Músicos da banda de metal gravaram álbum com ícone alternativo e acharam processo um tanto “diferente”, para dizer o mínimo
Publicado em 28/04/2024, às 10h00
A história do Metallica é repleta de momentos, digamos, peculiares. E um destaque nesse sentido é Lulu, álbum gravado em parceria com Lou Reed.
Lançado em 31 de outubro de 2011, o trabalho colaborativo dividiu opiniões. Soava experimental demais para os fãs de metal — e pesado demais para quem gosta de som alternativo. Como resposta, vendeu apenas 280 mil cópias até os dias de hoje — para efeito de comparação, o disco seguinte do Metallica, Hardwired... to Self-Destruct (2016), vendeu 291 mil unidades somente em sua primeira semana, e apenas nos Estados Unidos.
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Estranhezas do público à parte, os integrantes do grupo — James Hetfield (voz e guitarra), Lars Ulrich (bateria),Kirk Hammett (guitarra) e Robert Trujillo (baixo) — ficaram satisfeitos com o resultado. Mesmo considerando que não sabia o que esperar, o quarteto se deu bem com Reed, lendário ex-integrante do Velvet Underground falecido em outubro de 2013.
Em entrevista ao podcast Metallica Report (via Ultimate Guitar), o produtor Greg Fidelman, que trabalha com o grupo há mais de uma década e participou de Lulu, revelou alguns bastidores das gravações. Primeiro, ele reforçou que todo o processo era uma surpresa para os envolvidos.
“Não sabíamos realmente o que esperar. E vocês conhecem Lars bem o suficiente para saber que isso o estava deixando louco — não é permitido desconhecer o que vai acontecer. Nem sabíamos quais eram as músicas.”
Uma situação logo no início do processo fez todo mundo ficar de cabelos em pé. Lou simplesmente gostou de uma gravação que estava sendo produzida apenas como um improviso, enquanto os músicos se habituaram.
“Tínhamos que ensaiar. Então, estamos meio que preparados para um ensaio. E Lou tem sua própria configuração, tentamos descobrir como encaixá-lo. [...] Então, todos começaram a tocar algumas coisas, a improvisar… acho que dá para chamar assim. Daí falaram: ‘vamos na sala de controle ouvir como ficou’. Isso era no primeiro dia! E aí Lou simplesmente falou: ‘isso é incrível, é incrível, é isso, vamos para a próxima música’. Lars reage tipo: ‘o quê?’. [Risos]”
Outro episódio relembrado por Greg Fidelman envolve Kirk Hammett. Certa vez, o guitarrista estava gravando um solo quando Lou Reed lhe disse abertamente para que interrompesse.
“Foi um processo complicado. Lou era um cara super intenso. [Risos] Lembro que, a certa altura, que Kirk estava fazendo algo — até hoje fazemos piada com isso — que soava como a música do Oriente Médio, meio diferente. Não sei se ele estava usando um pedal de wah wah ou algo assim, mas soava bem Oriente Médio. Lou simplesmente interrompeu e falou: ‘sem m*rdas de dança do ventre!’ [Risos] Nós pensamos: 'meu Deus, isso é incrível’.”
Apesar disso, o processo rendeu muito aprendizado ao Metallica. A banda, segundo seu produtor, acostumou-se com o resultado final e adquiriu experiência em situações mais instintivas como esta.
“Eu nem sei o que eu fiz nesse álbum. E foi assim que todas essas coisas surgiram. Tudo foi uma questão de experimentar, improvisar e realmente não pensar tanto. Sem pré-pensamento, tudo muito instintivo.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.