Por que Roger Waters demorou a aceitar “Comfortably Numb”, do Pink Floyd

“Comfortably Numb” é unanimidade entre os fãs de Pink Floyd. Entretanto, não era vista desta forma — pelo menos inicialmente — na ótica do principal compositor atuante na banda: o baixista e vocalista Roger Waters. 

Foi o guitarrista e também cantor David Gilmour que chegou com o esboço da música e sugeriu colocá-la em The Wall (1979). Waters, por sua vez, tinha ressalvas e não parecia disposto a aceitá-la em um álbum desenvolvido de forma tão pessoal — e passional.

Bob Ezrin, produtor do disco, resumiu a história com precisão no livro Behind the Boards (2012), de Jake Brown (via Ultimate Guitar). Ele disse:

“A ideia dele era que o álbum fosse todo dele (Roger Waters). Ele ia compor tudo. Ele não gostou da ideia de incluir esse outro material.”

No entanto, Ezrin viu a qualidade do material que tinham em mãos. Dessa forma, o profissional de estúdio insistiu com Waters que a música, inicialmente composta por Gilmour, deveria entrar.

Segundo o produtor, o cenário de The Wall naquele momento era de um álbum praticamente solo de Roger Waters, que vinha tomando para si a confecção de todo o conceito por trás da obra. Bob comenta:

“Quando cheguei lá, a maioria das músicas era do Roger, e achei muito importante ter alguma contribuição dos outros caras, porque eles também foram muito importantes para o som da banda no passado. Então, Dave foi quem realmente se destacou. Uma das coisas que ele apresentou foi essa ótima música – nem me lembro como era originalmente chamada (nota: ‘The Doctor’ antes de se tornar ‘Comfortably Numb’) — com esse refrão fantástico, uma guitarra aguda e uma melodia arrebatadora, mas sem versos e sem um enredo real. Então, eu disse ao Roger que queria que ele a pegasse e terminasse, e ele realmente não gostou.”

Lidando com egos no Pink Floyd

Foi preciso lidar com o ego de Roger Waters. No fim das contas, o baixista e vocalista acabou cedendo e topou trabalhar em cima do material fornecido pelo colega. Bob Ezrin continua:

“Ele mudou de ideia, e eu perguntei se ele escreveria as letras. No início, ele estava irritado e não gostou nada disso. Mas ele aceitou o desafio, foi para casa e talvez no dia seguinte tenha chegado com aquele verso inacreditável, e o que eu acho que pode ser a letra mais interessante e culta da história do rock – ‘There is no pain, you are receding, a far distant ship’s smoke on the horizon’.”

“Comfortably Numb” acabou entrando em The Wall como uma espécie de mescla entre as melhores partes compostas por Gilmour e por Waters. O baixista declarou posteriormente à Absolute Radio (via Showbiz Cheatsheet):

“No final das contas, a faixa que está no disco tem a primeira estrofe da versão que eu gostei, e a segunda estrofe da versão que ele (Gilmour) gostou. Depois um pouco do refrão é meu e um pouco dele. Foi uma negociação e um compromisso.”

A insistência de Bob Ezrin trouxe resultado. “Comfortably Numb” se tornou, simplesmente, um dos maiores clássicos do Pink Floyd.

Ela viria a ser a última música tocada em uma apresentação oficial da banda, no Live 8, festival realizado em 2005, em Londres, com os quatro integrantes reunidos — incluindo também o tecladista Richard Wright, falecido em 2008, e o baterista Nick Mason.

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