Tutti Frutti e convidados de peso celebraram Rita Lee e seu ‘Fruto Proibido’ em SP; veja como foi
Festa rock and roll capitaneada por Luiz Carlini no Tokio Marine Hall trouxe nomes Jorge Ben Jor, Frejat, Paulo Ricardo, entre outros
Igor Miranda (@igormirandasite)
Fruto Proibido (1975) é um dos álbuns mais aclamados — se não o mais — da artista de rock recordista em vendas de discos no Brasil, Rita Lee, junto ao Tutti Frutti. Por si só, seria motivo para celebrar seu 50º aniversário de lançamento com um show especial, o que foi feito na última quarta-feira, 9, no Tokio Marine Hall, em São Paulo. Mas há razões adicionais que tornaram a festa ainda mais especial.
Rita nos deixou em maio de 2023, aos 75 anos, após uma dura batalha contra um câncer. Felizmente, foi bastante homenageada em vida. Após sua partida, sua obra atemporal ganhou ainda mais força, com tributos distintos em música gravada e ao vivo. Revisitar e prestigiar suas canções é, também, ajudar a garantir que elas sigam se amplificando e chegando a públicos e gerações diferentes, mesmo na ausência de sua principal responsável.

O fato de o Tutti Frutti seguir em atividade é, ademais, motivo de celebração. Com o guitarrista original Luiz Carlini no comando, o grupo virou, assim como boa parte da carreira solo de Rita, um “negócio familiar”: o músico é acompanhado de sua esposa, Sol Ribeiro, no vocal, e o filho, Roy Carlini, também no instrumento de seis cordas. Completam a formação Mario Testoni (teclado), Geraldo Vieira (baixo), Lucas Tagliari Miranda (bateria), além dos backing vocals de Paula Korte e dos irmãos Gilberto e Rubens Nardo, envolvidos com Fruto Proibido talqualmente Carlini.

E a própria união de astros convidados serve como mais uma razão para festejar. O evento no Tokio Marine Hall trouxe ninguém menos que Jorge Ben Jor, no alto de seus 86 anos, para uma participação especial. Frejat, Paulo Ricardo, Andreas Kisser, Supla, Lobão e Marisa Orth, todos influenciados por Rita e muitos deles até tendo tocado suas músicas ao longo da carreira, compuseram o estrelado elenco também presente no palco. Entre os anunciados previamente, a única ausência foi a de Zélia Duncan.

O show
Curiosamente, levou um tempo até que o público disposto em cadeiras/mesas fosse levado ao repertório de Fruto Proibido. O set foi iniciado cerca de 15 minutos após o horário divulgado com duas instrumentais, “Sleep Walk” (original de Santo & Johnny Farina) e “Carlini’s Boogie”, nas quais Luiz Carlini desfilou sua habilidade em uma lap steel guitar — ou guitarra havaiana — presenteada por ninguém menos que Frejat, um dos convidados da noite. Também exercendo a função de mestre de cerimônias da noite, Luiz explica que o álbum de 1975 conta com apenas nove faixas, logo, precisariam de trazer canções de outros trabalhos do Tutti Frutti para compor o repertório.

Com as entradas no palco de Sol Ribeiro, Paula Korte e os irmãos Nardo, o grupo tocou “Corista de Rock”, faixa que abre o disco Entradas e Bandeiras (1976), em versão trazendo bons solos estendidos ao fim. A groovada “Com a Boca no Mundo (Tico-tico)” e a cadenciada “Disco Voador” agradaram, como as anteriores, mas o show só começou a decolar mesmo com a entrada do primeiro convidado: Jorge Ben Jor, cantando “A Minha Menina”, composição dele gravada e consagrada pelos Mutantes ainda na década de 1960. No alto de seus 86 anos, o ícone da nossa música esbanjou vigor não apenas diante do microfone, como também na guitarra, arriscando solos ao lado de Carlini — que, ao fim, admitiu: “nem acredito que isso acabou de acontecer”.
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Sétima música da noite, “O Toque”, enfim, introduziu o repertório de Fruto Proibido e foi seguida por “Dançar Pra Não Dançar”, faixa que abre o disco e foi aclamada já de cara com sua introdução cabaret ao piano. “Pirataria”, uma das melhores da noite, contou com a única participação não anunciada previamente: Lee Marcucci, baixista original do Tutti Frutti e coautor da própria canção. Com todo o respeito ao também grande Geraldinho, o também fundador do Rádio Táxi poderia ter ficado mais um tempinho no palco.

À altura de “Luz del Fuego”, faixa seguinte, o público já parecia de fato imerso. Momento propício para Carlini se arriscar nos vocais na tipicamente Stoneana “Que Loucura”, única canção da noite oriunda de Você Sabe Qual o Melhor Remédio (1980), único álbum do Tutti Frutti sem Rita. Na sequência, outro convidado no microfone e também nas seis cordas: Frejat, a cargo de “Cartão Postal”, “Lá Vou Eu” (faixa exclusiva da trilha sonora da novela O Grito e ausente dos discos de estúdio) e “Mamãe Natureza”, as duas primeiras com Carlini novamente na guitarra havaiana. O ex-Barão Vermelho talvez tenha sido o convidado melhor ambientado, a ponto de parecer, de fato, um membro do grupo.

Curiosamente, deixa-se esse contexto para talvez a participação mais inusitada da noite: Marisa Orth, que, de modo surpreendente, mandou bem ao lado de Sol em “Esse Tal de Roque Enrow” e “Miss Brasil 2000”, esta com direito às cantoras surgirem com figurinos e trejeitos de misses — e rivalizarem entre elas. Por outro lado, Lobão pareceu não ter sido a melhor escolha para “Ovelha Negra”, ainda que ele já a tenha regravado no ao vivo Lino, Sexy & Brutal (2012). Inegavelmente, o músico ofereceu uma interpretação bem particular ao maior hit de Fruto Proibido; apenas não encaixou. Quando o histórico solo de Carlini entrou, soou como se tudo entrasse nos trilhos novamente.


Nas três canções finais do set, o Tutti Frutti contou com Andreas Kisser na guitarra. “Jardins da Babilônia” também trouxe Supla, que, equipado de seu vocabulário característico, extraiu as reações mais enérgicas do público. “Fruto Proibido”, a música, reservou ao público o convidado final, Paulo Ricardo, aqui assumindo vocais e também gaita. O encerramento com “Agora Só Falta Você” até começou apenas com Paulo e Andreas, mas já no primeiro refrão contou com uma bem-vinda “invasão” no palco de todos os convidados. Festa boa é festa bagunçada.
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Para além do peso da obra homenageada e das já comentadas participações especiais, deve-se destacar o tratamento dado pelo Tutti Frutti ao repertório. A execução respeitosa das canções não apenas de Fruto Proibido, mas de outros álbuns, foi um ponto positivo. Apenas quando necessário houve dose adicional de peso, normalmente oferecida pela guitarra adicional de Roy, tão habilidoso quanto o pai. Sol, uma das mais gabaritadas cantoras do país quando se trata de interpretar a obra de Rita, deu show não apenas de performance, como também de humildade, ao conferir pleno espaço a tantos convidados. E se Luiz Carlini serviu como mestre de cerimônias, Mario Testoni, também histórico pelo trabalho com o Casa das Máquinas, exerceu função de real maestro — e era quem, positivamente, mais “ameaçava roubar” os holofotes do líder do grupo e dos convidados.


A expectativa, agora, é pelo anúncio de mais shows em celebração aos 50 anos de Fruto Proibido. À Rolling Stone Brasil, Carlini adiantou que o plano é realizar a apresentação em outras cidades e trazendo convidados locais. Que as comemorações se estendam. Esse álbum merece.



Repertório:
- Sleep Walk (instrumental; original de Santo & Johnny Farina)
- Carlini’s Boogie (instrumental)
- Corista de Rock
- Com a Boca no Mundo (Tico-Tico)
- Disco Voador
- Você é Minha Menina (com Jorge Ben Jor)
- O Toque
- Dançar Pra Não Dançar
- Pirataria (com Lee Marcucci)
- Luz del Fuego
- Que Loucura
- Cartão Postal (com Frejat)
- Lá Vou Eu (com Frejat)
- Mamãe Natureza (com Frejat)
- Esse Tal de Roque Enrow (com Marisa Orth)
- Miss Brasil 2000 (com Marisa Orth)
- Ovelha Negra (com Lobão)
- Jardins da Babilônia (com Supla e Andreas Kisser)
- Fruto Proibido (com Paulo Ricardo e Andreas Kisser)
- Agora Só Falta Você (com todos os convidados)
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