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Snoop Dogg: “se você tem 1 bilhão de streams, por que não ganhar US$ 1 milhão?”

Astro do hip hop, que também é dono de gravadora, apoia greve dos roteiristas de Hollywood e diz que músicos precisam encontrar forma semelhante de protestar

Igor Miranda (@igormirandasite)
por Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 09/06/2023, às 09h17

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Snoop Dogg (Foto: Emma Mcintyre / Getty Images)
Snoop Dogg (Foto: Emma Mcintyre / Getty Images)

Grande nome da história do hip hop, Snoop Dogg tem plena consciência do mercado em que está inserido. Não à toa, chegou a comprar a gravadora onde começou, a Death Row, e se envolveu diretamente com a parte comercial desse cenário.

Ciente dos desafios, o astro reserva duras críticas às plataformas de streaming, como Spotify, Apple Music, Deezer, entre outros. Em uma recente declaração durante um evento nos Estados Unidos (via Variety), o rapper e empresário chegou a comparar a situação com a greve dos roteiristas em Hollywood, capaz de travar as maiores produções cinematográficas do mundo desde o início do mês de maio.

Na visão de Snoop, não é compreensível como roteiristas e músicos “não podem ser pagos” por modelos de pagamento “ferrados”. A turma do cinema conseguiu mostrar seu poder, o que não tem sido o caso para os outros tipos de profissionais - por isso, ele sugere que “os músicos descubram isso da mesma forma que os roteiristas estão descobrindo”. Ele ainda destacou:

“Os roteiristas estão fazendo greve por causa das plataformas de streaming [como Netflix, Amazon Prime Video, entre outras]. Eles não conseguem receber. Porque quando está na plataforma, não é como na bilheteria, onde você acompanha a renda.”

+++ LEIA MAIS: Snoop Dogg apoia greve dos roteiristas e critica pagamento 'f*dido' dos streamings

Em seguida, Dogg deixou claro não entender “como diabos alguém consegue ser pago nesta m#rda”, tendo em vista as injustiças que ocorrem neste mercado. E afirmou:

“Alguém me explique: como você pode obter um bilhão de streams e não receber 1 milhão de dólares? Essa é a principal reclamação de muitos de nós, artistas, é que geramos grandes números, mas isso não se vê no dinheiro. Tipo, onde diabos está o dinheiro?”

Não à toa, a primeira medida de Snoop Dogg ao comprar a gravadora Death Row foi tirar todos os discos já lançados das plataformas de streaming. Ele explicou ao podcast Drink Champs (via Music Non Stop):

“A primeira coisa que fiz foi tirar todas nossas músicas daquelas plataformas de streaming tradicionalmente conhecidas pelo público, porque elas simplesmente não pagam. E tais plataformas ganham milhões e milhões em streamings e ninguém é pago além das grandes gravadoras. Então decidi por tirar todo o catálogo, criar uma plataforma própria, similar à Amazon, Netflix e Hulu. Vai ser um app da Death Row. E então a música viverá no metaverso.”

Em 2020, um relatório divulgado pelo site Business Insider apontou que os artistas recebiam apenas US$ 0,0033 a cada reprodução de sua música no Spotify. É menos da metade de um centavo de dólar. Assim, você precisa de 300 reproduções/streams para receber um dólar por sua obra.

Ao USA Today, uma cantora de 22 anos chamada Mackenzie Miller disse que seu single “Peach Lemonade” recebeu quase 14 mil reproduções nas primeiras semanas de seu lançamento. Porém, seu pagamento mal chegava a US$ 5. Isso ocorre porque não significa que você vai receber US$ 0,0033 por reprodução de música (este é um valor médio) e porque detentores de direitos e distribuidores também são pagos.

A sugestão do CEO do Spotify

Também em 2020, o CEO do Spotify, Daniel Ek, gerou polêmica ao oferecer o que considera ser a solução para o problema. O profissional destacou que os músicos precisam “gravar mais”, já que estão reclamando sem oferecer muito em troca.

Em entrevista ao MusicAlly, Ek declarou que, na verdade, não existem reclamações que demonstrem insatisfação real dos músicos com os valores de remuneração.

“Privadamente, eles elogiam o Spotify. Porém, eles não são incentivados a fazer isso em público. Existem cada vez mais artistas que conseguem viver somente da renda vinda do streaming.”

Na sequência, veio a declaração de que os músicos precisam, mesmo, trabalhar mais. Uma fala surpreendente, tendo em vista a quantidade de reclamações em torno dos valores.

“Alguns artistas ganhavam mais no passado e hoje em dia podem não ganhar tanto, pois hoje em dia não dá para alguém gravar música a cada 3 ou 4 anos e achar que isso será o bastante. Os artistas que estão conquistando seus lugares hoje em dia sabem que é necessário criar um engajamento com os fãs de forma contínua. Ao lançar um álbum, é preciso ter uma história a respeito dele e continuar a se comunicar com os fãs. Aqueles que não estão indo bem nas plataformas de streaming são, em maior parte, aqueles que querem lançar música do jeito que era antes.”

A greve dos roteiristas

Citada como modelo de protesto por Snoop Dogg, a greve dos roteiristas foi capaz de paralisar as produções de séries como Stranger Things, A Casa do Dragão e Cobra Kai; programas a exemplo de Saturday Night Live, Jimmy Kimmel Live! e Late Show with Stephen Colbert; bem como filmes do porte de Blade. Não há previsão para o fim da manifestação.

Igor Miranda (@igormirandasite)

Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.