ENTREVISTA

Scorpions fala à RS sobre shows no Brasil, Judas Priest, Mikkey Dee e cinebiografia

Banda alemã, uma das maiores da história do hard rock, chega ao país como atração principal do Monsters of Rock 2025 e realiza mais duas apresentações

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 07/04/2025, às 08h10
Rudolf Schenker e Klaus Meine, membros do Scorpions - Foto: Andreas Rentz / Getty Images
Rudolf Schenker e Klaus Meine, membros do Scorpions - Foto: Andreas Rentz / Getty Images

Klaus Meine está certo de que a relação do Scorpions com o público do Brasil é especial. “Nossa história com os fãs brasileiros remonta a 1985, quando tocamos na primeira edição do Rock in Rio, então voltar sempre é algo muito especial”, diz o vocalista, em entrevista à Rolling Stone Brasil com a presença também do guitarrista Rudolf Schenker.

O cantor não mente. A banda alemã, uma das maiores da história do hard rock, já veio onze vezes ao país tropical. E logo desembarca para a décima segunda turnê.

Completo por Matthias Jabs (guitarra), Pawel Maciwoda (baixo) e Mikkey Dee (bateria), o quinteto se apresenta como atração principal do Monsters of Rock, festival que acontece no Allianz Parque, em São Paulo, no dia 19 de abril. Judas Priest, Europe, Savatage, Queensrÿche, Opeth e Stratovarius completam o lineup.

Scorpions (E-D): Pawel Maciwoda, Matthias Jabs, Klaus Meine, Rudolf Schenker e Mikkey Dee
Scorpions (E-D): Pawel Maciwoda, Matthias Jabs, Klaus Meine, Rudolf Schenker e Mikkey Dee - Foto: divulgação / Mercury Concerts

Paralelamente, eles tocam também em Brasília, no festival Arena of Rock, junto ao Priest e Europe, além do Kisser Clan, no dia 16 de abril. Cumprem ainda uma data solo no Qualistage, Rio de Janeiro, em 21 de abril. Ingressos podem ser adquiridos em links no site oficial.

Embora seja uma das bandas de rock mais constantes e profissionais em todos os tempos — a ponto de ter sido fundada por Schenker há 60 anos e contar com Meine há 56 —, os fãs ficaram assustados recentemente com os problemas de saúde de um dos integrantes. Justo um dos mais jovens. Dee, hoje com 61, ficou hospitalizado por três semanas, no fim de 2024, devido a uma sepse que definiu como “muito séria”. Ele havia torcido o pé e optou por automedicação, mas o quadro piorou a ponto de ter colocado sua vida em risco.

Mikkey Dee, baterista do Scorpions - Foto: Scott Legato / Getty Images
Mikkey Dee, baterista do Scorpions - Foto: Scott Legato / Getty Images

Felizmente, Mikkey — também famoso pela longa relação com o Motörhead — se recuperou, mas a banda precisou realocar, de fevereiro para agosto, uma temporada de shows em Las Vegas. Além disso, o retorno aos palcos, durante o festival mexicano Vive Latino no último dia 15 de março, teve o apoio de seu filho, Marcus, assumindo as baquetas em uma das músicas, “Big City Nights”, enquanto o pai descansava.

Klaus definiu a situação do baterista como “trágica” e explicou que a decisão de adiar a temporada em Vegas ocorreu por cautela. Ele diz:

“Ele precisou passar por uma cirurgia no pé. Não sabíamos se ele estaria bem e em forma já em março. Por isso, tivemos que adiar os shows em Las Vegas. Depois, ensaiamos o set e ele trouxe seu filho Marcus, que também é um fantástico baterista. Foi incrível ver os dois juntos na Cidade do México, essa passagem de bastão do Mikkey para a nova geração, enquanto o pai tinha um pequeno respiro. Foi bom para que ele não se colocasse em risco, pois na América Latina, queremos Mikkey em plena forma. Acho que lidamos bem no México e os fãs adoraram.”

E como o público reagiu? Meine apontou uma reação curiosa por parte dos fãs:

“Muita gente ficou perguntando: ‘quem é esse jovem e belo baterista?’. E acho que Mikkey ficou — e ainda está — muito orgulhoso de ver seu filho tocando na frente de 80 mil fãs mexicanos enlouquecidos.”

Agora, o cantor — que falou bem mais do que Rudolf durante a entrevista — está ansioso para trazer o atual show para o Brasil. A turnê atual celebra dois marcos ao mesmo tempo: o 60º aniversário de fundação e os 40 anos de Love at First Sting (1984), nono álbum de estúdio e um de seus mais populares, com hits do porte de “Still Loving You”, “Rock You Like a Hurricane” e “Big City Nights”. Caso o repertório do México seja mantido, fãs de Brasília, São Paulo e Rio ouvirão este disco quase que na íntegra, junto a sucessos de outros trabalhos, como “Wind of Change”, “Send Me an Angel”, “The Zoo” e mais.

“São Paulo é uma cidade muito ‘hard and heavy’, dá para sentir que eles amam a banda, amam esse gênero musical. São verdadeiros headbangers! Estamos muito animados por fazer parte disso, especialmente com as outras bandas do lineup, como o Judas Priest. Este será um ano muito especial para nós e vamos percorrer toda a América Latina. E começamos no Brasil, passando por Brasília, São Paulo e, claro, o Rio de Janeiro.”
Klaus Meine, vocalista do Scorpions, em 2023
Klaus Meine, vocalista do Scorpions, em 2023 - Foto: Mark Wieland / Redferns

A bebedeira com Judas Priest e Def Leppard

O histórico do Scorpions com o Judas Priest, diga-se, vem de longa data. Os colegas ingleses — provavelmente a banda de heavy metal mais importante a ainda estar em atividade — foram responsáveis por fazer Rudolf Schenker romper seu silêncio durante a entrevista. O guitarrista relembrou uma história curiosa envolvendo o Priest e outro grupo britânico, Def Leppard, em meio a uma turnê em 1980.

Inicialmente, ele conta:

K.K. [Downing, ex-guitarrista] e Glenn [Tipton, guitarrista afastado] são responsáveis pelo título do nosso álbum Blackout (1982). Eles vieram até meu quarto de hotel com duas ou três garrafas de cerveja e disseram: ‘vamos beber para celebrar a turnê’. Eu concordei, mas disse que não era suficiente. Teríamos que beber do jeito Scorpions: uísque, vinho tinto e, por cima, cerveja, por causa da espuma branca. De repente, Glenn perguntou: ‘ei, onde estão os Leppies?’. Era o apelido do Def Leppard. Fomos até o quarto deles. Falei: ‘não acredito que vocês estão aqui assistindo TV’. Peguei o copo e despejei toda a bebida na TV. O resultado? Quase fui preso e nem lembrava de nada.”

No dia seguinte, Schenker compartilhou a história com Meine e o baterista da época, Herman Rarebell. Foi aí que o guitarrista descobriu o termo que nomearia o disco do clássico “No One Like You”.

“A primeira coisa que Herman disse ao saber do que aconteceu foi: ‘Sabe o que você teve? Um blackout’. Eu perguntei: ‘Que blackout?’. E ele respondeu: ‘Sim, quando você não lembra dessas coisas, isso se chama blackout’" Herman já estava saindo quando se virou e disse: ‘aliás, esse é um bom nome para um álbum’. E assim nasceu Blackout, o álbum!”
Scorpions: Rudolf Schenker e Klaus Meine em 1982
Scorpions: Rudolf Schenker e Klaus Meine em 1982 - Foto: Ebet Roberts / Redferns / Getty Images

Klaus ainda brincou que, talvez, o hit do Judas Priest “Breaking the Law” tenha surgido também desta história. A cronologia não bate — já que a faixa foi lançada antes da turnê em questão —, mas o cantor, claro, só estava zoando. Rudolf complementa:

“Tivemos ótimos momentos juntos com o Judas Priest. Temos uma grande amizade, especialmente com Rob [Halford, vocalista]. Ele é um cara incrível. Na última vez que tocamos em Las Vegas, o baterista deles [Scott Travis] foi nos visitar e assistir ao show. É importante ter amigos ao redor na estrada. Isso cria uma atmosfera diferente no palco.”
Rob Halford, vocalista do Judas Priest
Rob Halford, vocalista do Judas Priest - Foto: Harmony Gerber / Getty Images

Scorpions nas telas

O 60º aniversário do Scorpions deve ser celebrado, também, com um filme no formato cinebiografia. Também chamado Wind of Change, o longa-metragem ainda não tem data para estrear, mas sabe-se que as filmagens começam ainda neste primeiro semestre. Alex Ranarivelo será o diretor, enquanto a produtora ESX Entertainment cuida do desenvolvimento.

De acordo com Klaus Meine, Ranarivelo é grande fã da banda e partiu dele a ideia de fazer uma cinebiografia em vez de um documentário. O vocalista conta:

“Ainda estamos na fase de configurar todo o projeto. Queremos que as filmagens comecem em breve, mas ainda não sabemos exatamente quando. Esperamos que consigam terminar tudo nos próximos meses, para que coincida com o 60º aniversário da banda. Eles vão contar a história dos Scorpions de um ponto de vista diferente. O produtor é persa, vive em Los Angeles e trabalha muito próximo da Warner Bros há muitos anos.”

Rudolf Schenker, no momento derradeiro da entrevista, rompe o silêncio novamente. Aos risos, diz:

“Será com atores reais, não nós! Estão procurando um jovem Klaus Meine e um jovem Rudolf Schenker.”
Rudolf Schenker, guitarrista do Scorpions, em 2023
Rudolf Schenker, guitarrista do Scorpions, em 2023 - Foto: Mark Wieland / Redferns

*O Scorpions se apresenta em Brasília (Arena of Rock - 16/04), São Paulo (Monsters of Rock - 19/04) e Rio de Janeiro (Qualistage - 21/04). Ingressos podem ser adquiridos nos links destacados no site oficial da banda.

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