ENTREVISTA RS

Yo La Tengo retorna ao Brasil após 11 anos: ‘Estamos muito animados para voltar’

Banda de indie rock se apresenta em dois shows em São Paulo, incluindo performance no Balaclava Fest e show acústico intimista no Cine Joia

Daniela Swidrak (@newtango)

Yo La Tengo (Foto: Cheryl Dunn)
Yo La Tengo (Foto: Cheryl Dunn)

O Yo La Tengo volta ao Brasil em novembro, e a ansiedade é compartilhada dos dois lados. O baixista James McNew não esconde o entusiasmo ao falar sobre o retorno aos palcos paulistanos, admitindo que o tempo de espera foi longo demais. “Estamos muito animados para voltar. Gostaria que não tivesse demorado tanto assim”, diz ele.

O trio de Hoboken, Nova Jersey, sempre foi sinônimo de inquietude criativa e ousadia sonora. Frequentemente comparados ao Velvet Underground – banda que interpretaram no filme I Shot Andy Warhol (1996) – Ira Kaplan, Georgia Hubley e James McNew construíram uma carreira que transita com naturalidade entre os extremos do noise rock e do pop melódico. E é justamente essa multiplicidade que McNew celebra ao refletir sobre as quatro décadas de trajetória do Yo La Tengo.

“Às vezes tocamos alto, às vezes tocamos em silêncio. Tocamos instrumentos, experimentamos várias coisas, mas continua sendo a gente”, diz o baixista. Para ele, o segredo não está em buscar um som único, e sim em abraçar a diversidade como essência.

Descobrimos uma forma de estar em paz com isso, em vez de transformar em preocupação. Faz sentido pra nós. Não somos o tipo de pessoas que quer fazer a mesma coisa o tempo todo.”

Essa filosofia se manifesta não só na discografia extensa do Yo La Tengo, mas também no palco. McNew conta que os setlists são definidos apenas algumas horas antes de cada apresentação, o que torna cada show imprevisível. “Se tivéssemos um setlist fixo para tocar todos os dias, enlouqueceríamos”, confessa. “A gente gosta de mudar, de se sentir vivo e único a cada experiência”.

A espontaneidade é parte do DNA da banda desde cedo. McNew lembra a colaboração com Jad Fair, do Half Japanese, no álbum Strange But True — cuja reedição acaba de ser anunciada pela Joyful Noise. “Quando trabalhamos com ele, tudo era improviso”, relembra. “Ele acenava quando queria que começássemos e acenava de novo quando era hora de parar. Essas eram as únicas instruções”.

Aquela experiência marcante moldou a forma como o trio encara a criação até hoje. “Fez um impacto enorme em nós. Ainda pensamos nisso o tempo todo quando fazemos música”, diz McNew. Essa liberdade e improvisação são o que o público brasileiro vai sentir de perto nos dois shows marcados para São Paulo.

A passagem pelo país inclui uma performance no Balaclava Fest, em 9 de novembro, dividindo o palco com Stereolab, Geordie Greep e outros nomes, além de um show no dia seguinte no Cine Joia, em formato mais intimista e acústico. McNew adianta que o set do festival será mais enxuto, enquanto o do Cine Joia promete ser “mais longo, mais descontraído e com músicas de discos antigos”.

Em uma era de algoritmos e fórmulas feitas para streaming, a existência de uma banda como o Yo La Tengo soa quase anacrônica. Mesmo assim, McNew se mantém otimista quanto ao espaço para experimentação. “Tem muita música improvisada sendo feita agora, e acho que é um ótimo momento para isso, e a tecnologia tem seu lado bom também”, afirma.

O baixista também demonstra curiosidade genuína pela cena brasileira, citando Tom Zé e os goianos do Boogarins como inspirações. “A gente ama a música brasileira, especialmente dos anos 60 e 70. Sempre nos interessamos por ela”, comenta.

Em um dos momentos da conversa, falo sobre como os anos 90 deram ao indie rock uma identidade muito particular — marcada por selos independentes, lojas de discos e zines — e como o cenário atual, dominado por streaming e redes sociais, parece outro planeta. Pergunto o que ressoa, para ele, em ver novas pessoas descobrindo o Yo La Tengo em 2025, dentro dessa realidade completamente diferente.

McNew responde com calma: “Eu estou feliz. Acho que qualquer jeito que as pessoas possam nos descobrir é bom. Se elas descobrem por acidente, é ainda melhor”.

Para alguém que sempre buscou descobrir sons novos, a alegria está em compartilhar esse mesmo impulso. “Quero continuar aprendendo e encontrando música que nunca ouvi antes. Espero que seja tão empolgante pra eles quanto é pra mim”.

Quando perguntado sobre algum projeto dos sonhos que ainda não realizou, McNew hesita. “Muitos dos projetos que fizemos aconteceram sem planejamento. Então prefiro não dizer em voz alta, para não dar azar”. É uma resposta que resume perfeitamente o espírito de uma banda que, há quatro décadas, se recusa a seguir roteiros pré-definidos.

O Yo La Tengo chega ao Brasil com o recém-lançado This Stupid World e uma história construída sobre a ideia de que autenticidade não precisa ser uniforme. Para McNew e seus companheiros, cada show é uma chance de estar presente, de se conectar com o momento — e com o público — de forma genuína. E, a julgar pela empolgação em sua voz, eles mal podem esperar para reencontrar os fãs brasileiros e criar novas memórias únicas nessa longa jornada.

SERVIÇO

Yo La Tengo no Brasil:

Balaclava Fest
Com Stereolab, Geordie Greep, Horse Jumper of Love, Gab Ferreira, Walfredo em Busca da Simbiose e Jovens Ateus
Quando: 9 de novembro de 2025
Onde: Tokio Marine Hall – R. Bragança Paulista, 1281 – Santo Amaro; São Paulo – SP
Ingressos online: aqui

Sideshow Yo La Tengo
Quando:10 de novembro de 2025
Onde: Cine Joia – Praça Carlos Gomes, 82 – Liberdade, São Paulo – SP
Ingressos online: aqui

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Nascida na Argentina mas radicada no Brasil há mais de 15 anos, Daniela achou na música sua linguagem universal. Formada em radialismo pela UNESP, virou pesquisadora criativa e firmou seu pé no jornalismo musical no portal Popload. Gateira, durante a semana procura a sua próxima banda favorita e aos finais de semana sempre acha um bom show para assistir.
TAGS: balaclava fest, georgia hubley, ira kaplan, james mcnew, yo la tengo