CRISE

Por que há cada vez menos bandas, segundo Steve Morse (ex-Deep Purple)

Desafios econômicos diversos, desde falta de retorno financeiro a custos relacionados a fazer um show, desencorajam jovens a tentar carreira na música

Pedro Hollanda

Steve Morse, guitarrista que por décadas integrou o Deep Purple (Foto: Jim Bennett/Getty Images)
Steve Morse, guitarrista que por décadas integrou o Deep Purple (Foto: Jim Bennett/Getty Images)

A história da música popular se construiu em cima de colaboração. Bandas foram sempre o veículo principal do rock. No entanto, isso tem mudado com os anos — e Steve Morse vê um motivo muito claro para isso.

Em entrevista ao canal Boomerocity (via Ultimate Guitar), o ex-guitarrista do Deep Purple discutiu as dificuldades inerentes à profissão. Além disso, apontou como as perspectivas limitadas de conseguir ganhar a vida afastam jovens da música.

Ele falou:

“Poucos jovens estão escolhendo esse caminho após perceber que, se trabalharem de jardineiros cortando grama, ganhariam cinco a seis vezes mais dinheiro. Mas sempre há aquelas pessoas que desafiam as chances. Assim como quando se compra bilhete da loteria, não estão pensando: ‘Bem, minhas chances são… desse dinheiro ir direto pro cofre de quem gerencia a loteria’. Eles pensam: ‘Eu consigo ser aquele um. Eu posso ser o vencedor’. Músicos se pensam capazes de superar as expectativas. Eu acredito que qualquer músico que coloca corpo e alma na sua carreira ao longo da vida encontrará um jeito de se sustentar. Essa é a minha definição de sucesso. Quando você é capaz de fazer o que quiser, o que prefere fazer, e ter isso como seu trabalho.”

Além do desafio de fazer dinheiro com música, Morse também destacou a questão dos custos relacionados a shows. Desde a pandemia, diversos artistas de níveis diferentes da indústria apontaram como se tornou quase proibitivo sair em turnê, tamanhos são os gastos.

O guitarrista comentou:

“Um negócio curioso que tem evoluído — e é possivelmente devido aos custos de turnê e armar um show, ter segurança, estacionamento e todas essas coisas estarem tão caras — é que fica difícil encontrar bandas conhecidas capazes de arcar com os custos de tocar nesses lugares.”

Morse ainda apontou um fenômeno que notou. Casas de show nos Estados Unidos têm enchido seus calendários cada vez mais com bandas de tributo a artistas famosos, cujo retorno para eles é mais estável comparado a um artista novo.

Ter banda é caro

Os comentários do ex-guitarrista do Deep Purple lembram um pouco algo dito por uma lenda do rock brasileiro. Em entrevista de outubro à Rolling Stone Brasil, Paulo Ricardo debateu a falta de incentivo financeiro para tocar instrumentos.

Ele disse:

“Estava lendo uma entrevista do Adam Levine (Maroon 5) sobre a queda no número de bandas; Uma das explicações é muito simples: uma banda é cara. Uma boa guitarra como Fender ou Gibson custa uns US$ 2 mil a US$ 5 mil. Aí tem amplificadores, pedais… se falar em teclado e bateria, então… Cada um tendo seus instrumentos, tem custo de alugar estúdio para ensaiar, van para shows, roadie. É tudo muito caro. Enquanto isso, um garoto criativo pega um laptop, faz tudo e vende milhões.”

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Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como IgorMiranda.com.br, Scream & Yell e Rock'n'Beats.
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