Agora com três discos de estúdio com a Tuyo, Lio, Lay e Machado lançaram, nesta quinta, 4, Paisagem nas plataformas digitais
Publicado em 04/04/2024, às 07h00 - Atualizado às 10h30
Independentemente da situação na qual nos encontramos, sempre existe uma paisagem que nos cerca, nos faz seguir em frente e aquela que imaginamos em futuros próximos e distantes. Muitas vezes, essa paisagem fica em segundo plano com os diversos afazeres que se encontram em nosso cotidiano, mas é sempre bom lembrar de onde estamos e podemos parar.
Foi justamente com esse pensamento que a banda Tuyo, formada por Lio, Lay e Machado, compôs, produziu e lançou o terceiro disco de estúdio da carreira, intitulado Paisagem, lançado nesta quinta, 4. Para chegar neste momento, o trio precisou de um tempo para refletir sobre o projeto.
Alguns anos atrás, desde a pandemia de covid-19, os artistas conquistaram muitos objetivos e participaram de muitos projetos, como lançamento do álbum Chegamos Sozinhos em Casa (2021), indicação ao Grammy Latino 2021 (Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa), participação no Primavera Sound Barcelona, regravação de hits de Pitty e O Rappa, entre outros.
Ainda mais como artistas independentes, precisando encontrar outras maneiras de renda em alguns casos, o grupo sempre esteve em uma grande correria, mas tudo mudou com Paisagem, era na qual eles estão mais estabelecidos e maduros do que nunca. O álbum surgiu há pouco mais de um ano, antes mesmo de ter esse nome.
“Tem sido um processo muito rico de tempo, infinitas conversas, muitas amizades… tem dedo do Vhoor, JLZ, Lucas Romero, de nós três,” afirmou Lay em entrevista à Rolling Stone Brasil. Nesse procedimento, a banda também começou a se arriscar mais, como, por exemplo, na produção musical.
Além disso, existiu um entendimento de que, desde o primeiro dia de produção, o trio não sairia com uma resposta imediatamente, mas cada um curtiu o processo porque conseguiriam dizer o que querem dizer artisticamente, o que querem comunicar.
O fato da gente entender isso durante o processo fez com que ficasse mais divertido, mais gostoso E mais tranquilo nas partes que era pra ser tranquilo. Obviamente correndo atrás do calendário e das coisas que precisávamos entregar, mas de outra maneira. Não tínhamos vivido um espaço desse para poder pensar no que queríamos dizer,” disse Lay.
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Segundo Machado, Paisagem também pode ser descrito como um “chutão para o futuro” porque, após um período considerável na correria, Tuyo pôde parar por um momento para se questionar: “Para onde estamos indo, mesmo? Vamos dar uma paradinha.”
“Foi uma questão de método porque, nas minhas memórias, a gente realmente não tinha respostas,” complementou Lio. “Então decidimos fazer um disco: ‘Ah, então vamos decidir qual o gênero.’ F***-se gênero! Tem outras conversas para ter antes disso. ‘Quais são as tendências? O que o pessoal está escutando?’ F***-se, também! Eu sou o pessoal, o que eu estou escutando? Eu também sou meu público, sabe? Não sou um ETzão — às vezes sou —, mas a gente passou por uma negação muito firme, arriscada para nós.”
Ou seja, enquanto cresciam enquanto banda, Lio, Lay e Machado passaram a atender uma demanda maior e tomar decisões de transformar alguns processos. Mesmo assim, eles seguiram o próprio método, o qual enfrentou algumas mudanças artísticas naturais ao longo dos anos.
Batemos o pé no nosso método, mesmo se o preço que vamos pagar para isso é não atingir níveis e mais níveis de popularidade. A gente não é hipócrita, eu quero comprar uma casa para minha mãe, todo mundo sabe disso,” explicou Lio.
Com paciência para criar as faixas de Paisagem, o trio fez um song camp com o DJ, beatmaker e produtor Vhoor. Segundo Lio, as canções, frutos de diálogos como a vida no interior de Minas, eram maturadas. Dessa maneira, elas eram oxigenadas, de certa forma.
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“A nossa ideologia basicamente está toda apoiada na passagem do tempo e no que ele opera sobre nós, sobre a nossa obra,” continuou a cantora. “Abrimos mão de um processo mais veloz e conectado à tendência para atender nosso próprio ego, entender a nossa vaidade de poder fazer uma parada com alguma lentidão num momento tão veloz.”
Como Gilberto Gil canta em uma das grandes canções da carreira dele, intitulada “Tempo rei,” o tempo é um dos assuntos recorrentes de Paisagem, em uma reflexão que permeia as 10 faixas.
“De alguma maneira, fincamos o pé em coisas pelas quais a gente tem paixão e outras coisas que a gente nega, como as tendências à megalomania, hiper configuração de palcos, saturação do que é grandioso e monumental, sendo que Paisagem se coloca em outro ponto, no qual viramos o pescoço do nosso público para detalhes,” disse Lio.
O tempo também mostra uma evolução sonora da Tuyo, que passou a explorar os mais diversos tipos de sonoridade além dos sintetizadores e violões característicos. Uma música nova que comprova essa experiência é “Apazigua,” feita em colaboração com Arthur Verocai.
Não apenas de Verocai, mas o trio contou com uma verdadeira seleção na construção da música em questão, como Vhoor e Lucas e Mateus Romero. Essa união teve busca de novos timbres misturados com vários teclados, com um poucos dos sintetizadores, claro.
“É uma direção que ajudou a nos provocar,” celebrou Lio. “Somos uma banda de acúmulo, sempre empilhando vozes. É uma das nossas assinaturas. Em ‘Apazigua,’ fizemos escolhas de frequentar uma região mais grave. É tudo sobre frequência. Fizemos uma leitura diferente a partir desse relacionamento com Romero, Vhoor e Verocai.
Ter esses diálogos com outras pessoas nos trouxe para novos lugares. ‘Apazigua’ tem essa sensação de familiaridade. Você já conhece aquela região ali da gente, nosso timbrezinho, mas é novo porque é outro método.
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Verocai não foi a única participação especial do terceiro disco de estúdio da Tuyo. A banda também trabalhou com outros dois cantores: Joca, em “Devagar,” e Luedji Luna, em “Paisagem.” Ambas colaborações surgiram da amizade deles, que vai muito além da música.
“Fazer esse disco entre amigos também foi bem legal,” explicou Lio. “Trocamos mensagens e oferecemos conforto um para o outro. Foram participações pautadas em relacionamento. Geralmente colaboramos e nos relacionamos depois, sendo que nesse disco a gente fez o contrário. Só chamamos os parças.”
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Paisagem mostra uma Tuyo cada vez mais relevante e confiante do que nunca. Com três discos de estúdio no mundo, o trio de Curitiba comprovou mais uma vez a própria força, com músicas complexas e uma sonoridade ímpar.