFTs e parcerias envolvendo o game Fortnite, o A7X parece tentar se renovar e adotar novas estratégias para promover seu trabalho.

Ao menos dentro do cenário do rock e heavy metal, não é uma postura tão adotada, como explicou Shadows:

Vimos os números e como as corporações basicamente controlam a arte. É uma dinâmica interessante, estranha, mas você vai ter gente envolvida que... eles fazem dinheiro por trás da arte. Uma das coisas que acontecem é que os artistas dizem: ‘não quero saber de nada disso, eu quero criar’. É justo. Eu entendo.”

Em vez de manter distância, o Avenged Sevenfold quer saber ainda mais a respeito dos negócios. O vocalista continuou:

Meu cérebro funciona um pouco diferente. Eu gosto de saber da tecnologia e das ervas daninhas dos contratos que assinamos. Eu gosto de ver os acordos e gosto de ver o quanto alguém está ganhando com a nossa marca – onde é justo e onde é um pouco demais.”

Veio, aí, a comparação entre a indústria musical e o caótico cenário de velho oeste americano. Para ele, a forma como o trabalho artístico é gerido pelas grandes corporações faz com que os músicos se sintam no meio de um bangue-bangue. A prática é bastante predatória especialmente com aqueles que estão começando agora.

Desde o advento da internet e do advento do streaming, nós estamos basicamente vivendo no velho oeste. Agora o que eles (executivos da indústria fonográfica) fazem é ir para o TikTok e eles pegam alguém que já viralizou, mas não tem uma gravadora, e eles os prendem com um contrato de m*rda. Mas eles não podem fazer nada. Quando o Avenged Sevenfold estava na Warner, eles estavam tentando achar um jeito de criar um criar um momento viral no TikTok. O quê? Eu sou um homem de 42 anos, não vou ficar tentando viralizar no TikTok.”

Por fim, apontou:

“Você vai levar 24% de todo o nosso dinheiro e isso é tudo o que pode fazer, aparecer com uma p*rra de um viral fake no TikTok?”

O novo/velho Avenged Sevenfold

Nos últimos anos, o Avenged Sevenfold tem mudado sua operação interna enquanto banda. Ao lado do guitarrista Synyster Gates, o cantor tenta negociar melhores acordos com os executivos de gravadora e outras empresas envolvidas.

Foi durante a criação de The Stage (álbum de 2016) que Brian (Haner, nome real de Synyster Gates) e eu nos expusemos em termos de carga de trabalho, ética de trabalho e como todos nós queríamos que o disco ficasse pronto. Porque estava demorando demais. Até aquele ponto, pelo menos, eu era o motorista desta coisa, eu vinha dirigindo a banda desde que tinha 17 anos. E em um certo ponto eu percebi que tinha que largar essa direção. Tive que perceber que a única forma da banda sobreviver era que eu não ficasse cuidando de colegas que estavam na casa dos 30 anos, na época. Você não pode fazer isso o tempo todo. Nós temos famílias, as pessoas têm filhos, as prioridades mudam. Eu percebi, basicamente, que todos são adultos agora.”

Entre as coisas que mudaram na rotina do A7X, está a vida na estrada. Agora a banda viaja acompanhada de muito mais gente, como explicou Shadows:

Porque todos nós temos famílias, a estrada, por exemplo, tem que ser um lugar onde todo mundo pode leva-los consigo a qualquer hora. Não há problema com isso, todos estão bem cuidados. Também é importante encontrar as pessoas onde elas estão – quando elas estão inspiradas, quando elas querem gravar um disco, quando elas querem compor. Todos têm de estar na mesma página. Não pode ser como: ‘bem, estou pronto para ir, então vocês também precisam estar prontos’.”

Se o Matt daquela época achou que The Stage (2016) estava demorando muito para ficar pronto em relação ao antecessor, Hail to the King (2013), ele provavelmente não gostaria de saber que o Avenged Sevenfold “tirou o pé do acelerador” mais ainda no futuro. O disco seguinte, Life is But a Dream... – que também é o mais recente –, saiu 7 anos depois do álbum anterior, em 2023.

Colaborou: André Luiz Fernandes.