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Música / Transformação

Priscilla encarna nova era e entra de cabeça no pop com visual e som ‘autênticos’ [ENTREVISTA]

Entre mudanças no nome artístico e novo visual, cantora se afasta do que já conhecemos para se aproximar de si mesma

Priscilla (Foto: Marcus Sabah)
Priscilla (Foto: Marcus Sabah)

Se você, assim como eu, foi uma criança nos anos 2000, deve ter assistido em algum momento a um dos programas infantis mais famosos dessa década: o Bom Dia & Companhia. Entre as diversas fases pelas quais o programa passou, a que mais marcou a geração na qual cresci foi a que tinha como apresentadores a dupla Yudi Tamashiro e Priscilla Alcantara

Os dois cresceram, seguiram por caminhos diferentes, mas aquela menina, que comandava os jogos e distribuía prêmios todas as manhãs, seguiu na carreira artística. Mais afastada das câmeras, Priscilla — agora sem o sobrenome — encontrou o lugar dela nos palcos. 

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Em conversa com a Rolling Stone Brasil, a cantora explica que a decisão de tirar o sobrenome para a nova fase profissional passa, entre outras coisas, por um fator emocional: “Desde criança eu dizia que queria ser conhecida como a Priscilla que canta, então, meu sonho de criança nunca foi construir uma marca. Foi ser eu, Priscilla, fazendo o que eu amo fazer, que é cantar.”

Ela classifica a decisão como um resgate de essência, mas não nega que tenha tido uma pitada de estratégia na escolha. Após anos sendo conhecida como Priscilla Alcantara, tirar o sobrenome ajuda a artista a experimentar algo novo, experimentar-se e apresentar uma novidade ao público. 

Um sobrenome, uma marca, carrega muita bagagem e eu quis colocá-la de lado. Com muito orgulho, muito cuidado, deixá-la guardada, mas me livrar dela, no sentido de tirar esse peso que não ia me auxiliar na construção.

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Priscilla identificou nessas mudanças uma maneira de se estabelecer como uma cantora pop, gênero que pretende seguir. “Priscilla Alcantara fez tanta coisa em outro nicho, então achei que foi uma boa estratégia, até de uma forma didática, comunicar isso para o público,” completa. 

As novidades não param por aí. A cantora também tem usado um penteado diferente do que está no imaginário das pessoas que a acompanham há algum tempo. Com cabelos curtos, tingidos de um vermelho intenso. Ela explica que é parte da cultura pop utilizar a estética como ferramenta para demarcar as eras. “O que chamamos de Era Priscilla precisava ser marcado de uma forma estética.”

Foto: Marcus Sabah

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Fã de mudanças, a cantora — que já chegou a ter cabelo rosa — estava há cerca de seis anos sem fazer mudanças tão bruscas, o que, para ela, contribuiu para a surpresa do público ao se deparar com o novo visual da artista. “Mas foi mesmo para a gente poder trabalhar uma imagem que foi construída em cima de um conceito e de um storytelling do álbum Priscilla.”

Tudo se amarra — mudanças no nome e na estética — quando a artista explica que tudo isso a leva para a grande novidade, o álbum autointitulado, que marca oficialmente a entrada dela no pop. Além disso, ela explica que o trabalho tem uma sonoridade diferente de tudo que ela já fez até aqui e também é a primeira vez que ela assumiu a produção. A artista coproduziu o projeto com Bezebra.

É um visual autêntico porque é um som autêntico. Ao mesmo tempo que é um som que se comunica com o que se consome atualmente, a gente queria fazer algo que representasse o novo, mas tendendo para o futuro do que para o hoje.

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Esse paradigma deve fazer com que as pessoas demorem um pouco mais de tempo para absorver  o que o álbum realmente carrega musicalmente e no propósito do projeto, segundo a compositora. “Porque a gente realmente quis usar as referências do passado para fazer um som que toque hoje apontando para o futuro.” Priscilla classifica essa brincadeira com a linha do tempo como um “baita desafio,” mas a clareza sobre o lugar onde queriam chegar fez com que tudo desse “muito certo.”

Falando no álbum, a cantora começa a aquecer os fãs para o lançamento. Ela adianta que serão lançados três vídeos que serão lançados. O primeiro, “Quer Dançar”, marca a parceria entre a estrela e um dos grupos de funk mais icônicos de todos os tempos: Bonde do Tigrão. Priscilla conta que o trabalho, como um todo, é muito para cima, há faixas com letras mais elaboradas e poéticas, mas ela quis mostrar que pode — e quer — ser uma artista pop que lança canções com letras repetitivas com o intuito de entreter, o primeiro single tem esse propósito. 

Foto: Marcus Sabah

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“Ao mesmo tempo, é uma música muito elaborada musicalmente. A produção vocal e instrumental dela são muito pensadas e estudadas, então a gente estava fazendo ela e decidimos que íamos usar samples, brincar com essa parada do afetivo e do nostálgico,” conta Priscilla. “Decidi usar um sample do Bonde e logo em seguida eu falei: ‘Mas, se eles estiverem ainda tocando, a gente acha os caras, regrava e assina isso como um feat (palavra usada no universo musical para colaborações).”

A intenção da artista era que a primeira impressão da nova era fosse impactante e improvável. “O que é mais improvável do que Priscilla feat Bonde do Tigrão?” E foi assim que a primeira música foi produzida. Ela conta ainda que desde o início, a escolha de “Quer Dançar” como single que abriria os trabalhos da era foi unânime.

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Priscilla conta ainda que a experiência de assumir a produção e direção do álbum foi muito diferente, mas também gratificante: “Ainda é muito difícil encontrar mulheres ocupando esse lugar na indústria, então tem toda uma questão também social, que é difícil. Tem muitos obstáculos. Então é muito significativo para mim poder assinar.”

Essa situação mexeu muito com a confiança da cantora. Por mais que soubesse da própria capacidade, havia uma dificuldade em se impor. “Como eu me encontro numa fase de muita confiança e maturidade, eu decidi. Chamei o Bezebra e falei: ‘Cara, eu não tô procurando um cara para produzir meu álbum, é para coproduzir comigo. Eu vou assinar junto e oficialmente me apresentar também como produtora’.”

Foto: Marcus Sabah

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A produção vocal também é dela, desde a parte criativa até a edição. As mãos de Priscilla estão em todas as etapas do projeto, levando ao público não apenas as habilidades como cantora, mas facetas que, até então, não conhecíamos. 

Para o clipe de “Quer Dançar”, a cantora também se envolveu de maneira integral. A parte criativa partiu dela e foi desenvolvida pela diretora, Aline Lata, e pelo diretor-criativo, Miguel Mello. “Eles foram os responsáveis por traduzir as minhas ideias para o que a gente assiste hoje. E eles foram completamente brilhantes,” conta. A partir do conceito do álbum foi montado um storytelling, que apresenta essa personagem desenvolvida pela equipe e que será vista nos próximos dois clipes. 

Eu fiquei muito feliz porque é uma equipe que realmente abraçou o projeto e, nesse início, é muito importante você encontrar pessoas que abracem seus sonhos e eles fizeram isso, então foi bem legal trabalhar com eles. 

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Priscilla sempre gostou de se envolver nas etapas de produção dos projetos dela. “Eu tenho muita consciência de que se a arte é minha, não tem como terceirizá-la. Não existe essa possibilidade para mim. O meu mecanismo de trabalho é ter colaboradores,” relata. A artista sabe muito bem o que quer e o que representa e convida pessoas para aquilo que não sabe fazer, mas se não for fiel ao que tem em mente, ela não usa. “Eu colaboro com pessoas que me ajudam a materializar a minha arte.”

Outra música que integra o álbum, “Fã Incubado,” já está disponível nas plataformas e conta com um visualizer no canal da artista no YouTube. A artista revela, no entanto, que não haverá clipe para a canção, descrita como “detalhe nesse marketing muito bem bolado.” A ideia da liberação da canção foi amarrar todo o falatório em torno dessa nova fase da cantora. “Foi um jeito de brincar com a situação toda.”

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Sobre a receptividade dos fãs nesse movimento de transição de nichos musicais. Priscilla percebe que o mesmo acontece com os próprios admiradores do trabalho dela: “Tem gente indo, tem gente chegando,” comenta. Ela acredita que isso pode inspirar outros artistas a se reinventarem e não se tornarem reféns de um esteriótipo, de um ambiente, ou de um nicho. A artista considera que é muito interessante observar o movimento e os comentários de pessoas que não a conheciam enquanto artista pop.

A nova fase profissional da cantora se conecta diretamente com o momento de vida dela. “Eu sempre esperei viver o processo pessoal para criar algo. Isso dita muito o ritmo e os acontecimentos da minha vida profissional, porque eu acho que é isso que traz a verdade, a autenticidade para  aquilo que crio.” diz. Ela explica que, nos últimos anos cresceu, amadureceu e se desenvolveu muito, o que certamente reflete na criação artística. “Todo movimento que faço artisticamente é um reflexo de um movimento pessoal.”

Foto: Marcus Sabah

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Apesar dos elogios, há também quem critique posturas que a artista já teve no passado. Ela nunca escondeu a relação dela com a religião e passado no gospel. A cantora é alvo de críticas por parte da comunidade LGBTQ+ nas redes sociais e não se esquiva quando questionada sobre o assunto.

“É engraçado que mesmo quando você diz, quando demonstra mudança, algumas pessoas têm resistência a atualizar a visão sobre o outro, por alguma desconfiança que eu sempre vou respeitar,” comenta. “Você sempre precisa se colocar no lugar do outro e imaginar por quê ele tem essa desconfiança. E sempre vai ser legítimo.”

A gente sabe o quanto o fundamentalismo religioso e pessoas fanáticas religiosas feriram e ferem pessoas com os seus ideais. Eu busquei evolução e sair de um fundamentalismo religioso porque eu nunca concordei com aquilo. E muito do que eu não verbalizei era por medo, porque se eu abrisse a minha boca, eu não tinha ninguém para segurar a minha mão e eu era muito refém de um nicho, de um comportamento, de uma expectativa. Até eu entender que eu poderia criar o meu próprio espaço para falar o que eu penso. Hoje eu me encontro nesse lugar, mas eu precisei de maturidade para isso.

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Um episódio que volta e meia reverbera nas redes sociais é o cover de “Born This Way” feito pela cantora quando apresentava o TVZ. Priscilla não cantou a parte que fala sobre sexualidades diversas, o que causou mal-estar. Citando o ocorrido, a cantora explica que não tinha coragem de comentar o caso.

“Eu falei: ‘Quem que me odeia vai acreditar?’.” Apresentando o programa diariamente, Priscilla precisava cantar diversas canções nas gravações e não sabia a letra de todas, por isso contava com o auxílio do teleprompter (TP) — aparelho responsável por exibir o texto que deve ser lido.

Foto: Marcus Sabah

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“Eu não tinha ideia da letra de ‘Born This Way’ inteira e lia no TP. Eu tive a infelicidade de errar justo naquela parte, todo o resto da música, eu cantei. Para quem queria reafirmar aquele pensamento sobre mim, aquela foi uma ótima oportunidade,” relembra sobre o acontecido. 

Priscilla ressalta que o que pode fazer hoje é sempre reafirmar seu posicionamento e sempre se manter atualizada, mas não pode responder um por um. “O que eu faço é ser. Com atitudes, diariamente, na minha vida. Porque também não adianta falar da boca para fora.” A cantora acredita que as atitudes dela, com o tempo, a apresentará e atualizará para as pessoas. 

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De volta ao álbum, a cantora abre um pouco do que está por vir. Para o próximo single, mais um feat “tão impactante quanto Priscilla e o Bonde do Tigrão.” Apesar de querer muito, ela não tinha esperanças de que a colaboração pudesse se concretizar. “É uma artista que eu admiro tanto, que eu achava que era meio inatingível,” revela. O álbum já estava pronto quando ela entrou em contato com a pessoa para firmar a parceria. 

Outra grande expectativa por parte da artista é levar o projeto para a estrada e encontrar os fãs. “A coisa que eu mais amo fazer é show!” Após o lançamento, a turnê com o show novo deve ser anunciada, apesar da produção para o espetáculo já ter começado.

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Nas últimas agendas do ano, a cantora adiciona as músicas já lançadas, mas a experiência completa será vista quando o álbum estiver no mundo. “Eu posso dizer que o álbum foi construído para o show,” adianta. Uma coisa é certa: tudo que conhecíamos de Priscilla está sendo reconfigurado e mal podemos esperar para ver onde ela vai chegar. 

Foto: Marcus Sabah