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16ª edição do Porão do Rock aposta em ingressos baratos e garante público expressivo em sua noite de abertura

Com preços que variavam entre R$15 e R$40 e um line-up formado por bandas consagradas, o festival agradou

Adriana Cruxen, de Brasília Publicado em 31/08/2013, às 12h37 - Atualizado em 10/09/2013, às 14h05

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Capital Inicial no Porão do Rock 2013 - Cara Preta Comunicação/Divulgação
Capital Inicial no Porão do Rock 2013 - Cara Preta Comunicação/Divulgação

Calor intenso e um lindo pôr do sol. Esse era o cenário visto no estacionamento do estádio Mané Garrincha, em Brasília. A poeira de terra vermelha e a dificuldade de respirar caracterizavam o mês de agosto, auge da estação mais seca do ano no cerrado.

Veja a cobertura da Rolling Stone Brasil no festival Porão do Rock de 2012.

Às 18h em ponto, no palco UniCeub, começou a 16ª edição do Porão do Rock, maior festival independente da cidade. A banda brasiliense Penteando Macaco iniciou as atividades do festival fazendo brincadeira com o hino “Geração Coca-Cola” (Legião Urbana) e saudando as bandas locais.

Era fácil contar nos dedos o número de pessoas que chegaram cedo para conferir as bandas de abertura. O público, que pagou entre R$40 e R$15 pelos ingressos, era formado majoritariamente por jovens, que trajavam jaquetas de couro deixando à mostra camisetas de bandas ícones do punk mundial, como Ramones, Misfits e Dead Kennedys. Em meio aos palcos, uma área de convivência com mesas, cadeiras, lanchonetes e vendedores ambulantes dividia espaço com outra área, destinada aos esportes radicais, que dispunha de atividades como bungee jumping, muro de escalada e pista de skate.

Já anoitecia na capital federal quando no palco BRB (que ficava na lateral do Uniceub) a banda também de Brasília Dualid iniciou seu show, às 18h30. O grupo chamou o público gritando “a revolução só depende de você’’. O hardcore tocado abafou o barulho das obras do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, ainda em construção para a Copa do Mundo de 2014.

No outro extremo, isolado no palco Budweiser (destinado às bandas de som mais pesado), outro grupo de Brasília, o CadibódE, começou a tocar na hora prevista. Um hardcore puro e simples, que tirou do chão a plateia minguada.

Dead Fish

Os capixabas do Dead Fish subiram ao palco antes do previsto e o público já era grande o bastante para formar uma gigante roda de pogo, do jeito que o hardcore pede.

Os sucessos da consolidada trajetória da banda foram repassados com naturalidade, parecia show solo. Rodrigo Lima e seus parceiros estão bem acostumados a tocar em Brasília. “A gente já é de casa. Só aqui no PDR é a terceira vez que a gente toca”, brincou Rodrigo, e continuou na brincadeira quando ouviu os gritos “Ei, Dead Fish, vai tomar no cu!”. “A gente gosta”, riu.

O setlist agradou aos fãs que acompanham os músicos desde o início, pois foi baseado nos discos mais underground do grupo, Sonho Médio (1999) e Afasia (2001). A canção “Modificar” se mostrou atual em 2013 e foi dedicada a todos que saíram nas ruas no dia 17 de junho, durante os atos em que o Brasil inteiro protestou contra o aumento das tarifas de transporte público.

Mesmo com tanta descontração, a enorme área VIP (que separava o palco do grande público) estava incomodando Rodrigo, que se rebelou e, em um momento visceral, jogou-se na plateia e cantou junto com os fãs a música “Afasia”. Na canção “Urgência” chegou a hora dos fãs driblarem a gigantesca área para imprensa e convidados e subirem ao palco, interagindo com o Dead Fish e cantando aos berros.

Banda de La Muerte

O PDR costuma fazer intercâmbio com bandas da América Latina. Inclusive, em 2009, teve sua edição também em Buenos Aires. Mesmo sem grande público, a argentina Banda de La Muerte chamou atenção por mesclar punk rock com guitarras pesadas e distorcidas típicas do stoner rock.

Devotos

Enquanto a banda argentina agradava no palco BRB, no espaço dedicado aos sons pesados (Budweiser) ouvia-se uma mistura de maracatu, reggae, dub e punk rock. Os Devotos, com seu vocalista Cannibal, de dreadlocks e voz rouca e encorpada, e as letras politizadas que clamavam por igualdade social, deixaram a plateia boquiaberta, curiosa e prestando atenção. “Tem afoxé, tem punk rock, tem rock and roll e tem pagode”, cantava ele, já definindo o som da banda.

O Devotos agradou mesmo quando fez menção às bandas Detrito Federal e Cabeloduro, ícones do hardcore do cerrado.

Selvagens À Procura de Lei

Da nova safra do rock nacional, queridinhos de bandas como Capital Inicial e Vespas Mandarinas, os Selvagens começaram o show felizes e agradecidos pelo convite. “A gente sempre quis tocar aqui! Adoramos as bandas de Brasília!” O grupo apresentou músicas do seu disco de estreia, lançado pela Universal Music.

Impressionante a presença de palco dos meninos, que veem suas músicas sendo cantadas em coro por onde passam. “As velas do Mucuripe vão bater no Planalto Central”, diz a letra da canção “Mucambo Cafundó”, perfeita para aquele momento.

Mesmo com tempo sobrando, os Selvagens encerraram o show abruptamente e sem tocar o hit da banda, “Brasileiro”, que estava sendo solicitado pelos fãs desde o início da apresentação. Decepcionou bastante a plateia.

De acordo com a banda, a produção exigiu que eles terminassem o show antes do previsto. Eles pretendiam cantar muito mais, e além de "Brasileiro", havia também uma versão de Legião Urbana nos planos. “Tinha muita coisa pra rolar ainda, mas a gente volta logo, Brasília”, esclareceu Gabriel Aragão (voz e guitarra).

Capital inicial

Das bandas consagradas do planalto central, o Capital era o único que nunca havia tocado no PDR. “Não foi por falta de convite”, falou Dinho, “mas a nossa agenda nunca batia com a agenda do Porão”. Finalmente chegou o momento. Pontualmente, à 0h, o grupo subiu ao palco BRB. “A gente vai fazer essa noite inesquecível pra vocês!”, avisou o vocalista, enlouquecendo os fãs, que finalmente encheram aquela área VIP enorme e aparentemente exagerada. “Chega de frescura, vamos de punk rock”, completou para o maior público da noite.

A promessa foi cumprida. A banda soube mesclar muito bem as músicas do disco novo, Saturno (2012) e sucessos do álbum Rosas e Vinho Tinto (2002). Mas o que fez a plateia vibrar foram os hinos do Aborto Elétrico, cantados em uníssono.

Dinho Ouro Preto, showman, estava tão à vontade no palco que interagiu com os fãs a apresentação inteira, arriscando versões de “Seven Nation Army” (White Stripes) e “Mulher de Fases” (Raimundos).

Brasília, capital da república, berço político. É inerente às bandas que nasceram desse chão serem altamente politizadas. Na canção “Saquear Brasília", Dinho incorpora o cidadão brasileiro colocando um nariz de palhaço e chamando a atenção para o voto. "Não sei vocês, mas eu voto nulo", completou.

A surpresa da noite foi o Capital tocar “Psicopata”, música que fez parte de seu disco de estreia, em 1986. O show terminou com o hino "Veraneio Vascaína", e Dinho parabenizando sarcasticamente: "E viva o Congresso Nacional”.

Soulfly

Enquanto o Capital Inicial estava no ápice de seu show, o Soulfly, headliner do palco Budweiser, iniciava sua apresentação com todo o barulho que uma banda de metal consegue fazer. A produção do Porão do Rock não se preocupou com o isolamento sonoro e, de fato, o som do Soulfly vazou e prejudicou os 20 minutos finais da performance do Capital.

Banda do cultuado Max Cavalera, o Soulfly apresentou-se pela primeira vez em Brasília e foi ovacionado pelo público do início ao fim. Max, com pose de malvado, mas muito simpático, interagia o tempo todo com os fãs . “Pula Brasília”, gritava. “Ole Ole Ole Ole, Soulfly, Soulfly”, cantava.

O repertório agradou principalmente aos fãs de Sepultura. Max aproveitou para colocar em dia a fase em que fez parte da banda. Os primeiros discos do Soulfly, o homônimo, de 1998, Primitive (2000) e 3 (2002) também foram explorados.

A surpresa do show foi o dueto que Max fez com seu filho em uma música nova, que ainda não tem nome e nem foi gravada, mas que deve sair em um disco futuro.

No final do show, Max cantou “Que País é Esse” (Legião Urbana) e disse que Renato Russo era um grande fã de Sepultura. O público, que se manteve firme e forte até o final do show, gostou do que viu, aplaudiu, pediu bis e foi pra casa satisfeito.

Matanza

Já passava das 2h da madrugada quando o Matanza começou a tocar. Foi o único show que teve atraso significativo. Surpreendente mesmo foi a quantidade enorme de público que aguentou até o final para conseguir assistir às canalhices dos barbudos.

O vocalista Jimmy London anunciou: “É quarta vez que a gente toca no PDR. É a 25ª vez que a gente toca em Brasília. E vocês já são membros honorários do Clube dos Canalhas”, afirmou. O público foi ao delírio. O show foi um festival de countrycore e diversão. Além das músicas já conhecidas, a banda também apresentou faixas de seu mais recente disco, Thunder Dope, lançado em 2012. JO relógio marcava mais de 3h quando o Matanza se despediu e o público, incansável, parecia querer mais.

O Porão do Rock continua neste sábado, 31, e tem entre as atrações Mark Lanegan (leia nossa entrevista com o músico sobre este show), Os Paralamas do Sucesso, Lobão (leia nossa matéria de capa com ele) e Suicidal Tendencies.