The Warning fala à RS sobre shows no Brasil, crescimento e orgulho latino
Irmãs mexicanas vêm ao país pela primeira vez para tocar ao lado de Offspring, Sublime, Rise Against, The Damned e Amyl & the Sniffers
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 05/03/2025, às 12h00 - Atualizado às 12h00
Um nome em meio aos cinco anunciados para abrir a turnê do Offspring pelo Brasil deixou alguns fãs surpresos. Junto a várias bandas de alguma forma ligadas ao punk, está The Warning, trio de sonoridade hard rock formado pelas irmãs mexicanas Daniela (voz e guitarra), Paulina (bateria) e Alejandra Villarreal Vélez (baixo).
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, elas mesmas admitem o estranhamento inicial quando souberam que tocariam com Sublime, Rise Against, The Damned e Amyl & the Sniffers, além dos “donos da festa”. Mas quem liga? A empolgação por se apresentar pela primeira vez no maior país da América do Sul suprimiu qualquer possível receio.
Paulina, a integrante de fala mais articulada — e citada como a principal compositora —, refletiu:
“Quando entramos na escalação da turnê, eu olhei as outras bandas e pensei: ‘oh, nós somos meio que as estranhas aqui’. Mas a oportunidade surgiu quando fizemos um show com o Offspring nos Estados Unidos e temos muita gratidão. No fim do dia, todos nós estaremos curtindo um subgênero diferente.”
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Seria simplista definir o som deste jovem grupo como apenas hard rock. A sonoridade é pesada, mas de abordagem moderna, diferentemente da maior parte dos praticantes do subgênero. Não dá para negar a forte influência do Muse, em especial na construção dos riffs e uso dos efeitos. Ainda assim, é diverso o bastante para dispensar comparações mais precisas.
Surpreende o nível de maturidade criativa do trio — que está na ativa desde 2013 e já lançou quatro álbuns e dois EPs — em especial quando se observa as idades. Daniela, a mais velha, tem 25 anos. Paulina, a “do meio”, completou 23 no último mês. Alejandra, caçula, está com 21. As irmãs começaram a tocar juntas quando tinham entre 9 e 13 e logo viralizaram no YouTube com um cover de “Enter Sandman”, do Metallica, publicado em 2014.
A partir daí, entraram em uma trajetória ascendente, a ponto de seus crescimentos — literalmente — serem notados a cada lançamento. Escape the Mind, EP autoral de estreia, saiu em 2015. Dois anos depois, veio o primeiro álbum, XXI Century Blood. Completam a discografia Queen of the Murder Scene (2018), o EP Mayday (2021), Error (2022) e Keep Me Fed (2024), sendo que os três últimos chegaram a público através da Lava/Republic Records, subsidiárias do gigante Universal Music Group.
Tendo realizado tantos sonhos em idade tão jovem, ainda faltava se apresentar no Brasil. The Warning já havia passado por Argentina, Chile, Colômbia e Peru, mas nada de vir por aqui. A ausência será compensada agora, com shows em São Paulo (Allianz Parque, 08/03), Curitiba (Pedreira Paulo Leminski, 09/03) e Porto Alegre (Pepsi On Stage, 11/03). As duas primeiras datas serão cumpridas com todas as bandas citadas no início deste texto; já a terceira e última, somente com o Offspring, junto de quem elas haviam se apresentado nos Estados Unidos — vindo daí a conexão que levou a esta tour. Há ingressos à venda no site Eventim.
Mesmo de longe, o trio está de olho em nosso país. Daniela conta que ela e as irmãs sonham em tocar no Rock in Rio algum dia. Fãs de música para além do rock, as jovens apreciam bossa nova e Caetano Veloso. E já treinam algumas palavras em português, para além daquelas que temos em comum com o espanhol: de “obrigada” a “borboleta”.

Keep Me Fed e o amadurecimento
No momento em que a entrevista ocorreu, as irmãs Villarreal Vélez não sabiam quanto tempo teriam de show no Brasil. Porém, garantiram que boa parte do repertório será ocupado por músicas de Keep Me Fed, o já mencionado álbum mais recente.
As próprias reconhecem que este trabalho representou uma grande evolução. Os números não mentem: foi com ele que, pela primeira vez, o grupo entrou nas paradas de discos dos Estados Unidos (59º no ranking geral), Reino Unido (1º no chart dedicado a rock e metal), Suíça (14º), Suécia (15º) e Alemanha (19º). Uma de suas canções, “S!CK”, as levou à oitava posição da lista de singles Mainstream Rock, também dos EUA.
Enquanto Daniela celebra que “as pessoas desde sempre estão cantando as músicas mais novas”, Paulina aponta que Keep Me Fed é parte muito importante do crescimento vivenciado por ela e as irmãs, especialmente ao longo de 2024. Ela diz:
“O grande diferencial deste álbum é a nossa experiência, inclusive como pessoas. Começamos a compor quando tínhamos por volta de 12 anos. Sua vida e a maneira como você a vê mudam muito, até mesmo em relação ao nosso álbum anterior, Error, nosso terceiro. O que vivemos após esse álbum — as turnês, os sonhos que realizamos e os altos e baixos — nos mudou como pessoas. Keep Me Fed foi a primeira vez em que fomos realmente capazes de parar e processar tudo o que passamos.”
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Um dos reflexos deste crescimento — inclusive em popularidade — se deu no mês passado. A banda realizou uma série de shows em grandes casas na Cidade do México; três delas no Auditorio Nacional, um dos maiores e mais tradicionais locais do país para apresentações ao vivo, com ingressos esgotados. O material foi gravado profissionalmente e deve ser lançado em data e formato ainda não definidos. A baterista reflete:
“Acabamos de fazer os maiores shows de nossas vidas no México, como atração principal. Observar as pessoas cantando as músicas daquele jeito e vivendo o álbum conosco do jeito que fizemos foi tão lindo. Trabalhamos nesses shows no México por um ano inteiro. Foi um processo longo com uma equipe tão grande, algo único na vida. Os locais em que tocamos, como o Auditorio Nacional, são locais tão lendários. Nunca esperaríamos ter três shows esgotados.”
E não deve demorar muito para Keep Me Fed ganhar um sucessor. Contratualmente — elas enfatizam —, o grupo precisa, pelo menos, começar a compor seu próximo disco neste ano. A ideia é lançá-lo em 2026.

Dez anos de carreira e a perspectiva de latinas no mundo
Chega a ser estranho dizer, mas o primeiro trabalho do The Warning completa 10 anos de lançamento em 2025. Trata-se do também citado EP Escape the Mind, que apresenta cinco músicas autorais: “Take Me Down”, “Fade Away”, “Eternal Love”, “Free Falling” e a faixa-título. As irmãs se mostraram surpresas quando esta informação foi trazida à conversa — e deram risada com a brincadeira de fazer uma turnê comemorativa de 10º aniversário.
O material foi composto na exata sala onde as três deram esta entrevista por videoconferência à Rolling Stone Brasil. Paulina enfatiza que, naqueles tempos, não havia qualquer plano ou estratégia. “Apenas fizemos música e percebemos que poderíamos ser artistas, que poderíamos criar juntas e dar algo ao mundo — o que é uma coisa tão reveladora para uma criança de 12 anos”, pontua.
É certo afirmar que elas não faziam ideia do que encontrariam na frente, especialmente no que diz respeito aos desafios. Um deles, claro, tem a ver com quebrar barreiras e preconceitos sofridos por latino-americanos em outras partes do mundo. A baterista reflete:
“Acho que nós, como latino-americanos, vivemos isso todos os dias. No segundo em que você sai da América Latina — e digo América Latina como um todo — e vai para Estados Unidos, Canadá e Europa, as pessoas não esperam que haja uma música diferente daquela que elas estereotipicamente conhecem.”

Ainda assim, nenhum empecilho é encarado com olhar pessimista: o trio entende que muitas pessoas de outros países simplesmente não têm acesso à rica cultura da América Latina. Paulina diz:
“Acho muito bonito que possamos abrir essa curiosidade em suas mentes para pensar: ‘nunca pensei que haveria rock no México, mas olha, tem essa banda aqui, deixe-me ver o que mais tem’. Quando temos a oportunidade de cruzar fronteiras, em vez de olhar para isso como ‘oh meu Deus, como é que as pessoas não sabem sobre essa coisa enorme que eu sempre soube a minha vida inteira?’, acho que devemos encarar isso como uma honrosa oportunidade de representar nossas culturas e compartilhar um pouco do que temos.”
Fora isso, há também a sensação de que elas nunca estão sozinhas. Destacando o que define como uma “solidariedade latino-americana”, a baterista conclui:
“Sempre que estamos em um festival onde achamos que somos os únicos latino-americanos lá, vemos outra pessoa com a bandeira do México ou de outro país da América Latina. É como se nos enxergássemos, não é algo dito. É uma ‘irmandade’ [nota: esta última palavra foi dita em português e não em inglês].”
Serviço — The Warning no Brasil
- 8 de março: Offspring + Sublime + Rise Against + The Damned + Amyl & the Sniffers + The Warning no Allianz Parque, São Paulo
- 9 de março: Offspring + Sublime + Rise Against + The Damned + Amyl & the Sniffers + The Warning na Pedreira Paulo Leminski, Curitiba
- 11 de março: Offspring + The Warning no Pepsi On Stage, Porto Alegre
- Ingressos à venda no site Eventim
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