Músico era a peça que faltava para os Beatles, especialmente por sua abordagem diferenciada no instrumento
Publicado em 21/06/2024, às 18h30
Todos os Beatles pareciam predestinados a, de alguma forma, trabalhar com música. Porém, a história de Ringo Starr é a mais peculiar nesse sentido.
O baterista, nascido Richard Starkey em 1940 na cidade inglesa de Liverpool, não tinha pais músicos. Sua mãe, Elsie Gleave, cantava por hobby e gostava de dançar com o marido, também chamado Richard. Teve uma infância marcada por diversos problemas de saúde — por isso, teve contato inicial com um instrumento de percussão somente durante sua estadia em um hospital, como forma de aliviar o tédio.
Starr acabou entrando para a banda do hospital. Recuperado, teve problemas para se adequar ao ritmo escolar, então passou a ver a música como sua salvação — ainda mais porque tentou arrumar trabalhos, mas não demonstrava ter muita disciplina.
Curiosamente, porém, suas habilidades como baterista foram desenvolvidas em um desses empregos, nas horas vagas que tinha em uma fábrica. Por ter aprendido o instrumento em uma situação pouco didática, Ringo nunca gostou de treinar. Mesmo assim, era um dos bateristas mais badalados do circuito de Liverpool antes de ser chamado para os Beatles, substituindo Pete Best, em 1962.
Em entrevista à AXS TV (via Rock and Roll Garage), Starr garantiu ao entrevistador Dan Rather que aprendeu a tocar bateria sem qualquer prática. Todo o seu treino se dava em situações envolvendo outros músicos. Ou seja: nada de tocar sozinho.
“Odeio praticar, odeio ficar sentado treinando. Eu até tentei quando ganhei meu kit de bateria, mas foi a coisa mais chata de todas. Fiz todo o meu aprendizado com outros músicos, outras bandas. Tive sorte, porque havia muitos por perto e nem todos éramos grandes músicos. Estávamos aprendendo, então aprendi tudo com todos os outros da época em Liverpool.”
Em seguida, ele compartilhou algumas lembranças do período. Chegou a mencionar os nomes de alguns músicos com os quais tocava.
“O cara que morava ao meu lado na rua trabalhava na fábrica. Era Eddie Miles, um grande guitarrista. Era um daqueles caras que conseguia aprender a tocar qualquer coisa. Meu melhor amigo, Roy, tinha um baixo, eu tinha uma caixa de bateria e baquetas do tipo vassoura. Costumávamos tocar na hora do almoço, no porão da fábrica. Foi assim que comecei — e hoje estou aqui falando com você.”
Ainda durante a entrevista, Ringo Starr apontou uma característica que acabaria se tornando um grande diferencial em seu trabalho com os Beatles: o fato de priorizar a composição e não a técnica na bateria ao criar suas linhas. Isso, segundo ele, vem de seu apreço pelas canções que escutava em seus anos de formação.
“Eu nunca ficava ali escutando o baterista. Quando ouvia os discos, prestava atenção em tudo. Tinha uma música do Al Green chamada ‘I’m a Ram’ e o cara (o baterista Al Jackson Jr) bateu bem alto ‘boom, boom, tiss’. É como mágica para mim.”
O músico garantiu lembrar-se desses momentos como se tivessem acontecido há poucos dias. Por fim, voltou a destacar aquele que pode ter sido sua maior referência no aprendizado da bateria: Al Jackson Jr, baterista da Stax Records que trabalhou com Al Green, Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Eric Clapton, Aretha Franklin, Rod Stewart, Bill Withers, Wilson Pickett, Leon Russell, entre vários outros.
“Al Jackson — sim, eu sei os nomes dos músicos e eles tocaram em ótimos discos. Mas não era como se eu estivesse prestando atenção na bateria.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.