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Música / Rock

Por que rockstars não devem falar de política, segundo Alice Cooper

Apesar de comentário sobre o assunto, vocalista disse que casos de Bono (U2) e Sting (ex-The Police) são “humanitários, não políticos”

Igor Miranda
por Igor Miranda

Publicado em 17/09/2023, às 09h00

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Alice Cooper (Foto: Getty Images)
Alice Cooper (Foto: Getty Images)

O nome de Alice Cooper sempre esteve envolvido com política de uma forma inusitada. Um de seus maiores hits é “Elected” (“eleito”), música lançada no álbum Billion Dollar Babies (1973). Trata-se de uma crítica divertida aos políticos de forma geral — e tanto na época quanto em situações futuras, mobilizou candidaturas falsas de Cooper à presidência dos Estados Unidos como forma de marketing.

Apesar disso, Alice é do tipo que sequer deseja estar envolvido com política de forma real. Em entrevista à Vulture, o artista de 75 anos ainda ofereceu um conselho a outros rockstars de forma geral: não fale publicamente sobre o assunto.

“Eu odeio política. Não creio que isso pertença ao rock and roll. O rock and roll deveria ser uma fuga da política. Digamos que eu tenha um milhão de fãs na América e, de repente, penso: ‘bem, vou votar em Fulano, e se você é meu fã, é melhor votar nele’. Isso não é justo. As pessoas gostam mais de seus rockstars do que de seus políticos. Então eles vão votar em quem a estrela do rock mandar.”

Isso não quer dizer que o cantor, cujo nome real é Vincent Furnier, fique completamente alheio ao debate público. Ele apenas não quer se envolver com um político específico.

“Não me importo de enfrentar problemas e defender coisas, mas quando se trata de candidatos reais, por que alguém daria ouvidos a um rockstar? Quer dizer, essa é a última pessoa que eu procuraria se quisesse alguma informação sobre política.”

Defesa a Bono e Sting

Apesar disso, Alice Cooper não estende sua crítica a artistas engajados em pautas sociais. Os nomes de Bono (U2) e Sting (ex-The Police) foram citados como exemplos positivos.

“O problema é que as pessoas decidem que seus rockstars são tudo só porque criaram algumas músicas boas. Rockstars deveriam se preocupar com a próxima música, o próximo álbum e o próximo show. Mas o que Bono e Sting fazem, não vejo isso como algo político. Vejo como algo humanitário. Isso é uma coisa totalmente diferente. Eu sou totalmente a favor disso.”

Declarações sobre transgêneros

Embora defenda o distanciamento de questões políticas, Alice Cooper falou recentemente sobre algo ligado a esse universo. Em regiões dos Estados Unidos, políticos discutem aplicar restrições a pessoas trans na busca por tratamentos de afirmação de gênero. No Tennessee, tentaram até proibir shows de drag queen em propriedades públicas ou quaisquer espaços que podem ter menores de idade — neste caso, a Justiça considerou a iniciativa inconstitucional.

Ao conversar recentemente com o Stereogum (via site Igor Miranda), Cooper deu declarações que foram vistas como transfóbicas, a ponto de uma empresa de maquiagens ter rompido contrato com ele após a repercussão.

“Entendo que existam casos de transexuais, mas temo que também seja uma moda passageira, que haja muita gente afirmando ser isso só porque quer ser. Você tem um filho de seis anos que não tem ideia. Ele só quer brincar, e você o confunde dizendo: ‘sim, você é um menino, mas pode ser uma menina se quiser ser’. Eu acho que isso é tão confuso para uma criança. É confuso até para um adolescente. Você ainda está tentando encontrar sua identidade, mas aqui está uma coisa acontecendo, dizendo: ‘sim, mas você pode ser o que quiser; você pode ser um gato, se você quiser’. Quero dizer, se você se identifica como uma árvore… E eu digo: ‘onde é que estamos, em um romance de Kurt Vonnegut?’ É tão absurdo que agora chegou ao bizarro.”

Após ter recorrido a exageros que não se aplicam à vida real, Alice ainda replicou uma teoria comum entre críticos à comunidade trans: a ideia de que “homens podem fingir ser mulheres” para “tirar vantagem” de situações. Não há registro de qualquer caso do tipo, mesmo em regiões onde transgêneros usam banheiros públicos conforme o gênero que se identificam.

“Posso ver alguém realmente tirando vantagem disso. Um cara pode entrar no banheiro de uma mulher a qualquer momento e simplesmente dizer: ‘hoje me sinto uma mulher’ e se divertir muito ali, e ele não está nem um pouco… ele está apenas aproveitando disso, dessa situação. Bem, isso vai acontecer. Alguém vai ser estuprado e o cara vai dizer: ‘bem, eu me senti como uma garota naquele dia, e então me senti como um cara’. Onde você traça um limite? Algo vai acontecer e, de repente, as pessoas vão começar a dizer: ‘espere um minuto, precisamos manter isso sob controle’. É quase assim com a inteligência artificial. As pessoas diriam: ‘bem, e quanto à IA?’. E eu falo: ‘a única pessoa que não deveria ter IA é Paul McCartney’. É perigoso.”
Igor Miranda

Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.