O humor ácido e explícito do clássico dos anos 1990 está repleto de machismo e violência que não são mais aceitáveis
Recentemente, o criador de Beavis & Butt-Head, Mike Judge, anunciou que a série ganhará mais duas temporadas pela 3 Arts Entertainment, de acordo com informações da Vulture, repercutidas pelo Omelete.
A produção norte-americana exibida pela MTV durante a década de 1990 é considerada um clássico das animações de humor ácido e explícito que antecedeu séries de sucesso com Family Guy e South Park.
Contudo, com a volta da animação que promete ser “repaginada”, a discussão sobre o retrato problemático da série também é retomada. Da violência ao machismo, a Rolling Stone Brasil separou 4 motivos para a volta de Beavis e Butt-Head não ter sentido em pleno 2020. Confira:
Um ponto problemático da série é a abordagem em relação à violência. Nos anos 1990, a série retratou o assunto com poucos filtros e até mesmo normalizou o uso de armas dentro de escolas, como é possível ver no episódio “Incognito”.
Quando um colega de classe é quase atingido por um tiro que atravessa a janela da sala de aula, o estudante levanta e retribui o tiro de volta. Para resolver a situação, o professor apenas toma a arma do aluno e a coloca na gaveta de armas, enfatizando que ele poderá pegar o objeto novamente no final da aula.
Além disso, de acordo com o Independent UK, a produção já foi acusada de estimular comportamentos agressivos e ser responsável pela morte de uma criança de dois anos depois que o irmão de cinco anos colocou fogo no trailer da família.
Apesar da acusação ter sido rejeitada, os personagens, de fato, brincam diversas vezes com fogo, seja com armas, fogos de artifícios ou apenas mencionando frequentemente a palavra “fogo”.
Mesmo na oitava temporada, lançada em 2011, Beavis & Butt-Head insistiu em fazer piadas que promovem a cultura do machismo. No episódio “Massage”, os adolescentes ficam observando mulheres em uma tenda de massagem e, mais tarde, decidem fazer a própria tenda para conseguirem tocá-las.
Frases como “Ei, baby, você gostaria de ser tocada?” ou “Faça uma massagem em um peito e a do outro sai de graça” podem ser vistas no episódio. A última temporada ainda conta com “Whorehouse”, em que os jovens confundem uma clínica de aborto com um bordel.
Nos episódios da década de 1990, Beavis e Butt-Head também usou o estereótipo do latino-americano para fazer piadas. Em “Way Down Mexico Way Pt 2”, os adolescentes viajam para o México apenas para encontrar a visão ultrapassada do país: um local cheio de drogas, armas e até mesmo escravos.
Além de retratarem a comida local como “difícil de ser digerida”, os personagens ainda riem de um clipe de rap em espanhol e dizem palavras aleatórias de forma pejorativa, como taco e guacamole.
Segundo o IMDB, o episódio chegou a ser editado para retirar as cenas em que os personagens tentam contrabandear drogas para os Estados Unidos.
Como muitas outras produções norte-americanas, Beavis e Butt-Headtrazem o protagonismo do homem branco, que pode ser irresponsável, violento, machista e racista sem enfrentar as consequências.
A produção também não se preocupa em trazer diversidade para o elenco de personagens animados - mas não deixa de fazer piadas com minorias, claro.
O argumento de que a produção foi feita nos anos 1990 não parece ser suficiente para ignorar o retrato ultrapassado do universo de Beavis e Butt-Head - por mais que ele tenha sido feito para ser sarcástico.
Em pleno 2020, é difícil se animar com novos episódios, por mais que eles prometam um novo olhar, afinal, a essência da série foi construída em cima de questões extremamente problemáticas.
+++ RAEL | MELHORES DE TODOS OS TEMPOS EM 1 MINUTO