“QUE DIABOS É ISSO?”

Por que ninguém gostava do Metallica no início, segundo colegas de turnê

Banda se tornaria um fenômeno de popularidade conforme a década de 1980 se desenrolava, mas sua sonoridade gerou estranheza inicial

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 22/02/2025, às 09h30

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James Hetfield e Kirk Hammett, do Metallica - Foto: Paul Natkin/Getty Images

O Metallica se estabeleceu já no início dos anos 1980 como principal representante do chamado thrash metal, subgênero que fundia influências da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal) e punk rock, entre outros elementos. Era um som diferente — que, como esperado, gerou reações divididas por parte do público.

Músicos do Raven, banda que chegou a excursionar com eles nos primórdios, garantem que o quarteto liderado por James Hetfield(voz e guitarra) e Lars Ulrich (bateria) desagradaram muita gente quando surgiram. O estranhamento veio, em especial, devido à sonoridade mais acelerada apresentada pelo grupo — indo além até mesmo da velocidade que marcou o influente Motörhead naquele mesmo período.

Em entrevista à Guitar World, os irmãos John e Mark Gallagher, que comandam o Raven, relembraram inicialmente a primeira vez em que ouviram falar dos colegas: quando se preparavam para a turnê de seu terceiro álbum, All for One (1983). Hetfield, Ulrich e companhia acabavam de disponibilizar o disco de estreia, Kill ‘Em All (1983). John afirmou:

“Quando você pensa nas grandes bandas de São Francisco, há uma longa lista. Havia Y&T e até o Journey. Mas não, era o Metallica. Nós ficamos tipo: ‘quem são esses?’. Aí nos enviaram uma fita cassete. De início, me perguntei se o disco estava rodando na velocidade certa. Parecia que você estava colocando um álbum do Motörhead a 78 RPM [rotações por minuto, velocidade bem acima do normal para um álbum].”

Ainda assim, os irmãos Gallagher — não, não são aqueles do Oasis — gostaram e aceitaram levá-los para a turnê. O problema é que muitos fãs não curtiram. Mark Gallagher destaca:

“Nós meio que curtimos. Achamos que era como um Motörhead mais refinado, tipo, realmente f#da. Mas quando saímos e tocamos nos shows, muitos lugares não gostaram do Metallica. Eles ficaram tipo: ‘que diabos é isso?’. Além dos principais mercados, tocamos em alguns lugares malucos naquela turnê, como Bald Knob, Arkansas, com alguns shows realmente estranhos. Foi uma experiência e tanto.”

Metallica em 1984 - Foto: Fin Costello / Redferns / Getty Images

Os primórdios do Metallica

Apesar da reação inicial, o Metallica não demorou tanto a agradar o público. Prova disso é que Kill ‘Em All ultrapassou bastante a expectativa de vendas da época. Seu crescimento foi bem orgânico, visto que o álbum saiu por uma gravadora independente, a Megaforce. Ao fim de 1984, o trabalho havia registrado 60 mil cópias comercializadas na Europa, preparando terreno para o fenômeno de popularidade que se testemunharia posteriormente com Ride the Lightning (1984), Master of Puppets (1986), entre outros.