Músico diz que “não existem fatos alternativos, somente fatos” e afirma que apresentadores de TV hoje são mais telegênicos do que jornalistas
Publicado em 26/11/2024, às 08h30
Em ocasiões distintas, Paul Stanley se declarou um crítico à forma como a imprensa trabalha nos Estados Unidos. No comentário mais recente sobre o tema, o vocalista e guitarrista do Kiss culpou os veículos de comunicação pelo atual estado de polarização política no país.
O assunto foi abordado em entrevista ao podcast Rock of Nations with Dave Kinchen and Shane McEachern (via Blabbermouth). O músico foi convidado a refletir sobre uma publicação anterior nas redes onde havia clamado por uma unificação após o fim das eleições nos EUA, vencidas por Donald Trump.
Durante a reflexão, Stanley lamentou que “um país tão grande esteja dividido”. Na sequência, atribuiu responsabilidade “em grande parte” à mídia.
“Posso ser muito ingênuo, mas o início das notícias em tempo real transformou o noticiário em algo estilo Entertainment Tonight (veículo americano de cobertura de celebridades). Ficou polido a um ponto em que os apresentadores são apenas telegênicos, não jornalistas.”
Na visão de Stanley, “não existem fatos alternativos, somente fatos”. Para ele, contudo, hoje não dá para saber “de quem ou de onde os fatos verdadeiros estão vindo”.
“Isso é muito desconcertante. Não é coincidência que o país esteja dividido e que ambas as metades recebam notícias de fontes diferentes. Não sei qual é a solução, mas espero que as pessoas parem de ver como inimigos aqueles com opiniões diferentes. Sempre tivemos respeito pelas outras opiniões. Nem sempre concordei com todos que foram presidentes, mas nunca os vi como dissimulados ou sinistros. Chegou a um ponto de ebulição.”
Um dos entrevistadores chegou a perguntar se Paul apoiaria a volta da “fairness doctrine” (“doutrina de imparcialidade”), instituída em 1949 nos Estados Unidos para exigir a veiculação de questões controversas de interesse público na mídia e de uma forma que refletisse os diferentes pontos de vista. O conceito foi abolido em 1987 e alguns especialistas defendem que isso colaborou para a polarização política no país. Stanley declarou:
“Não sei a resposta. Acredito que [o ex-presidente Ronald] Reagan esteve envolvido em acabar com essa doutrina. Mas o que quer que sirva à verdade, eu apoio. Não tenho que concordar com a verdade, mas eu mereço tê-la.”
No início de 2024, Paul Stanley já havia se manifestado de forma contrária à disseminação de informações falsas ou não verificadas pelas redes sociais. O músico também defendeu que fatos não sejam confundidos com opiniões. Pelo X/Twitter, declarou:
“Vamos parar com isso de ‘Tenho direito à minha opinião’. Se você não fez sua própria pesquisa baseada em fatos confiáveis ou simplesmente repete o que lhe disseram, VOCÊ é parte do problema e do dano que ele causa. Todos nós merecemos mais uns dos outros.”
Já em agosto de 2022, o comentário foi mais direto a respeito da mídia. O vocalista e guitarrista apontou que os principais veículos de comunicação dos EUA são parciais, mencionando em imagens Fox News, CNN e MSNBC, grandes emissoras de notícias em TV a cabo. Na legenda, declarou:
“QUER TER UM PAÍS MAIS UNIFICADO? Tenha notícias mais unificadas! Não brigas venenosas e distorções tendenciosas de AMBOS os lados. Como podemos formar pontos de vista educados quando não estamos obtendo a verdade imparcial? Não precisamos de redes promovendo opiniões. Precisamos de FATOS.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.