Uma das fases mais curiosas da lendária banda de heavy metal foi a que trouxe o também icônico vocalista do Deep Purple na formação
Publicado em 29/03/2024, às 10h00
Um dos períodos mais emblemáticos do Black Sabbath se deu quando Ian Gillan assumiu os vocais da banda. O cantor esteve durante um período curto, entre 1983 e 1984, e aceitou entrar após uma noite de bebedeira com o guitarrista Tony Iommi e o baixista Geezer Butler — uma prova de que não podemos tomar decisões sob efeito de álcool.
O único álbum da parceria, Born Again (1983), divide opiniões. Há até mais fãs gostando do disco nos dias de hoje, mas as escolhas questionáveis de produção inegavelmente afetaram o resultado final — ainda que boas músicas façam parte daquele trabalho.
Além do álbum, o grupo chegou a realizar uma turnê completa com Gillan, que retornaria ao Deep Purple ao fim daquela excursão. Além dele, de Iommi e de Butler, os shows contaram com Bev Bevan (ELO) na bateria, substituindo Bill Ward, que gravou o disco, mas decidiu sair (pela segunda vez) por não se sentir à vontade sem o cantor original, Ozzy Osbourne.
A tour, realizada em quatro etapas entre 7 de agosto de 1983 e 4 de março de 1984, guardou algumas histórias peculiares. Uma delas envolve a cenografia de palco: os músicos pediram para que fosse feita uma réplica das pedras de Stonehenge (estrutura localizada na Inglaterra), mas o item de decoração ficou grande demais para ser transformada e colocada nas apresentações.
Contudo, o elemento mais curioso — e, neste caso, registrado em áudio — se deu no repertório. Além da oportunidade de muitos fãs ouvirem músicas do Sabbath originalmente interpretadas por Osbourne ou Ronnie James Dio serem cantadas por Ian Gillan, a turnê ofereceu algo único: a lendária banda de metal tocando, talvez por obrigação, “Smoke on the Water”, clássico do Deep Purple bem mais orientado ao que hoje se chama de classic rock.
Uma gravação disponível online traz a pesada execução do Black Sabbath para “Smoke on the Water”. O baixo marcante de Geezer Butler e a pegada forte de Tony Iommi deixaram a versão bem pesada. Já os vocais de Ian Gillan viviam seu auge, embora seus anos anteriores tenham sido de baixa popularidade — sem o Deep Purple, ele embarcou em uma discreta trajetória solo.
A clássica canção era o momento em que Gillan se sentia mais confortável nos shows, diga-se de passagem. Em entrevista de 2022 à rádio Rock FM (via site Igor Miranda), ele admite:
“Além das músicas de ‘Born Again’, tínhamos que apresentar nos shows as que eles fizeram com Ozzy. Nunca me senti confortável, embora elas fossem ótimas e eu conseguisse cantá-las. Mas não sou ele, não parecia o certo.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.