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Música / HIT

Por que o Radiohead se recusava a tocar “Creep” nos shows

Sucesso do single de estreia dos ingleses ameaçou taxá-los como one-hit wonders, mesmo após discos aclamados

Por Igor Miranda (@igormirandasite)
por Por Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 12/10/2024, às 08h00

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Radiohead em 1997 (Foto: Jim Steinfeldt/Michael Ochs Archives/GettyImages)
Radiohead em 1997 (Foto: Jim Steinfeldt/Michael Ochs Archives/GettyImages)

Uma canção de sucesso pode se transformar em uma âncora, especialmente quando não reflete a direção musical de um artista ou banda. Foi o caso do Radiohead com “Creep”, que decidiu remover seu primeiro hit dos shows por anos.

Presente no álbum de estreia do quinteto inglês, Pablo Honey (1993), a música sequer havia sido considerada para gravar inicialmente. A composição do vocalista Thom Yorke, criada na década de 1980, foi apresentada aos produtores Sean Slade e Paul Q. Kolderie durante um momento de lazer no estúdio. A dupla gostou tanto que propôs seu registro — e como single principal do disco.

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Alguns integrantes ficaram descontentes. O guitarrista Jonny Greenwood tentou estragar a gravação ao golpear seu instrumento no pré-refrão (via site Igor Miranda), o que acabou se tornando um gancho e tanto.

O hit inesperado do Radiohead

De início, “Creep”, que foi disponibilizada como single ainda em 1992, foi um fracasso de vendas. Não atingiu o top 40 britânico e teve “apenas” seis mil cópias vendidas. Todavia, emplacou em Israel no fim daquele ano, logo depois se tornando um hit em rádios universitárias da Califórnia, nos Estados Unidos.

O estouro veio com a virada do ano. De repente, o Radiohead foi catapultado para o mesmo patamar do Nirvana e até rotulado com uma sonoridade grunge que nunca perseguiram.

Os músicos foram pegos de surpresa por esse sucesso e a dimensão que tudo tomou a partir dali. Em particular, a dificuldade de prorrogar tudo isso. O guitarrista Ed O’Brien contou à Rolling Stone EUA em 2017:

Um hit daqueles não fazia parte do plano. Estávamos empolgadíssimos… a primeira turnê lotou, e nosso empresário americano falava: ‘Sabe, eu já saí em turnê com bandas na ativa há sete, oito anos, e isso aqui não é comum’. Então foi ótimo por um lado. Porém, a gente não tinha como continuar isso. O álbum tinha algumas músicas que eram OK, mas não tínhamos uma obra robusta. Não sabíamos o que estávamos fazendo.”

Logo, o Radiohead se viu diante de uma plateia apenas interessada em ouvir “Creep”. Jonny Greenwood descreveu à Classic Rock (via Far Out) cenas de fãs indo embora dos shows após a canção ser tocada:

A gente parecia estar vivendo os mesmos quatro minutos e meio constantemente. Era sufocante.

Uma pessoa que sofreu especialmente foi o vocalista Thom Yorke. Em 2000, ao New York Times em 2000, o cantor refletiu a respeito da pressão de não se tornar um one-hit wonder:

'Não dá pra imaginar o quão horrível foi. E a coisa de ser one-hit wonder: você sabe, você começa a acreditar nisso. Mesmo depois de provar o contrário, o pensamento ainda está lá. Isso me afetou demais.”

A solução: tirar dos shows

O terceiro disco do Radiohead, OK Computer (1997), se tornou uma das obras mais aclamadas da década de 1990. Mesmo assim, jornalistas e fãs ainda perguntavam de “Creep”.

Thom Yorke perdeu a cabeça. Gritou com um fã durante show em Montreal, realizado em 1998, e xingou aqueles ainda interessados na canção.

Demorou até 2001 para o grupo tocar “Creep” ao vivo novamente — e mesmo assim foi por causa de uma falha técnica que os impediu de começar outra canção. Desde então, o Radiohead raramente incluiu a faixa em setlists. O Brasil viu duas aparições durante shows em 2009, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

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Durante a turnê do álbum A Moon Shaped Pool (2016), a música começou a aparecer semiregularmente nos shows. Mesmo assim a banda se mostrou hesitante em torná-la parte normal do set. Ed O’Brien explicou à Rolling Stone EUA que o raciocínio é: pessoas querem ouvi-la, mas eles evitam tocar porque não querem que “vire showbusiness demais”.

Colaborou: Pedro Hollanda.