Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

A morte de Jimi Hendrix: como circunstâncias obscuras levaram o maior guitarrista de todos os tempos

A lenda da guitarra morreu no quarto de hotel da namorada dele, afogado no próprio vômito e dopado de remédios para dormir

Redação Publicado em 18/09/2019, às 10h24

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Jimi Hendrix em 1967, quando chegou à Inglaterra (Foto: Edie Baskin / Corbis Outline / LatinStock)
Jimi Hendrix em 1967, quando chegou à Inglaterra (Foto: Edie Baskin / Corbis Outline / LatinStock)

Jimi Hendrix, a lenda da guitarra, morreu no dia 18 de setembro de 1970, quando tinha 27 anos de idade. Há exatos 49 anos, o músico foi encontrado morto no quarto de hotel de Monika Dannemann, a pintora alemã que ele namorava. Morreu asfixiado no próprio vômito. Em seu sangue, foram encontrados nove tipos de sonífero. A autópsia, feita só no dia 30, nunca obteve muitas conclusões. A morte foi considerada suicídio por alguns. 

No dia 21 de setembro, três dias depois do acontecido,Eric Burdon, com quem Hendrix fez a última apresentação da vida dele (dois dias antes de morrer) foi ao ar em um telejornal da BBC, reforçando a ideia de que o amigo "se matou." No dia anterior, disse à Rolling Stone que sabia disso pois Hendrixdeixou um "bilhete de suicídio", um poema de várias páginas, que Burdon manteve consigo. Ele se recusou a mostrar a carta.

+++ LEIA MAIS: Jimi Hendrix do início ao fim: como o jovem James se tornou o gênio da guitarra 

"O poema tem coisas que Hendrix já vinha dizendo, mas que ninguém escutava", explicou Burdon. "Foi um bilhete de 'adeus' e um de 'olá'. Não acho que Jimi tenha cometido suicídio do jeito convencional, só decidiu ir embora quando quis [...] Sabia que ele estava mal há um ano."

Para Michael Jeffery, empresário pessoal de Jimi, a ideia de suicidio é impensável: "Não acredito que tenha sido suicídio. Simplesmente não acredito que Jimi Hendrix tenha deixado seu legado para Eric Burdon continuar. Ele era uma pessoa muito peculiar."

+++ LEIA MAIS: As Sessões de Blues Perdidas de Jimi Hendrix 

Os últimos dias

Quando morreu, Jimi Hendrix estava na Europa desde o dia 30 de agosto. Foi seu primeiro show na Inglaterra em dois anos, e a banda Jimi Hendrix Experience (com Billy Cox no baixo e Mitch Mitchell na bateria) começou quase imediatamente uma turnê no continente. A turnê deveria terminar em Roterdã em 14 de setembro, mas essa data foi cancelada quando Cox sofreu um colapso nervoso e teve de voltar para os Estados Unidos. 

Durante a sua estada de um mês, Jimi se hospedou no Hotel Cumberland, ao lado da Park Lane. Deveria ter feito checkout depois da noite de quarta-feira, mas pediu para o gerente lhe reservar mais uma noite - isso porque, na quarta, fez o último show de sua vida ao lado de Eric Burdon. Não estava bem: "No começo tocou mal, como um amador, usando truques de palco para esconder as deficiências, mas depois fez um solo que foi bom, e a plateia gostou. Ele saiu do palco e voltou, fazendo base para 'Tobacco Road'." Essa foi sua última música.

+++ LEIA MAIS: Quanto Jimi Hendrix ganhou para ser headliner do Woodstock 1969? 

No entanto, não voltou ao hotel na quinta-feira à noite. Em fez disso, foi para o Samarkand Hotel, no qual Monika Dannemann, sua namorada, estava hospedada. Dormiu por lá. Ela o encontrou em coma na manhã de sexta-feira, e chamou uma ambulância, que levou para o Hospital St. Mary Abbot's. Hendrix foi dado como morto na chegada, às 11h45, horário de Londres.

A polícia afirmou que estavam faltando soníferos de um frasco de Monika, e que Hendrix havia tomado algumas pílulas antes de dormir na noite anterior. Os comprimidos foram levados como evidência.

Há algum tempo, Hendrix vinha tentando se tornar mais independente em relação a seus negócios. Via o estúdio Electric Lady como um passo em direção a esse objetivo. Burdon diz que, uma semana antes de morrer, Jimi lhe contou que arranjaria empresários novos.

+++ LEIA MAIS: Flashback: Jimi Hendrix relembra momento icônico de encerramento do Woodstock 

"Ele reclamou várias vezes dos empresários, reclamou mesmo", contou Buddy Miles, que tocou com Hendrix na Band of Gypsies. "Não vou mentir e dizer que não sei, porque fiquei bastante com ele e o entendia de um jeito que muitos não conseguiam. Jimi merecia as pouquíssimas coisas que conseguiu, até mais."

Para Michael Jeffery, empresário de Hendrix, isso foi novidade: "Ele nunca me disse que queria trocar de empresário. O que aconteceu é que nós dois estávamos nos expandindo em outras áreas, e às vezes ele precisava de muita atenção. Houve uma época em que ele queria expandir o grupo, só que metade da minha energia estava no estúdio e em outras coisas, e eu não tinha tempo para dedicar toda a minha energia para ajudar a aumentar o grupo. Sentíamos que a função tripla de empresário/artista/agente provavelmente desmoronaria. Algumas pessoas fora do círculo confundiram isso com descontentamento, mas não era o caso. Jimi era suficientemente inteligente e brilhante. Se ele quisesse terminar, teria feito isso."

+++ LEIA MAIS: De Jimi Hendrix a Prince: Conheça 7 guitarras icônicas na história da música [LISTA] 

"Ele falava coisas diferentes para todo mundo. Era assim, sempre mudando de ideia", disse Burdon na época da morte, quando havia diversas controvérsias: a morte foi suicídio ou assassinato? Poderia ter sido o agente? Jimi realmente estava infeliz? Para Burdon, nem o próprio guitarrista saberia dizer:

"Hendrix estava em um poço tão profundo que o único jeito de sair era parar de tocar música e tentar arrumar a bagunça. Mas ele sabia que, sem a música, ficaria destruído de qualquer forma. Percebeu que a única coisa a fazer era continuar tocando e mesmo assim morreu, porque estava sendo tolhido criativamente", completou o cantor.

+++ LEIA MAIS: Red Hot Chili Peppers faz cover de "Purple Haze", do Jimi Hendrix

Gerry Stickles, empresário de turnê de Hendrix, disse que no dia da morte do músico ele (Stickles) havia ligado para Dick Katz, seu empresário europeu, para contar que Jimi queria fazer outra turnê europeia e uma britânica o quanto antes. Katz organizou uma turnê na Alemanha e algumas datas no Reino Unido um dia antes de saber a notícia.

Mas em outro momento Stickles afirmou que, a pedido de Jimi, fez reservas de passagens para voltar aos Estados Unidos em 21 de setembro, porque queria terminar algumas gravações para um novo álbum com o Experience. Tudo o que precisava ser feito naquele disco era a mixagem, o que o próprio Hendrix faria no Electric Lady.

+++ LEIA MAIS: Todas as músicas tocadas no Woodstock original serão lançadas em coletânea histórica 

As informações eram poucas - a autópsia atrasou em uma semana, só saiu no dia 30, 12 dias após a morte e um dia antes do funeral. E naquelas dias, nenhum dos amigos ou conhecidos de Jimi, exceto Burdon, discutia a questão. Na ausência de um relato completo, a imprensa de Londres decidiu partir para o sensacionalismo puro. Nos Estados Unidos, o primeiro relato - divulgado por todo o país inicialmente por rádio FM horas depois de sua morte - foi que Hendrix tinha morrido de overdose de heroína. Os jornais americanos publicaram a notícia de sua morte na tarde de sexta e na manhã de sábado.

Também surgiram homenagens e difamações; um jornal dominical publicou uma "história exclusiva" de uma fã que contou sobre orgias de cinco pessoas com Hendrix; no dia 26 de setembro, a rádio Geronimo, na Inglaterra, tocou material inédito de Hendrix a noite inteira, incluindo uma fita de Jimi com Buddy Miles and the Last Poets, e outro álbum ao vivo inédito.

+++ LEIA MAIS: Há 49 anos, Jimi Hendrix subia ao palco para último show da vida dele

Até hoje, as circustâncias da morte são misteriosas. Não se sabe se Jimi Hendrix se suicidou ou não - mas o que sabemos, com toda a certeza, é de sua genialidade na guitarra - que só apareceu na vida adulta. Preparamos também um texto contando tudo sobre a vida e a carreira do guitarrista. Veja aqui.


Texto originalmente publicado na edição 48 da Rolling Stone Brasil, em setembro de 2010.