Sharon Van Etten troca folk por rock gótico e eletrônico em primeiro disco com banda
Sharon Van Etten se reuniu com antigos parceiros de turnê para dar vida ao novo álbum; The Attachment Theory é formada por Devra Hoff, Teeny Lieberson e Jorge Balbi
Heloísa Lisboa (@helocoptero)
Publicado em 16/02/2025, às 19h00
Sharon Van Etten atacou novamente — e, dessa vez, ela veio acompanhada. A cantora se juntou oficialmente a Devra Hoff (baixo), Teeny Lieberson (sintetizadores e vocais) e Jorge Balbi (bateria).
O elenco não é totalmente novidade: Sharon contou em sua newsletter que, em 2022, estava em turnê com o grupo. Em dado momento, ela "interrompeu o ensaio" porque estava "cansada de ouvir" suas próprias músicas. Foi então que a artista pediu aos amigos que fizessem uma sessão de improviso — era o início da Sharon Van Etten & The Attachment Theory.
A banda lançou na sexta-feira, 7, um álbum autointitulado, que aprofunda a estética gótica e sons que remetem aos anos 1980 de Van Etten. Para parte dos fãs da artista, o novo disco parece o resultado natural do que ela vinha explorando nos seus dois últimos projetos solo: Remind Me Tomorrow (2019) e We've Been Going About This All Wrong (2022).
Ver essa foto no Instagram
Sharon Van Etten & The Attachment Theory começa com "Live Forever", que, apesar de levar o mesmo nome que uma das faixas mais famosas do Oasis, não tem nada a ver com os britânicos. A canção é introduzida com sons eletrônicos, logo invadidos pelo baixo de Devra e, em seguida, pela bateria de Jorge, fazendo com que a música passe de uma atmosfera espacial, conferida pelos sintetizadores de Teeny, para uma canção que lembra rock progressivo.
"Afterlife" foi o primeiro single divulgado — menos arriscado que os dois outros. Com um ritmo que sugere uma dança calma, essa tocaria nas rádios. A letra pode adquirir interpretações românticas e até mesmo adequadas para o luto.
Ver essa foto no Instagram
Em "Idiot Box", é o teclado de Teeny e o riff de Sharon que chamam mais atenção. As bandas que nasceram na Inglaterra — onde o álbum foi gravado —, que Van Etten cita como inspirações em sua newsletter, como The Cure e New Order começam a demonstrar sua influência sobre o disco.
Gritos da cantora, que diz "Let's go" no meio "Idiot Box" e "Stop it" em "I Can't Imagine (Why You Feel This Way)", lembram hinos de Arcade Fire e Talking Heads. Já a energia em "Trouble" é de Chromatics, com menos mistério e um teclado repetitivo — o que não é ruim. O baixo deixa a música mais obscura.
Ver essa foto no Instagram
"Indio" é curta, assim como "I Can't Imagine (Why You Feel This Way)". A bateria da primeira remete ao pós-punk, enquanto a segunda é mais divertida e acelerada, com Devra e Jorge conduzindo a faixa muito bem. "Somethin' Ain't Right", por sua vez, tem um refrão que ameniza o clima no verso "Do you belive in compassion for enemies" e cria tensão novamente quando Sharon canta "Somethin' ain't right" e homenageia Peter Hook na guitarra.
Ao longo do disco, e especialmente em sua segunda metade, a banda se aproxima de letras críticas que exploram a interação individual com o coletivo. "Southern Life (What It Must Be Like)", outro single, apresenta a voz de Van Etten com poucas variações. O lançamento antecipado da canção foi importante para prevenir fãs de choques com o que viria no álbum.

"Fading Beauty" lembra, de certo modo, as composições solo de Sharon. Comparada às faixas anteriores, essa tem um toque de delicadeza conferido pelo piano. Encerrando a primeira empreitada oficial da Sharon Van Etten & The Attachment Theory, "I Want You Here" coroa o projeto com drama. Embora as duas últimas músicas destoem do restante do disco, The Attachment Theory conseguiu imprimir sua digital no som que agora não pertence mais apenas à autora de "Seventeen".
O álbum de estreia da banda se destaca na discografia de Sharon porque investiga o sombrio que já existia em sua obra. Com um dos melhores e mais distintos vocais da música atual, a cantora entregou sua organicidade ao som eletrônico de uma forma que apenas Devra Hoff, Teeny Lieberson e Jorge Balbi poderiam convencê-la. Provavelmente, Sharon Van Etten & The Attachment Theory já é o suficiente para que os fãs fiquem apegados e por perto até o próximo movimento do grupo.
Agora, só falta anunciarem um show no Brasil.