Ponta da Língua chega nas plataformas no próximo dia 1 e mostra o amadurecimento da pernambucana, que revela angústias e desejos nas novas faixas.
Vem de Recife uma das vozes mais interessantes dessa nova safra de boa música brasileira. Sofia Freire, 27 anos, mescla referências regionais, como o brega, o psicodelismo, dark pop e um som cósmico para construir os sons do seu terceiro álbum de estúdio. No sangue, o DNA de Wilson Freire, parceiro de Antônio Nóbrega, um dos músicos pernambucanos mais celebrados que a inspiraram pela técnica, disciplina e sensibilidade na sua arte. Intitulado Ponta da Língua, o álbum com nove faixas chega às plataformas de streaming com visualizers exclusivos neste dia 1º de março.
“O disco nasceu após um angustiante bloqueio criativo que durou muitos meses. Levantei muitas questões que permanecem até agora latentes. Decerto por isso sou hoje uma artista mais atenta à ludicidade do meu processo criativo, abraçando mais minha autonomia tanto criativa quanto pessoal, que acredito andarem juntas. Muita coisa aconteceu do lançamento de Romã pra cá e o período de isolamento social foi bastante propício para dar esse mergulho interno”.
Sofia, que é pianista de formação, além de cantora, mescla referências que vão de Cibo Matto a Tetê Espíndola e Björk, e novas referências em harmonia contemporânea na construção. Ela conta que “para o disco, me espelhei muito no som da Kate Bush em The Sensual World e em artistas do trip hop dos anos 90 como Cibo Matto, Lamb e Björk continua sendo uma grande influência. Tetê Espíndola foi uma grande referência para que eu explorasse outros espaços na minha voz. O disco The Low End Theory, de A Tribe Called Quest, me guiou e inspirou muito no trabalho com samples. Também estudei harmonia contemporânea, o que me aproximou mais de uma linguagem um pouco mais jazzística e menos erudita. Sem falar da Ave Sangria, que me inspira na psicodelia”. \
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“Se arrebento as margens que venham a me encerrar, me torno indefinida, sem contornos, maleável e múltipla, e sinto que somente assim posso ir de um lugar”.Em Ponta da Língua, Sofia dá vazão aos limites e às angústias.
O amadurecimento revelado em PDL reflete num entendimento de Sofia sobre si mesma enquanto artista. “Hoje entendo que a voz é meu principal instrumento, e as músicas novas são muito mais guiadas por ela e os sintetizadores, talvez meus dois principais campos de pesquisa musical”. O processo que deu origem ao disco mostra a marca de Sofia em todos os processos, da composição até a pós-produção dos visuais. “Todas as faixas são composições minhas, exceto Dentro de Mim, que é uma parceria com meu amigo cantor e compositor Igor de Carvalho. Em Arrebento, a artista partiu de um sentimento muito pessoal de inadequação “que é difícil descrever e que tentei um pouco através dessa música. Tenho entendido os não-lugares como os mais possíveis de me comportar mas, na verdade, sinto que não me demoro nos espaços em que estou. Acho que o meu processo criativo passa muito mesmo por isso, tentar romper com expectativas (minhas e externas)”.
Ponta da Língua, faixa que dá nome ao disco, é definitiva para entender a fase da cantora. Nasceu de um lugar emocional especial para Sofia. “É como se fosse uma oração, que me lembra de quem eu sou e porque estou aqui. Ela fala sobre ser leal ao seu desejo por liberdade, por relações sinceras, por abrir-se ao novo e como para se ter coragem é preciso que antes haja o medo, mas o medo que nada revela, não deve te tomar. Se fosse resumir, diria que, no fim, é tudo sobre duas coisas: discernimento e expressão, sendo a língua o órgão vetor para elas.
Ponta da Línguafoi gravado em Recife, foi mixado e co-produzido por Homero Basílio. Conta com trabalhos de masterização de Buguinha Dub e para cada uma das nove faixas têm vizualizers exclusivos. Os visuais são de Luara Olívia, com assistência de João Vicente e Barretinho. Sofia usa Carol Silveira, A.Cria, Nudo, com beleza de Natália Brown.