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Quatro cordas, um arco e muito rock and roll

Em entrevista exclusiva para a Rolling Stone Brasil, os músicos da Orquestra Petrobras Sinfônica, contam como foi o processo de adaptação para transformar o Black Album, do Metallica em uma sinfonia completa

Felipe Fiuza Publicado em 17/04/2023, às 12h00 - Atualizado às 14h38

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Ricardo Amado, Mateus Ceccato e Carlos Mendes ( foto: Igor Aleixo)
Ricardo Amado, Mateus Ceccato e Carlos Mendes ( foto: Igor Aleixo)

Ricardo Amado, Carlos Mendes e Mateus Ceccato bateram um papo cheio de referências e bom humor com a Rolling Stone Brasil explicando um pouco do processo de criação da orquestra de um dos discos mais importantes do heavy metal de todos os tempos. Confira! 

Rolling Stone Brasil – Senhores, contem um pouquinho pra gente como foi tocar heavy metal ao invés de música clássica. Como foi esse processo e tocar instrumentos elétricos ao invés dos tradicionais exigiu muita pesquisa?

Ricardo Amado [violino] – Foi muito interessante pois começamos esse trabalho com o álbum Ventura (2003), do Los Hermanos, e fomos vendo que havia um espaço pra gente ousar um pouquinho mais, aí fizemos o Thriller (1992), do Michael Jackson e The Dark Side of The Moon (1973), do Pink Floyd, e foi nesse álbum que começamos a pensar nos violinos elétricos. O Mateus (Ceccato) já tinha o Cello (elétrico) e o Dhyan Toffolo (violonista da Petrobras Sinfônica) emprestou o dele para eu me acostumar com o instrumento e daí pra frente fui vendo que não é uma coisa simplória, a gente tem que fazer uma pesquisa extensa, e depois, com ajuda do Mateus, do Dhyan e de outros colegas guitarristas fomos vendo quais equipamentos precisaríamos adquirir pra gente chegar, ou pelo menos se aproximar, do timbre que esses grandes guitarristas utilizam.

(foto: credito Igor Aleixo)
Ricardo Amado (foto: credito Igor Aleixo)

RS – O disco do Metallica com a Orquestra Sinfônica de São Francisco (S&M - 2001) foi uma inspiração pra vocês?

Carlos Mendes [violino] – Foi e não foi ao mesmo tempo (risos). No álbum do Metallica existe uma orquestra sinfônica tradicional acompanhando a banda e a nossa proposta é justamente outra, desde o início, essa série 'Álbuns' propomos "reinventar" o disco inteiro, na íntegra, ou seja, adaptar a uma interpretação de uma orquestra, então, a situação é bem diferente: a banda sendo acompanhada de uma orquestra tradicional; e nós, que somos uma orquestra tradicional, enxertada por instrumentos de banda de rock. Por isso a proposta é bem diferente, não é um acompanhamento, e sim um rearranjo, uma reinvenção daquele repertório.

Mateus Ceccato [violoncelo] – Na verdade esse "enxerto" dos instrumentos de banda de rock vieram do baixo elétrico, da bateria e as guitarras foram substituídas pelos violinos (solos) e o violoncelo (guitarra base) elétricos.

RS – O Baixo e a bateria seguem a mesma linha das músicas originais, certo?

Carlos Mendes [violino] – Sim, e os violinos e violoncelo também. Existiu muita pesquisa para chegar o mais próximo possível dos timbres dos guitarristas, como no caso do Slash, David Gilmour e o próprio Kirk Hammett.

RS – Agora sejam sinceros, o que é mais difícil: Vivaldi ou os solos do Kirk Hammett (risos)?

Ricardo Amado [violino] – Tudo é difícil. Seria uma bobagem a gente achar que fosse fácil. Na realidade, esses artistas são pessoas com uma formação musical notória, não são amadores e sim grandes músicos. Por exemplo, no Metallica, você percebe que existe uma compreensão da polirritmia, do politonalismo, então, são excelentes profissionais, e se fossem instrumentistas de música clássica como nós, certamente estariam em ótimas orquestras. É muito fácil desmerecer ou desprezar um determinado estilo e prol de outros, mas eu posso garantir que todos são difíceis e todos tem o seu valor. Dá trabalho, mas é muito prazeroso.

RS – Então gostaram dessa experiência de tocar heavy metal sinfônico. Vocês costumam ouvir esse tipo de música?

Ricardo Amado [violino] – Gostamos demais! 

Carlos Mendes [violino] – Eu ouvia pouco, confesso, passei a ouvir mais depois desse projeto (o Mateus Ceccato também), pesquisar mais e me inteirar, porque, assim como o público que não está acostumado com uma orquestra sinfônica, quando ele se aproxima e começa a acompanhar, é muito difícil ele não se apaixonar, e vice-versa, eu que não ouvia muito bandas de rock, depois que você começa a acompanhar as boas bandas, que são inúmeras, você se apaixona.

(foto: credito Igor Aleixo)
Carlos Mendes (foto: credito Igor Aleixo)

RS – E depois de decidido o projeto, vocês ouviram os outros discos do Metallica, pré e pós Black Album para estudar o jeito que os músicos tocam? Imagino o trabalho extenso de pesquisa principalmente nos solos de guitarra.

Carlos Mendes [violino] – E uma coisa que teoricamente é complicada nisso, é que essas pessoas que são apaixonadas pelo Metallica conhecem cada nota que os guitarristas fazem, então, a gente teve que pesquisar e estudar muito, porque se você começa a mudar demais um solo o cara que tá ali vai falar não, não é isso que eu quero ouvir, eu não vim aqui pra isso.

Mateus Ceccato [violoncelo] – Uma adaptação necessária para um instrumento sempre existe, então, se for uma mudança precisa ser uma que faça sentido musicalmente para adaptar a técnica porque o que foi escrito originalmente para guitarra precisa ser tocado por outro instrumento.

RS – No caso de vocês todos, as músicas foram escritas para serem tocadas por guitarras, que tem 6 cordas, e os instrumentos que precisaram adaptar são de 4 cordas, como foi esse processo? 

Mateus Ceccato [violoncelo] – Além dessa questão a afinação também é diferente, então, algumas coisas podem até ser que fiquem mais simples no cello mas outras ficam muito mais complicadas por conta do dedilhado e do arco e tudo isso tem que ser adaptado. 

Para conferir mais o trabalho da Orquestra Petrobras Sinfônica acesse o site (petrobrasinfonica.com.br) e suas redes sociais (@petrobras_sinfonica).