Segundo o artista mais importante do estilo, simplesmente anda difícil demais competir com os acontecimentos absurdos da realidade
Publicado em 01/11/2024, às 08h00
Alice Cooper é um dos pioneiros e considerado o “pai” do chamado shock rock, subgênero que engloba artistas com aspectos teatrais em suas apresentações ao vivo. As cobras, guilhotinas e camisas de força já não assustam tanto na atualidade quanto nas décadas passadas — e o próprio cantor acredita que o tal shock rock não existe mais.
Em entrevista à rádio 96.1 KLPX (via Blabbermouth), Vincent Furnier — nome real do artista — refletiu sobre a situação atual do estilo e usou seu próprio show como exemplo. O veterano explicou como toda a apresentação gira em torno do personagem Alice Cooper.
Ele disse:
Costumava ser fácil chocar uma plateia nos anos 1970. Agora ninguém está realmente tentando. Nem nós tentamos. Não acho que ninguém mais faça ‘shock rock’, mas aqueles elementos ainda continuam no show porque são divertidos de assistir. Ainda é divertido ver a guilhotina e o fato de que você realmente ‘compra’ aquilo, por causa do que acontece antes. Você realmente se preocupa com o personagem.
Apesar dos recursos teatrais, o músico destacou que seu espetáculo não tem recursos tecnológicos de grande poder. Então, a “história” contada precisa ser interessante.
Gosto disso: quero que o público fique envolvido no show. Nós não temos um monte de lasers. Não fazemos coisas assim, porque eu quero que a ênfase seja no personagem Alice, no que acontece com ele e no que ele exatamente está fazendo.”
Além disso, Alice afirma que o mundo atual é tão absurdo que não faz mais sentido chocar as pessoas com um show de rock. O cantor faz uma comparação da situação atual com os livros do escritor Kurt Vonnegut, conhecidos pelas ficções científicas altamente utópicas.
Cooper disse:
Estamos vivendo em um mundo tão Kurt Vonnegut agora, onde tudo é tão absurdo. Para uma pessoa como eu ou um comediante, as ideias estão se escrevendo sozinhas.”
As raízes do shock rock podem ser traçadas até a década de 1950, quando o americano Screamin’ Jay Hawkins começou a trazer fumaça, caixões e microfones em formato de caveira para seus shows, especialmente durante o hit “I Put a Spell On You”. O britânico Screaming Lord Sutch fazia algo similar na mesma época.
Nos anos 1960, o grande nome do shock rock foi Arthur Brown, pioneiro no uso de maquiagem e notório por usar um capacete pegando fogo durante a música “Fire”. Nomes como Iggy Pop também começaram a trazer personas para o palco que ajudaram a moldar o segmento.
Já na década de 1970, Alice Cooper roubou a cena ao lado do Kiss e de David Bowie. A prática seguiu através dos anos 1980, com nomes como W.A.S.P., e 1990, com Marilyn Manson, talvez o último a realmente chocar o público.
Hoje o Ghost é um fenômeno de popularidade que investe pesado em teatralidade dentro e fora do palco. Porém, como Cooper disse em sua entrevista, o projeto não tenta necessariamente chocar a plateia.
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Colaborou: André Luiz Fernandes.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.