Rod Melim lança Inimaginável, seu primeiro álbum solo: 'Esse recomeço me permitiu decidir tudo com tranquilidade' [ENTREVISTA]
'Eu sigo uma linha muito próxima do que a banda fez e ao mesmo tempo consegui trazer algumas coisas que não tinham na banda'
Aline Carlin Cordaro (@linecarlin)
Publicado em 31/01/2025, às 16h29 - Atualizado às 16h50
Após a pausa da banda Melim, o cantor e compositor Rod Melim lançou na última quinta-feira (30) seu primeiro álbum solo, Inimaginável, marcando o início de uma nova fase em sua carreira. O trabalho conta com 14 faixas e traz influências do pop, MPB, reggae e rock, mantendo elementos característicos que consolidaram seu nome na música. O projeto, produzido em parceria com Rafael Castilhol, inclui canções inéditas como "Cupido", "Aloha" e "Se o Amor Tivesse Espelho".
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O artista também anunciou seu primeiro show solo, que acontece no dia 9 de fevereiro no CineClube Cortina, em São Paulo. No repertório, além das faixas do novo álbum, ele revisita sucessos da banda Melim, como "Meu Abrigo" e "Ouvi Dizer". Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Rod Melim falou sobre o processo de criação do álbum, as influências musicais, sua transição para a carreira solo e os desafios desse novo momento.
Confira a entrevista completa abaixo.
Aline Carlin Cordaro (Rolling Stone Brasil):Inimaginável marca sua estreia solo. Muitos artistas dizem que começar uma carreira solo é desafiador porque precisam encontrar o equilíbrio entre inovar e manter algo familiar para os fãs. Como você lidou com isso em Inimaginável? Como foi traduzir sua identidade musical nesse trabalho e ainda criar algo que conversa com o público que já te acompanhava no Melim?
Rod Melim:Cara, isso acontece muito, inclusive com artistas que já têm álbuns lançados. Eu acho que, a cada trabalho, a gente sempre tenta trazer algo novo para os fãs, para as pessoas que curtem o trabalho. Mas você não pode perder a essência e as coisas que fizeram você criar aquele público.
Obviamente, numa carreira solo, no começo, em que eu não tenho nada sozinho, é um desafio um pouco maior, porque a gente pode se arriscar mais. Enfim, mas eu sempre fiz isso nos álbuns. Sempre tive esse cuidado de achar esse equilíbrio, e agora não é diferente. Eu sigo uma linha muito próxima do que a banda fez e, ao mesmo tempo, consegui trazer algumas coisas que não tinham na banda.
Depois de tantos anos com seus irmãos no Melim, como tem sido trabalhar sozinho? O que mudou na sua forma de criar e produzir música?
Obviamente, quando você faz algo em grupo, tem o benefício de receber novas ideias e opiniões que talvez não tivesse sozinho. E isso soma muito.
Tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que, quando você gosta muito de algo e quer botar em prática, basta sugerir, e a oportunidade surge naturalmente. Já o lado ruim é que, quando você quer ter uma soma de ideias ou uma segunda opinião, apesar de eu ter uma equipe, uma gravadora, sócios e pessoas que fazem esse papel, artisticamente, ter outros artistas vivendo o mesmo projeto traz um peso diferente, que também é muito legal.
Como foi o processo de criação e produção de Inimaginável? Há quanto tempo você vem trabalhando nesse projeto, e quais foram os maiores desafios durante esse período?
As composições de Inimaginável começaram em 2023. Eu não compus especificamente para o álbum, esperei encerrar o ciclo anterior para pensar em algo solo. Algumas músicas já estavam prontas desde então, porque sempre reviso tudo o que tenho antes de gravar, inclusive faixas que escrevi para outros artistas, para ver o que faz sentido no meu repertório.
Isso traz uma amplitude interessante, porque, quando a gente compõe apenas para si, acaba se limitando em estilo, segmento ou tema. Já ao reaproveitar músicas feitas para outros, o leque se abre.
Talvez Inimaginável, que dá nome ao disco, tenha sido a faixa mais trabalhosa. Gravamos cordas e alteramos sua levada algumas vezes. Inicialmente, ela era mais pop, mas acabou ganhando um tom mais pop rock.
“Mina Sereia” é uma música que foi lançada no dia do seu aniversário. Você revelou que ela originalmente seria para outro artista. Como foi o processo de adaptá-la e dar a sua cara para transformá-la no que ela é hoje?
Quando componho, penso no melhor para a música, sem necessariamente imaginar-me cantando. Mas ao decidir gravar Mina Sereia, precisei ajustá-la para combiná-la mais comigo.
A parte B da letra não encaixava muito, então reescrevi alguns trechos. Também incluí o looping, que não existia na versão original e que virou uma das marcas da faixa, inspirado em artistas como Ed Sheeran.
Com apenas dois acordes, explorei essa simplicidade e fui moldando até chegar ao resultado final. É um dos meus fonogramas favoritos do álbum.
Em “Aloha”, a guitarra do Felipe Melanio traz referências a John Frusciante. De onde surgiu essa inspiração? E que outras influências artísticas ou pessoais você trouxe para o álbum?
Durante uma viagem à Califórnia, eu ouvia muito Red Hot Chili Peppers e percebi como os riffs deles são simples, mas marcantes. Também notei como as músicas têm uma vibe jovial e orgânica, com baixo, bateria e guitarra segurando tudo, sem excessos.
Achei que isso combinava com a atmosfera do surf e passei essas referências para Aloha. A melodia da guitarra no começo da música segue a mesma linha da voz, o que reforça essa conexão. Algumas pessoas disseram que lembra o som do Red Hot, e, para mim, isso é um grande elogio, porque é uma banda que admiro muito.
Você disse que precisou escolher 14 faixas entre 40 composições. Como foi esse processo? Deixou alguma música que ficou de fora na gaveta?
Eu gosto de equilibrar o álbum entre diferentes estilos, como pop, MPB, reggae, rock e folk. Enquanto singles precisam ter um apelo mais comercial, um álbum me permite explorar sonoridades diversas.
Na seleção das faixas, priorizei essa variedade. Algumas músicas boas ficaram de fora porque caíam no mesmo segmento de outras já escolhidas, então preferi deixá-las para um próximo trabalho.
Das 40 composições, cerca de 10 já estavam prontas em 2023, e depois fiz mais 30. A segunda parte do álbum está encaminhada, mas ainda quero testar algumas músicas antes de fechar o repertório. Para mim, tudo começa com uma boa composição — quando a música nasce forte na melodia e na letra, o arranjo vem naturalmente.
Existe algum gênero ou estilo musical que você ainda não explorou, mas que gostaria de trazer para um futuro projeto?
Existem vários estilos que ainda não explorei, mas, por enquanto, prefiro manter um direcionamento mais coeso. Escrevo para muitos artistas e já tive composições gravadas no sertanejo, pagode, gospel e até funk.
Em algum momento, posso trazer essa diversidade para o meu trabalho solo, mas com cuidado para que faça sentido artisticamente. Ainda não sinto essa vontade agora, mas acredito que no futuro será uma experiência interessante.
Por que o título Inimaginável foi escolhido para o álbum, e qual é a conexão dele com a mensagem que você quer passar neste trabalho?
Escolhi Inimaginável por ser um tema amplo, criativo e pouco explorado. Ele permite sonhar e criar, algo essencial na hora de entregar um trabalho.
Minha única dúvida inicial foi se o nome faria sentido com o restante das músicas. Mas conseguimos contextualizar o conceito ao longo do álbum, e estou muito satisfeito com o resultado. Na segunda parte, quero continuar trazendo mais elementos que reforcem essa ideia. Acho que acertamos em cheio na escolha do título.
Você comentou em entrevistas que ainda compõe com a Gabi e o Diogo nos bastidores. Essa colaboração pode gerar algo no futuro, mesmo com o hiato da banda?
Chance sempre tem, mas, por enquanto, cada um está curtindo sua própria fase. Não descarto a possibilidade no futuro, até porque o público sente falta da banda.
Ainda componho com o Diogo e a Gabi, e essa troca mantém nossa conexão. No meu disco, por exemplo, tem Seu Amor Tivesse Espelho, que escrevi com o Diogo, além de outras músicas para o projeto dele. De certa forma, continuamos próximos artisticamente.
No dia 9 de fevereiro, você sobe ao palco do CineClube Cortina, em São Paulo, para seu primeiro show solo. Como está a preparação para esse momento? Quais são as diferenças de quando você se apresentava com seus irmãos?
A preparação está intensa. Mesmo organizando tudo com antecedência, a reta final sempre acumula tarefas como ensaios, cenário, figurino, divulgação e lançamento do disco. Está sendo corrido, mas faz parte do processo.
A principal diferença agora é que, sem a banda, as decisões são mais ágeis, o que traz mais organização e tranquilidade. A dedicação continua a mesma, mas essa autonomia facilita a gestão do trabalho.
Você vai revisitar sucessos do Melim, como “Meu Abrigo” e “Ouvi Dizer”. Como foi adaptar essas músicas para o show solo?
Precisei adaptar os tons das músicas. Ouvi Dizer, por exemplo, eu só fazia backing vocal, então desci o tom para conseguir cantar. Já Meu Abrigo tem uma modulação para o tom feminino que optei por não fazer. Mas, para o público, a energia continua a mesma.
Recentemente, cantei Meu Abrigo com Victor Kley e foi incrível. Essas músicas já se tornaram eternas, mas o show não será só de grandes sucessos. Além das faixas do novo álbum, incluí músicas que gosto e fazem sentido comigo, como Transmissão de Pensamento, Paz e Amor e Gelo.
O setlist equilibra novidades e sucessos. Começo o show com músicas novas, depois mesclo com clássicos e termino com minhas próprias composições. Tudo foi pensado para que o show tenha a identidade desse novo momento.
O CineClube Cortina é um espaço mais intimista. Isso foi proposital para criar uma conexão mais próxima com o público? O que os fãs podem esperar dessa apresentação?
Como estamos nesse recomeço, quisemos testar um espaço menor para o lançamento e depois expandir a turnê. Visitamos algumas casas em São Paulo e gostei muito do CineClube Cortina – é moderno, aconchegante e comporta cerca de 450 pessoas, o que é ideal para esse momento.
O palco não é enorme, mas permite um show bem produzido. Já planejamos o cenário com bastões de LED, e acho que o público vai curtir essa experiência mais próxima. Shows menores trazem um calor diferente, fortalecem a conexão com a galera.
Também vamos aproveitar para atender o público no Recuo, onde terá uma lojinha e backdrop para fotos. No fim, o mais importante para mim é estar em um show onde as pessoas realmente curtem, cantam e compartilham essa energia.
Você disse que todo recomeço é como escrever uma história nova numa folha em branco. Até agora, o que essa nova história trouxe para você como artista e como pessoa?
Quando se inicia um novo trabalho, bate aquela reflexão: E agora?. Alguns artistas veem isso como um vazio, mas eu gosto dessa liberdade de criar algo do zero.
Essa nova fase me permitiu experimentar, escolher caminhos e tomar decisões com mais autonomia. Tem sido um processo de amadurecimento, porque a responsabilidade agora está toda em mim, mesmo com parceiros ao lado.
Me sinto motivado, confiante e pronto para continuar escrevendo essa história que começou com Mina Sereia e agora segue com Inimaginável.
Com tantas novidades em sua vida – Inimaginável, o primeiro show solo e os planos para o casamento (que boatos dizem que será em junho haha) –, como você está lidando com tantas mudanças na sua vida?
Definimos a data do casamento, mas nem enviamos o save the date ainda. Vai ser no meio do ano, e é uma parada maneira. Tem muitos detalhes para resolver, mas é algo especial de se viver.
O amor sempre teve um papel importante na minha vida e carreira. Estou há dez anos com a Joyce, que me dá um porto seguro e inspirou muitas das minhas músicas. É curioso como esse momento pessoal coincidiu com o início da minha fase solo.
A vida reserva surpresas, e essa energia de começar algo novo está sendo muito especial. Assim como o primeiro show, que vai ser emocionante, o casamento será algo inédito para mim. Não faço ideia de como vou me sentir no dia, mas estou feliz e animado para viver tudo isso.
Agora, com a turnê chegando, a Joyce deve viajar mais comigo, o que vai ser legal. E com essa nova fase, minha vida pessoal e a carreira acabam se misturando ainda mais. Sempre tive esse sentimento, mas agora está mais forte – você não sabe onde começa o artista e onde termina a pessoa.
Por fim, Inimaginável é o início de um novo capítulo para você. O que você gostaria que os fãs levassem dessa nova fase da sua música?
Eu quero, antes de tudo, que eles curtam muito o disco, as letras, que se emocionem e que consigam atender às próprias expectativas. Acho que ninguém sabe exatamente o que vem, mas eles esperam algo com que possam se identificar de alguma forma. Inimaginável representa muito isso.