A produção da Netflix se perde ao tentar abordar diversos assuntos sem se aprofundar em nenhum
Desde a estreia de 13 Reasons Why, no fim de março de 2017, a série tem chamado muito a atenção pelos assuntos polêmicos que aborda. Inicialmente, parecia ser apenas uma história sobre uma garota de que comete suicídio e deixa fitas explicando o que a levou a fazer isso. Eram 13 episódios para 13 áudios diferentes. Alguns outros temas complexos – além do já espinhoso suicídio – foram acrescentados, como abuso sexual e negligência. Odiada por alguns e adorada por outros, a produção original da Netflix fez muito sucesso e acabou ganhando uma segunda temporada.
Baseada no livro homônimo, a primeira leva de capítulos encerra sua narrativa no mesmo ponto onde acaba a obra literária. O roteiro dela já tinha diversas adições, incluindo cenas criadas especialmente para a série e que não existiam no livro. Porém, a partir do segundo ano da série, é tudo novo: a trama toda nasce do zero.
A primeira temporada foi acusada de ser gráfica demais e usar assuntos muito sérios como meros acessórios promocionais. Para tentar atenuar isso, foi implementada a estratégia de produzir vídeos com avisos para explicar ao início de cada episódio "polêmico" que eles podem causar desconforto para pessoas sensíveis a determinados conteúdos. Porém, a impressão que a série passa é de que os cuidados tomados para a segunda ficaram restritos ao acréscimo destes vídeos.
Nos novos episódios, acompanhamos o desenrolar dos fatos da primeira temporada, especialmente o julgamento da ação que os pais da Hannah Baker (Katherine Langford) estão movendo contra a escola por negligência. No mais, o foco está nas perguntas a serem respondidas, como: o que aconteceu com o Alex Standall (Miles Heizer)? O que aconteceu com o Tyler Down (Devin Druid)?
Os capítulos agora são narrados pelo olhar de cada um dos personagens, não mais sob com o ponto de vista de Hannah apenas. Isso é algo positivo, pois somos apresentados a mais detalhes sobre ela e sobre a vida de personagens interessantes, como Courtney Crimsen (Michele Selene Ang) e Ryan Shaver (Tommy Dorfman).
Os atores de 13 Reasons Why estão, majoritariamente, em seus papéis de estreia. Alisha Boe, por exemplo, volta muito bem para a personagem Jessica Davis, uma garota que deve lidar com o trauma de um estupro que aconteceu enquanto estava inconsciente. Se a trama tivesse investido mais tempo na história de Jessica e na dificuldade das vítimas, talvez a produção tivesse conseguido um roteiro muito mais interessante. A transformação desta personagem é uma das únicas coisas verossímeis nesta temporada.
Talvez um dos problemas da série seja esse: em alguns pontos, ela peca pelo excesso de realidade, querendo mostrar cenas cruas demais. Por outro, é quase impossível acreditar no que está sendo mostrado. Não precisa entender muito de leis norte-americanas para captar que o julgamento contra a escola infringe algumas diretrizes básicas do direito. Outro exemplo que tira a credibilidade da série é a falta de noção que os adultos têm no que diz respeito a como funciona a cabeça de um adolescente. Todos os pais, sem exceção, são relapsos, desatentos e irresponsáveis quanto à vida dos filhos. Não parecem adultos de verdade, mas sim a versão simplificada de como um adolescente raso descreveria que "meus pais não me entendem".
A função exercida pelas famigeradas fitas de Hannah, no ano passado, desta vez é assumida por fotos Polaroid. A ideia é que esses objetos personifiquem todo o mistério da temporada, mas ficou fraco. O paralelo é claro: as fitas são cassetes, antigas, que só podem ser gravadas em um equipamento específico; assim como as Polaroides, antigas, que só podem ser tiradas por uma câmera específica. Porém, o roteiro não consegue segurar a atenção nas fotografias, muito menos nas mensagens que elas querem passar. Elas estão denunciando um crime, mas o personagem que as recebe, Clay Jensen (Dylan Minnette), não faz nada a respeito.
Muito se perguntou se Hannah chegaria a aparecer na segunda temporada, e ela aparece da maneira mais esquisita possível, como um fantasma/alucinação do Clay. As aparições chegam a ser de mau gosto.
13 Reasons Why agradou com a primeira temporada por conseguir falar de muitos assuntos importantes, mas com a segunda, se perdeu nos gêneros. A série diz querer ajudar as pessoas que sofrem com doenças psicológicas, mas ao mesmo tempo utiliza artifícios altamente não-recomendados para pessoas portadoras dessas mesmas doenças. Ao falar de temas como assédio sexual, suicídio, depressão, problemas com a justiça e gravidez de uma só vez, ela se torna um drama adulto, mas quando os personagens que vivem esses problemas são colegiais de 16 anos e a narrativa é contada de uma maneira mais infantil, estamos diante de um seriado adolescente, de forma que é importante haver um cuidado para não misturar muita coisa num balaio só. Pode causar mais confusão do que esclarecimento. E, assim, 13 Reasons Why se encontra em um limbo.Talvez ela devesse ter tido mais dois episódios na primeira temporada e fechado a história. Mas o final da segunda temporada já deixou um gancho para mais episódios. Agora é esperar.