ENTREVISTA

Sublime no Brasil: Jakob Nowell fala à RS sobre shows, volta da banda e futuro

Filho de Bradley Nowell assumiu posto do pai no lendário grupo de ska punk, que se apresenta com Offspring e mais atrações no Rio, SP e Curitiba

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 04/03/2025, às 08h00 - Atualizado às 08h00
Jakob Nowell, vocalista do Sublime - Foto: Scott Dudelson / Getty Images for Coachella
Jakob Nowell, vocalista do Sublime - Foto: Scott Dudelson / Getty Images for Coachella

“Não acredito: vou estar tocando em outra parte do mundo — muito f#da”. Jakob Nowell demonstrou à Rolling Stone Brasil estar bem empolgado com a visita do Sublime, propriamente dito, ao Brasil. Algo que seu pai, Bradley Nowell, infelizmente não pôde fazer.

A lendária banda americana chega ao país como parte de uma turnê capitaneada pelo Offspring e que também reúne Rise Against, The Damned, Amyl & the Sniffers e The Warning. O lineup completo, com todas as bandas, poderá ser assistido em São Paulo (08/03) e Curitiba (09/03). Já em Belo Horizonte (05/03), Rio de Janeiro (06/03) e Porto Alegre (11/03), a atração principal irá se apresentar com alguns de seus colegas. Dessa forma, além de SP e Curitiba, o Sublime está escalado para tocar no Rio. Ingressos estão à venda na Eventim.

É a continuação de uma história que, de tão impressionante, deveria virar um filme — algo que, tudo indica, irá acontecer mesmo. Formado em 1988 em Long Beach, na Califórnia, o Sublime lançou três álbuns em sua configuração original, composta por Bradley Nowell (voz e guitarra), Eric Wilson (baixo) e Bud Gaugh (bateria). Os dois primeiros, 40oz. to Freedom (1992) e Robbin’ the Hood (1994), fizeram sucesso moderado. O terceiro, batizado apenas de Sublime (1996), enfim encantou o planeta, mas saiu dois meses após a morte de Bradley, em decorrência de uma overdose. Era a melhor banda que o mundo jamais teria.

Sublime em 1995
Sublime em 1995 - Foto: Steve Eichner / WireImage

Ao menos até agora. Após um período sob o nome Sublime with Rome junto ao frontman Rome Ramirez — com direito a cinco turnês nacionais —, eis que, em 2023, Eric e Bud retomaram o Sublime com Jakob ocupando a vaga do próprio pai. Nascido 11 meses antes da morte de Bradley e um orgulhoso residente de Long Beach, o jovem músico de 29 anos fez carreira anteriormente como membro de bandas como Law (também de ska punk) e Death of the Author (metal progressivo) antes de montar seu próprio projeto, Jakob’s Castle, em 2021. Ou seja: ele já tinha experiência quando pintou a oportunidade de se juntar aos “tios” Eric e Bud.

A decisão de Jakob reativar o Sublime surgiu durante uma visita em setembro de 2023 ao Phoenix Theater, local em Petaluma que recebeu o último show do grupo com Bradley. No local, acontecia uma reunião de ex-dependentes químicos, encontrada por acaso. O próprio jovem havia superado o vício em drogas, mesmo problema que tirou a vida de seu pai. Ali, percebeu: reunir a banda era uma missão de vida.

Sublime em 2024
Sublime em 2024 - Foto: Joshua Kim / divulgação

Após uma sequência de pouco mais de 20 shows nos Estados Unidos e México entre 2023 e 2024, era hora de expandir os horizontes. Entra, aí, a iniciativa de excursionar pelo Brasil, país a respeito do qual Jakob só parece saber uma coisa: é um local de grande cultura gamer, assunto pelo qual tem interesse. A respeito da turnê em formato de festival, com outras atrações, ele admite: só ficou sabendo que se apresentaria com mais bandas além do Offspring no momento da entrevista. “Talvez tenham me contado e eu esqueci”, confessa, antes de contar uma história curiosa envolvendo o grupo de Dexter Holland, Noodles e companhia:

“Sempre gostei de Offspring, mas quando tinha uns 15 anos, em um dos meus primeiros empregos — conselheiro júnior do YMCA (Associação Cristã de Moços) —, conversei com uns garotos que eram mais ‘legais’, falei de Offspring e eles disseram: ‘cara, Offspring é gay pra car#lho’, reagiram como se eu tivesse alguma doença. Isso me atingiu. Mas eram moleques e, felizmente, ninguém mais pensa assim. Não há razão para ser maldoso com nenhuma banda.
Acho que muita música que não era considerada tão ‘legal’ ou ‘hardcore’ 20 anos atrás agora foi reavaliada, tipo: ‘deixa pra lá, não percebemos o quanto era bom, a música de agora é muito pior, vamos voltar para aquilo!’. Vi as pessoas daquele festival em Vegas [When We Were Young] empolgadas com o Paramore e pensei: ‘vocês todos disseram que odiavam isso quando eu era garoto, agora vocês estão empolgados?’. Sempre foi uma banda legal.”

O que esperar do “novo” Sublime

Fãs que pretendem assistir ao Sublime no Rio, em São Paulo ou em Curitiba devem esperar algo um pouco diferente do que foi apresentado na América do Norte em 2024. Jakob Nowell disse que o repertório dos shows deve incluir algumas músicas diferentes e até mesmo um visual de palco distinto, mais certeiro em abordar toda a cultura do sul da Califórnia em vez de trazer apenas “artes chapadas de dormitório de faculdade”.

“O primeiro ano da volta do Sublime consistiu em sentir toda a vibe de como é um show da banda nos tempos modernos. Agora, vamos tentar adicionar mais algumas músicas e estamos trabalhando também para compor material inédito. Se curtirmos bastante, podemos até mesmo tocar, embora eu saiba que os fãs querem ouvir as boas velhas. Vamos tocar muitas favoritas dos fãs. Sabe como muitos músicos odeiam tocar seus hits por anos? Não tenho isso, pois nunca precisei tocar ‘Santeria’ ou ‘What I Got’, então amo tocá-las. E também vão rolar algumas músicas menos conhecidas dos discos. Além disso, estamos trabalhando em algumas mudanças legais no cenário, no design de palco e coisas assim.”

O novo frontman garante, ainda, estar bem entrosado com Eric Wilson e Bud Gaugh. Para ele, os colegas veteranos são dois dos músicos mais subestimados do rock.

“Nos conhecemos bem ao longo do último ano e estamos mais confortáveis agora. Eles são realmente muito bons, muito subestimados. Bud é articulado, mas também selvagem e bate muito forte. Eric toca essas linhas de baixo insanamente complicadas, mas ao mesmo tempo cativantes. Tenho muito orgulho de poder tocar com esses caras, e entendo por que esses elementos precisavam estar lá para que as músicas ficassem boas.”
Sublime ao vivo em 2024
Sublime ao vivo em 2024 - Foto: Kevin Winter / Getty Images for Audacy

Quanto a músicas inéditas — sejam tocadas ou não durante os shows no Brasil —, Nowell revela estar em processo de composição, diz que pessoas próximas indicam uma similaridade sonora com o álbum de estreia 40 Oz. to Freedom e aponta um formato que gostaria de utilizar para lançar essas faixas: colaborações com outros artistas. Ele explica:

“Adoraria usar essas canções como uma chance de colaborar com outros músicos, tanto daquela época quanto de novas eras que foram inspiradas pelo Sublime. Se lançarmos músicas novas, nunca tentaria ser como: ‘esta é uma nova música do Sublime’. Obviamente sairá sob o nome Sublime, mas quero deixar claro: o álbum do Sublime de 1996 é o último da banda. Se lançarmos um novo disco, quero que seja pensado como um epílogo. Um tributo e uma celebração à música do meu pai, com a colaboração de um grupo de outros músicos que foram inspirados.”

Aceitando herdar o trono

Levou bastante tempo até que Jakob Nowell, enfim, aceitasse abraçar o legado de seu pai. Naturalmente, havia muito receio de ocupar o posto que um dia foi de Bradley, descrito por seu filho como “um cantor, compositor e guitarrista de altíssimo nível”. Ele reflete:

“Estar nessa posição agora significa tudo para mim. É uma questão muito complicada e emocionalmente complexa para mim, mas parece que encontrei meu propósito agora: continuar o legado dele enquanto tento construir o meu próprio. Sempre pensei no Sublime como uma banda local de Long Beach, mas nunca percebi o quão grande ela ficou. Só que, na minha cabeça, poderia ser muito maior. Ainda é uma espécie de banda ‘cult’ na minha cabeça. Quanto mais tocarmos em diferentes países e nos esforçarmos para manter a marca relevante, haverá fãs para serem conquistados.”

Durante uma entrevista anterior a setembro de 2023, o jovem artista chegou a dizer que o público idealizava demais sua presença no Sublime, enquanto ele próprio achava que não seria tão legal assim. No fim das contas, acabou sendo.

“Acho que fui me convencendo a não fazer o que estou fazendo agora. Por muito tempo, pensei que não era algo que eu deveria fazer. Achava que qualquer banda reunida após um tempo não seria mais como era — e acho que alguns fãs ainda pensam assim. Nunca vou cantar as músicas melhor do que meu pai, ou até no mesmo nível, mas se eu chegar 75% próximo dele e oferecer um show divertido, vale o ingresso.”
Sublime em 1995
Sublime em 1995 - Foto: Steve Eichner / WireImage

Outras iniciativas e futuro do Sublime

Curiosamente, não foi o passado do pai que motivou Jakob Nowell a se tornar músico. Sua vontade de mergulhar nesse universo surgiu após assistir ao filme Tenacious D — Uma Dupla Infernal (2006), protagonizado por Jack Black e Kyle Gass. Isso explica a variedade dos projetos com os quais ele se envolveu, indo do ska punk ao metal progressivo, passando também pelo Jakob’s Castle, onde, em suas palavras, explora todas as suas influências “do pop, alternativo e até eletrônico”.

Jakob Nowell, do Sublime
Jakob Nowell em show com o Sublime - Foto: Kevin Winter / Getty Images for Audacy

Paralelamente, Nowell fundou a gravadora independente SVN/BVRNT Records, que, também de acordo com sua descrição, “tenta incluir músicos do sul da Califórnia que acreditamos ser o próximo passo da música alternativa local”. O objetivo dele, inclusive, é conseguir fazer uma conexão geral entre Sublime, Jakob’s Castle e o selo.

“Através da plataforma que é o Sublime, espero me conectar a músicos influenciados pelo Sublime, trabalhar com eles em um álbum da banda, criar músicas novas e, junto à SVN/BVNRT Records, dar uma chance aos jovens músicos do sul da Califórnia que precisem de alcance. Ainda há uma cena incrível no sul da Califórnia. Gostaria que, após essa etapa, meu foco estivesse na SVN/BVNRT Records, no Jakob’s Castle e nas bandas com as quais trabalhamos. E então teríamos o Sublime fazendo alguns shows por ano nos grandes festivais, para manter o sonho vivo.”

Ou seja: ao menos em tese, o ritmo mais intenso de atividades do Sublime deve durar apenas alguns anos. Mas os fãs não devem se desanimar. Pelo contrário: Jakob imagina que muito mais virá por aí.

“Vejo o futuro do Sublime da seguinte forma: pelos próximos anos, continuar fazendo muitos shows, expandir a marca, trazer novos fãs, lançar um disco realmente bom — que definitivamente não chegará nem perto do que aconteceu antigamente com os discos originais do Sublime, mas que poderia colocar um epílogo de toda a história do Sublime — e amarrar tudo isso. Há uma tragédia nessa história, mas ela criou uma família enorme que é ainda maior do que a minha própria família — e maior do que qualquer coisa que meu pai ou meus tios [Eric e Bud] poderiam ter imaginado. Se você é um fã do Sublime, vai ter muita coisa acontecendo nesses próximos três anos.”

Serviço — Sublime no Brasil

  • 6 de março: Offspring + Sublime + Rise Against na Farmasi Arena, Rio de Janeiro
  • 8 de março: Offspring + Sublime + Rise Against + The Damned + Amyl & the Sniffers + The Warning no Allianz Parque, São Paulo
  • 9 de março: Offspring + Sublime + Rise Against + The Damned + Amyl & the Sniffers + The Warning na Pedreira Paulo Leminski, Curitiba
  • Ingressos à venda no site Eventim

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