Segundo apresentador - que também era sócio de casa noturna -, vocalista do Guns N’ Roses teria pedido para se apresentar no local, mas não compareceu
Publicado em 26/02/2023, às 10h14 - Atualizado em 07/03/2023, às 19h00
Axl Rose tem muita história com o Brasil. Para além das mais de 30 apresentações no país com o Guns N’ Roses, o vocalista conta com Beta Lebeis, uma brasileira, como sua assistente pessoal.
Mas nem todas as situações envolvendo Rose em território brasileiro foram boas. Uma delas se deu em 2010, quando o cantor não compareceu a uma apresentação acústica que seria realizada na Disco, boate de São Paulo que tinha o apresentador televisivo Marcos Mion como um de seus sócios.
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O evento chegou a ser anunciado pela casa noturna, como lembrou o também apresentador Felipe Solari em entrevista ao podcast Falacadabra. Naquela noite, Solari trabalhava como DJ no local - dessa forma, ele acompanhou de perto todo o caso, que chegou a ser repercutido na época, mas não de forma integral.
Entre março e abril de 2010, o Guns N’ Roses estava no Brasil para a sua quarta turnê local. Antes, eles haviam passado por aqui em 1991, 1992 e 2001. As apresentações em Brasília (07/03), Belo Horizonte (10/03), São Paulo (13/03), Porto Alegre (16/03) e Rio de Janeiro (04/04) seriam as primeiras do grupo no país desde o lançamento do álbum Chinese Democracy (2008), folclórico por ter levado mais de uma década para chegar às lojas.
Antes do compromisso na capital paulistana, mais especificamente no estádio Palestra Itália, a boate Disco receberia o tal show acústico do Guns. Felipe Solari relembra:
“Como o Mion era engendrado com alguns artistas, então rolavam shows de artistas no formato pocket show, como Di Ferrero e Chorão. Era muito legal, porque quebrava aquele paradigma da festa elitista, paulista e tal. Era a ‘noite Guns N’ Roses para a elite paulista’, era bem especial.”
Naquele período, aliás, Axl namorava a modelo e ex-VJ da MTVEllen Jabour. A brasileira teria facilitado o contato para fechar o show.
“A Ellen era da MTV e eu lembro que ela facilitou esse contato para ele ir. Lembro claramente da Ellen até dar algumas dicas do que tocar. Éramos eu e o André Vasco discotecando até o Axl chegar. Lembro de ela falar para a gente tocar Elton John quando ele entrasse, porque ele iria gostar.”
Naqueles tempos, Axl Rose era notório pelos atrasos para começar os shows. Quem esteve em alguma das apresentações do Guns N’ Roses naquele período certamente sentiu isso na pele. Seguindo o protocolo, o cantor não chegou no horário previsto à boate Disco.
O problema é que, nesse caso, não foi um atraso. Ele simplesmente não compareceu.
“Ele iria chegar às 22h, mas não chegou. Depois, às 23h - não chegou. Só que a equipe inteira do Guns já estava lá, com os roadies, alguns músicos, todos já haviam montado o palco. E nada. O Axl não apareceu mesmo.”
Em dado momento, uma confusão entre a equipe do Guns N’ Roses - que estava no local - e pessoas ligadas à boate deu início a uma pancadaria generalizada. Solari relembra:
“A briga foi quente. O pau comeu. Virou uma coisa de gringo contra brazuca. Lá na Disco, tinha muita gente do jiu jitsu, uns brabos, também. Então, quando um brabo viu um roadie tocando em um sócio da Disco, o pau começou a quebrar. Acenderam as luzes e todos estavam se pegando. Eu, Mion e Vasco estávamos só no empurra-empurra. Acho que teve também uma ‘quentura’, do tipo: ‘então vamos pra dentro dos caras do Guns N’ Roses, vamos fazer o que eles fizeram a vida inteira’. [Risos]”
O próprio Marcos Mion se manifestou na seção de comentários do vídeo no YouTube com a entrevista de Felipe Solari. O apresentador e sócio da boate confirmou que Ellen Jabour facilitou a conexão, mas que foi o próprio Axl Rose quem pediu o show “para conhecer gente legal do Brasil, modelos, etc”.
Antes do cantor furar de vez, pessoas de sua equipe ficaram, segundo Mion, “fazendo terror a cada 20 minutos que ‘ele estava entrando’, que ‘deu uma volta no quarteirão’, etc”. Ele completa: “Nisso, eu ficava que nem barata tonta correndo pra porta e voltando”.
Exceção feita ao artista principal (cuja ausência teria ocorrido por conta de um resfriado), todo mundo do Guns N’ Roses - instrumentistas e equipe - estava presente no local naquela noite. Na época, o grupo trazia Ron “Bumblefoot” Thal, DJ Ashba e Richard Fortus nas guitarras; Tommy Stinson no baixo; Frank Ferrer na bateria e Dizzy Reed e Chris Pitman nos teclados. Mion relembra:
“Estava a banda toda lá já. Os caras que estavam tocando com ele na turnê. Rolou uma mega porradaria. Real. Tinha muito jiujiteiro amigos dos sócios e os caras tomaram as dores porque tínhamos feito tudo que eles pediram. Rolou um bom investimento em mesa, material, luz, bebida de graça pra uma boate cheia de convidados, etc.”
Em uma daquelas situações que só poderiam acontecer em um país como o Brasil, a pancadaria sobrou até mesmo para um comediante presente no local. Carioca, humorista do “Pânico”, cobria o evento como o personagem Amaury Dumbo, paródia de Amaury Jr.
“Quando a porradaria tomou o estacionamento, o Carioca do ‘Pânico’ estava de Amaury gritando uns ‘MEU AMIGOOO’. Nisso, passou um dos jiujiteiros p#tos, mandou um ‘meu amigooo é o c****ho’ e meteu um direto no olho do Carioca.”
Nada como um dia após o outro. E nada como uma nova polêmica para o Axl Rose daquela época se envolver.
O show no estádio Palestra Itália aconteceu como previsto na noite seguinte, mesmo com um incidente que quase comprometeu a realização da performance. Logo na primeira música do repertório, “Chinese Democracy”, uma pessoa na plateia atirou um copo de cerveja em Rose. Irritado, o cantor interrompeu a execução e ameaçou abandonar o palco.
Foi aí que, curiosamente, Axl citou o incidente na boate Disco. Felipe Barbieri, que conduziu a entrevista com Felipe Solari para o Falacadabra, relembrou:
“Ele respirou fundo e voltou a ser o Axl. Ele perguntou: ‘vocês querem ser um c#zão igual ao cara da boate de ontem à noite?’. No dia seguinte, todo mundo pesquisando, sem saber o que aconteceu. Saiu uma notinha aqui e ali, mas sem explicar.”
Em seu comentário no vídeo, Marcos Mion também destacou ter sido xingado por Rose.
“E no dia seguinte, no palco do show ele me chamou de ‘p#ssy’ e meu Twitter explodiu.”
O vídeo em que Felipe Solari fala sobre o assunto (e que traz o comentário de Marcos Mion na seção destinada a isso) pode ser conferido abaixo.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.