Todos os 9 álbuns de Tyler, the Creator, do pior ao melhor, segundo Rolling Stone
Confira o ranking dos discos de estúdio do artista que se apresenta no Brasil no Lollapalooza 2026
Kadu Soares (@soareskaa)
Poucos artistas da era moderna conseguiram traduzir tanto de si em música quanto Tyler, the Creator. De adolescente rebelde e provocador a um dos produtores mais inventivos e elegantes da atualidade, Tyler transformou a própria carreira numa narrativa de amadurecimento.
Às vésperas de seu aguardado show no Brasil, revisitamos a discografia completa — do caos adolescente ao amor adulto — e ranqueamos todos os seus álbuns, do 9º ao 1º lugar.
9. Bastard (2009)
O início de tudo — e também o mais cru. Bastard é o diário visceral de um garoto de 18 anos lidando com abandono, raiva e solidão. Gravado quase todo em casa, o projeto soa como uma terapia invertida: Tyler conversa com um “psicólogo” imaginário enquanto despeja frustrações sobre batidas lo-fi e letras desconfortáveis. É um álbum importante, mas limitado — mais interessante pela mensagem geral do que pelo que entrega. Apesar de resumir os sentimentos do jovem Tyler, o projeto traz letras extremamente pesadas e ofensivas, som datado, mixagem irregular e ideias que, por vezes, soam mais como catarse do que composição. Entre os destaques, faixas como “Bastard” e “Odd Toddlers” capturam a faísca que acenderia uma das carreiras mais criativas do hip hop moderno.
8. Goblin (2011)
Mais sombrio, confessional e desequilibrado, Goblin é o momento no qual Tyler expande o universo iniciado em Bastard, criando um personagem ainda mais agressivo e autodestrutivo. O disco é um mergulho denso em suas neuroses e fúrias, funcionando como um manifesto juvenil contra tudo e todos. Mas é também irregular: faixas longas demais, experimentos confusos e uma estética que envelheceu mal. “Yonkers” é um dos destaques — apesar do clipe nojento — e “She” (com Frank Ocean) é um clássico instantâneo que agrada até os fãs mais novos. No restante, o projeto alterna entre genialidade e exaustão. Goblin está aqui não por falta de ambição, mas por ainda não saber o que fazer com ela.
7. Cherry Bomb (2015)
O caos levado ao extremo. Cherry Bomb é o disco mais controverso da carreira de Tyler: barulhento, distorcido e, por vezes, quase inescutável. Mas é também o álbum que mostra seu lado produtor inquieto, curioso e em transformação. A mensagem parece clara: ele queria destruir sua persona agressiva com um projeto final. “Smuckers”, com Kanye West e Lil Wayne, é o ápice desse caos — uma faixa monumental que mistura egos, flows e guitarras psicóticas. Já “2SEATER” antecipa a virada: uma balada de soul e jazz que revela o compositor romântico que ele se tornaria em Flower Boy.
6. Don’t Tap the Glass (2025)
O mais recente de sua carreira, Don’t Tap the Glass é o Tyler maduro que entendeu não precisar de projetos superelaborados, com personagens, clipes grandiosos, desabafos e mensagens subliminares sobre erros do passado. Aqui ele foca em fazer música dançante que tire o público do celular para focar apenas na experiência de ouvir o álbum. Como destaques, “Sugar On My Tongue” e “Ring Ring Ring” resumem essa sonoridade pop inspirada em Black Eyed Peas e divertem quem ouve. Mas se por um lado a falta de um trabalho mais complexo é um alívio, por outro é sinônimo de uma superficialidade esperada — e por isso não está mais acima na lista.
5. Wolf (2013)
Aqui, Tyler começa finalmente a transformar o caos em estrutura. Wolf é um álbum conceitual que mistura personagens e camadas emocionais, marcando o início de sua fase mais narrativa. O artista constrói um universo próprio, onde cada faixa é um diálogo entre alter egos: o garoto inseguro, o amante ciumento, o artista que começa a entender quem é. “IFHY”, com Pharrell Williams, é uma das faixas mais belas da carreira — uma explosão de amor e raiva que sintetiza tudo o que Tyler representa. Já “Awkward” traz a doçura de um amor juvenil que parece desencaixado, mas é sincero. É o disco em que ele aprende a usar o sentimento como matéria-prima.
4. Call Me If You Get Lost (2021)
O álbum mais luxuoso de Tyler abre a parte final do ranking. Call Me If You Get Lost é o retrato de um homem que chegou ao topo, mas não tem ninguém para compartilhar esses sentimentos. O disco alterna entre grandiosidade e introspecção. Faixas como “Wusyaname”, suave e romântica, mostram o lado mais melódico e charmoso do cantor. “Lumberjack” o mostra voltado ao trap pesado. Em ambos os casos ele faz com maestria.
3. Flower Boy (2017)
Entrando no pódio, o florescer literal de Tyler, The Creator. Flower Boy é o ponto de virada definitivo em que o artista abandona o sarcasmo como escudo e se permite ser vulnerável. É um disco sobre solidão, amor, amizade e autodescoberta, repleto de arranjos ensolarados e instrumentação rica. “See You Again” é um dos momentos mais doces e altos de sua carreira, enquanto “911 / Mr. Lonely” reúne um dos melhores trios da música moderna com Frank Ocean e Steve Lacy.
2. CHROMAKOPIA (2024)
Em segundo lugar, o álbum de desabafo do rapper. CHROMAKOPIA é o Tyler adulto revisitando o passado com uma nova luz, reclamando sobre estar velho e não ter um amor, e os pontos negativos da fama. O disco combina faixas mais melódicas como “Hey Jane”, onde ele aborda uma gravidez indesejada, e “Thought I Was Dead”, que serve como resposta para aqueles que acharam que Tyler não tinha mais relevância. Um disco incrível que só fica atrás da obra-prima de sua carreira.
1. IGOR (2019)
Por fim, o auge criativo e emocional de Tyler, the Creator, IGOR é uma ópera moderna sobre amor e rejeição, em que o artista mistura soul, funk e eletrônica com arranjos ousados e letras confessionais. É um disco sobre perder e amar ao mesmo tempo, sobre ser vulnerável e ainda assim poderoso. “Earfquake” já é um hino falando da sensação que um amor causa na vida, e “New Magic Wand” é, segundo ele mesmo, a melhor música que produziu. IGOR é mais que um álbum: é uma experiência emocional completa — e o momento em que Tyler transcende o hip hop e se torna um artista universal.