Com canções de amor, Mais Uma Vez representa um grande marco na carreira de Vitão como produtor
Após fazer sucesso com hits como "Flores" e "Sei Lá," Vitão decidiu repensar a carreira com o surgimento da pandemia de coronavírus e o eventual congelamento da indústria causado pela crise sanitária. No período de isolamento social, o cantor decidiu se aventurar no ramo da produção musical.
"Foi quando eu realmente tive tempo de parar um pouco a estrada e sentar na frente do computador e desenvolver esse lado do produtor meu, realmente aprender a passar as minhas ideias para o computador, para esse lado digital," afirmou em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil.
Vitão conseguiu colocar 100% disso em prática com o lançamento do EP Mais Uma Vez na última quinta, 21. Com essa reinvenção artística, o músico acredita que o público evoluiu com as canções dele: "As pessoas que realmente me acompanham, acompanham na música, meu trabalho fervorosamente, sentem-se da mesma forma que eu me sinto em relação à minha música. Sentem ligadas emocionalmente a isso. Sentem que isso está no coração."
Além disso, o cantor explicou como "busco ir um pouco na contramão" do que a indústria oferece atualmente: músicas encurtadas. "Sempre quando você quer trazer coisas novas, em alguns momentos você vai se sentir incompreendido, ainda mais em modo de mercado musical que a gente tem vivido, onde as coisas são tão segmentadas."
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Leia, abaixo, a entrevista com Vitão na íntegra:
Rolling Stone Brasil: Você fala que música é vida para você e que ela representa reinvenção. De alguma forma, acredita que o teu público evoluiu junto com suas canções? Tem algum receio, por exemplo, de não ser compreendido?
Vitão: Eu sinto que meu público tem uma identificação muito grande com tudo que canto e faço, por mais diferente que seja. As pessoas que realmente me acompanham, acompanham na música, meu trabalho fervorosamente, sentem-se da mesma forma que eu me sinto em relação à minha música. Sentem ligadas emocionalmente a isso. Sentem que isso está no coração.
Sempre quando você quer trazer coisas novas, em alguns momentos você vai se sentir incompreendido, ainda mais em modo de mercado musical que a gente tem vivido, onde as coisas são tão segmentadas - parece cada vez mais. Enfim, eu busco ir um pouco na contramão até dessa parada das músicas encurtando cada vez mais, tenho tentado fazer mais músicas maiores, e contar mais histórias nas músicas.
Sempre rola de alguma parte do público uma incompreensão, mas que não é de todo ruim. As pessoas aos poucos vão entendendo as coisas.
Rolling Stone Brasil: Quando, em que momento da sua carreira, você sentiu que tinha que deixar aflorar seu lado produtor?
Vitão: Foi em 2020, primeiro ano de pandemia, quando eu realmente tive tempo de parar um pouco a estrada e sentar na frente do computador e desenvolver esse lado do produtor meu, realmente aprender a passar as minhas ideias para o computador, para esse lado digital.
Foi um processo até que rápido. Meus amigos produtores me ajudavam bastante no começo, eu vivia em chamada de vídeo com todos eles para perguntar como fazia as coisas. Fui evoluindo bem rápido. Agora comprei mais instrumentos, então eu estou fazendo produções bem orgânicas também, bem instrumentais, não só eletrônicas.
É um desenvolvimento artístico muito rico para mim, porque me traz uma liberdade musical e artística muito gigante, de poder imaginar qualquer coisa e passar aquilo para o computador, baixar aquela minha ideia para a música de fato. É muito enriquecedor, artisticamente, para mim.
Rolling Stone Brasil: De alguma forma, o Vitão também produtor – além de compositor e cantor – e uma possibilidade de ter controle total sobre a sua voz como artista?
Vitão: Com certeza! Como produtor hoje em dia, sinto que eu tenho muito mais domínio artístico de mim mesmo, de levar minha música para onde eu quero, comunicar minha música como eu quero, fazer coisas diferentes, de sair bastante também dos padrões de formatos musicais.
Tenho sentido essa liberdade produzindo sozinho, de sair bastante disso e mexer com as estruturas das músicas, fazer coisas diferentes que a princípio não é o modelo do mercado e fazer esse andar na contramão, fazer essa contracultura musical. Tem sido muito interessante isso. Eu como produtor tenho tido mais domínio de mim mesmo, da minha voz e de tudo que eu faço musicalmente.
Rolling Stone Brasil: São cinco canções de amor/ de diferentes fases do amor: De alguma forma, elas trazem um Vitão apaixonado por si mesmo, se conhecendo melhor e evoluindo a partir desta descoberta?
Vitão: Sem dúvida alguma! Essas músicas trazem muito desse momento que eu tenho vivido sozinho comigo mesmo, no momento onde eu tenho feito viagens sozinho, onde eu tenho trabalhado muito. Isso gente tem me ajudado muito a me autoconhecer, recuperar uma segurança e uma autoestima que há um tempo eu perdi bastante.
[Também] a me entender, apaixonar-me por mim mesmo, dar liberdade de pensar e ser como eu quiser, de me relacionar da forma que eu quiser, com quem eu quiser, de buscar coisas novas na minha carreira, no meu trabalho, de poder estar sempre muito presente para minha carreira e meu trabalho, de fato, de estar sempre muito focado em mim e ser a minha prioridade, mesmo.
Rolling Stone Brasil: Declarações públicas recentes fazem parte de toda esta nova fase (de identidades, prazeres etc)? Acredita que o seu eu artístico, através desse posicionamento, pode quebrar barreiras e promover também discussões que antes tínhamos apenas nas suas músicas?
Vitão: Eu enxergo o lugar do artista na sociedade como esse lugar de questionador, de gerador de debate, de discussão. O artista é uma pessoa que faz o público pensar, questionar-se, que gera mudança, conversa...
Tenho buscado as minhas verdades, externalizá-las da forma mais sincera possível. Enfim, isso é muito natural também, quando eu falo sobre minha forma de pensar, minha forma de sentir, isso naturalmente causa em muitas pessoas um rebuliço interno. Gera muito debate - o que é bom -, eu adoro fazer isso, é um lugar interessante como artista: a pessoa que realmente toca algumas feridas e alguns assuntos às vezes que as pessoas jogam para baixo do tapete.
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