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Música / MEU AMIGO DIÁRIO 2

Yunk Vino abre o coração em mixtape sentimental: 'Estou deixando meu diário público'

Um dos principais artistas do trap brasileiro, integrante da gravadora Labbel Records, Yunk Vino revela diversas facetas na segunda parte de M.A.D

Yunk Vino (Foto: @brunogordilho)
Yunk Vino (Foto: @brunogordilho)

Ao longo da carreira, Marcos Vinícius Albano, mais conhecido no mundo do trap como Yunk Vino, ficou conhecido pelas músicas carregadas de sintetizadores, letras sobre ostentação e drogas, mas decidiu mostrou um lado mais pessoal nos dois últimos grandes lançamentos, as duas mixtapes do projeto Meu Amigo Diário (M.A.D).

Nascido no dia 7 de junho de 1997, foi criado em Carapicuíba, Região Metropolitana de São Paulo, onde formou o gosto de música. O rap chegou mais tarde para Vino, cujo primeiro contato com canções aconteceu por meio de MPB (Música Popular Brasileira) e música gospel graças a família.

"Meus avós cantavam muito, meu avô tocava bastante instrumento - violão, piano, teclado e alguns outros," relembrou em entrevista à Rolling Stone Brasil. "Minha relação com a música começou a partir daí, desde muito novo."

Já o primeiro contato com instrumentos foi na escola dominical da igreja, quando aprendeu a tocar bateria e começou a entender um pouco de teoria musical, de como funcionava alguns elementos musicais. Na adolescência, ele montou uma banda de rock em que tocava guitarra. Na faixa dos 19 anos, entrou para o mundo do rap, com batalhas de rima.

Hoje em dia, toco nenhum instrumento e não adiciono isso na minha música, mas eu opino na parte de produção. Eu estou voltando a fazer beat, então eu estou meio que antenado nesse mundo também, mas sem tocar instrumento. Não vou nem mentir

Abaixo, leia a entrevista completa que Yunk Vino concedeu à Rolling Stone Brasil:

Você lançou, em agosto, a mixtape M.A.D 2. Como foi o processo criativo desse álbum? Como ele saiu do papel?
Bom, desde o último Meu Amigo Diário eu ando pensando muito em como a música funciona como um diário para mim e vários outros amigos que trabalham usam como forma de desabafar. Um psicólogo, digamos assim. Desde 2023 vi que tava sendo bom para mim ser um pouco mais pessoal na minha arte, tentar falar um pouco de coisas que muitas vezes a gente não consegue comunicar bem ou tem um pouco de dificuldade e bloqueio.

Graças a Deus, desde o último projeto até agora, está funcionando bem, minha cabeça está me ajudando a tentar fazer músicas onde eu consiga desabafar e fique fácil também a compreensão para o público.

O lançamento do Meu Amigo Diário, Vol. 1 - M.A.D impactou, de alguma forma, esse novo lançamento? Como eles se conversam?
É como se o primeiro projeto fosse algumas folhas do diário e o segundo fosse folhas adicionadas. É como se eles fossem um livro só, no final das contas, só está dividido entre ‘volumes,’ digamos assim.

O Volume 1 foi responsável para o público começar a entender o que queria fazer, o que viria depois e próximos passos. Eu tinha que acostumar o público, de alguma maneira, entender um pouco da ideia para começarem a enxergar com um pouco mais de carinho e entender que muitas vezes é um projeto mais leve, de tentar se identificar muitas vezes, porque tem muitas músicas e vibes diferentes onde abordamos muita coisa.

Então vai ter uma música que vai ser mais festa, mais brincalhona… tem outras que serão mais sérias, envolvendo, talvez, uma amizade sua que você tinha uma ligação, não fala mais. Coisas mais íntimas da vida.

Seus discos de estúdio possuem diversos temas, mas essas duas mixtapes possuem assuntos mais introspectivos. Como é olhar mais para você mesmo nessas músicas e colocar esse "diário" para o mundo, sem ser algo particular?
Acho que leva um tempo para você achar uma maneira… eu estou deixando meu diário público, então preciso deixar de uma maneira que o público me entenda, se identifique e que não fique algo muito pesado, porque tem gente que usa diário para desabafar tanto que acaba esquecendo de colocar as coisas boas, e deixa coisas muito pesadas, que são legais de abordar, mas não sei até que ponto.
Tento levar um pouco de tudo, de uma maneira tranquila e maneira leve, para que o público não fique na bad ouvindo, não fique meio que “nossa, meu Deus. Verdade, a vida está tão ruim!” Não, cara, a vida está boa, só precisamos mudar o ponto de vista às vezes.

Você também faz parte do time da Labbel Records. Como é sua relação com a gravadora? O que ter uma empresa te apoiando agrega em você como artista?
Isso é essencial. Eu vejo eles como uma família em vários sentidos. Eu vejo que aprendi muito com eles ao longo do tempo. No meu primeiro contato com eles já consegui entender e aprender muito do que seria a indústria e a minha carreira. Como eu ia ter que me portar com o que eu ia ter que fazer. Coisas que realmente são importantes e o que não são tão importantes.

Sou muito grato por eles, por tudo que eles me mostram, ensinam-me e tudo que engloba a rapaziada. Sem eles, minha carreira estaria bem diferente, não estaria tão madura, tão séria, nesse ponto onde a gente está. Agradeço desde já. Muito obrigado, Labbel Records, muito obrigad, Boogie Naipe, vocês são sem iguais, não tem o que falar de vocês.

O rap no Brasil sempre foi muito influenciado por aquilo que vem da gringa, seja nos temas ou no visual, especialmente o trap. Como você traz brasilidade para esse gênero?
Hoje em dia, o mercado da música está tão quente, tem tanta coisa e tantas novidades. Às vezes fica até um pouco difícil você tentar fazer algo diferente e original - ao mesmo tempo em que você consiga mostrar quem você é genuinamente, sem fazer uma cópia de alguém ou de algo.

Muitas vezes acontece naturalmente de eu fazer igual. Quando comecei a fazer música tinha esse lance de misturar inglês com português em algumas frases, mas não era tão bem utilizado no rap que estava vindo. Esse foi um dos pontos que talvez o público achou um diferencial em mim, teve um carinho pela forma que eu fazia isso, pelas palavras que eu usava muitas vezes. Tipo, o pessoal nunca tinha escutado aquela palavra e com isso eles começaram a buscar outras palavras e entender mais um pouco do meu vocabulário, do que é minha estética.

As outras coisas foram simplesmente fluindo naturalmente, eu não sei nem dizer o que eu faço totalmente de diferente das outras pessoas. Eu simplesmente sou eu e faço a música do jeito que eu acho que precisa ser, ainda mais pelo fato de eu ser surdo de um ouvido, acho que eu tenho menos referências de áudio do que as outras pessoas. Então quem sou eu para falar alguma coisa.

Há 3 anos ainda, você fez um disco colaborativo com MC Igu. Como foi dividir um trabalho com outro artista?
Mano, foi muito louco, foi muito bom. E sempre fui fã do Igu, ele sempre foi um mano que, musicalmente, eu olhava e falava: "Pô, esse cara aqui é diferente. Ele sabe fazer realmente trap." Então, Quando a gente se linkou para fazer esse álbum colaborativo, para mim foi meio que único ter uma vivência com ele, várias vivências ao longo de dias, semanas, meses… tanto que hoje em dia a gente é bastante amigo, eu vejo que muito dessa amizade foi graças à mixtape, o quanto a gente teve que conviver junto.

Eu conheci bastante da pessoa que ele realmente é, e isso fez meu carinho aumentar mais ainda. Ele é um artista sensacional. Trabalhar colaborativamente assim com um artista para construir uma mixtape, algo um pouco maior do que um single, demanda muito de ambos. Vocês precisam se entender, se respeitar ao longo desse processo… as ideias meio que se linkaram ainda, porque eu acho que em meio a isso tem chance do processo se perder, da gente cada um querer fazer um bagulho e meio que destoar.

Mas graças a Deus com o Igu foi muito bom. É uma conexão que temos musicalmente.

Por falar em parcerias, fale um pouco de como foi o contato com Ryu, The Runner e Alee no M.A.D 2.
Bom, em relação às participações de M.A.D 2, demorou um pouco até eu entender quem eu queria de feat, quem eu tinha que convidar. Ultimamente eu e o Ryu trabalhamos em muitas faixas, que combinaram bastante. O público aceitou muito bem. A recepção no show também é muito boa. Vendo tudo isso, era um momento de estar com ele. Foi muito bom tanto para mim quanto para ele. Isso é necessário. Ele está vindo numa estética que combina bastante com a minha também.

Alee é uma pessoa que eu já tive algumas vivências com e nunca tinha resultado em música. Sempre foi vivência da vida. E a gente sempre teve essa de "precisamos fazer uma música, mano!" Nossa vibe combina, o pessoal pede, mas nunca tivemos um momento bom. Esse ano a gente até teve bastante convivência no estúdio, conseguimos fazer bastante coisa, cada um entender um pouco do que o outro estava fazendo. Dessa vez fluiu bem e foi o momento certo assim para ambas as coisas.

Coincidentemente, em um Volume 2 (desta vez não foi no seu), você fez "Purple Rain" com Duquesa. A música foi das principais músicas, pelo menos em questão de números, do álbum dela. Eu a entrevistei antes dela lançar Taurus, Vol. 2 e ela super te elogiou e tudo mais. Eu queria saber como foi essa parceria com ela e como você enxerga o sucesso da música. Você pensa em continuar nesse estilo?
A música em si às vezes surpreende a gente, porque muitas vezes a gente ouve uma música e não acha que ela vai ter a proporção que acaba tendo. Essa música com a Duquesa, diferente de "GEMINI," tínhamos um olhar bom para ela, mas eu não imaginava que ela fosse caminhar tão bem quanto "GEMINI," mas que bom que o pessoal tem um carinho por ela, está abraçando ela legal, curtindo e ouvindo bastante.

Quero agradecer também a Duquesa pelo convite para essa música. Tanto "GEMINI" quanto essa. Por mais que bem diferentes, eu acho que as ideias e as vibes se linkam. O rap dela é um pouco diferente do que eu faço, mas quando se junta, combina. É uma combinação boa.

Em M.A.D 2, notei que você diminuiu bastante a intensidade do autotune. Essa pegada mais intimista causou isso? Como você aborda seu som nesse sentido?
Pior que não. Eu tentei experimentar algumas coisas em algumas músicas, então vai ter música que você vai sentir mais natural, uma voz talvez mais clean, mais limpa, e vai ter outra que minha voz está num pitch totalmente diferente, bem modificado, com uma textura meio maluca. Então tem um pouco de tudo e eu acho que o pessoal vai notar isso que eu quis experimentar um pouco, mas sem sair do que eu faço. Sem ir muito para a loucura.

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