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A noite de John Mayall

Em Rio das Ostras, bluseiro inglês montou sua própria barraca de CDs e teve show ovacionado

Por Antônio do Amaral Rocha Publicado em 25/05/2008, às 19h31 - Atualizado às 19h36

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Cezar Fernandes
Cezar Fernandes

O Rio das Ostras Jazz & Blues Festival chegou ao seu auge nesta sexta-feira, 23/5, com a tão aguardada apresentação de John Mayall & The Bluesbreakers. Mas o público teve que esperar até a última atração para ver o veterano bluseiro inglês. E isso foi bom, pois teve a oportunidade de rever, com mais atenção, algumas atrações, e tomar contato pela primeira vez com outras.

No começo da tarde, Will Calhoun e sua Native Land Experience repetiram sua extraordinária performance na Lagoa do Iriry, debaixo de um sol agora de rachar coquinho. Esse palco fixo permite uma interação público/artista pela própria arquitetura do lugar. O público aproximado de 3.000 pessoas assistiu eriçado à inusitada apresentação. Calhoun, baterista criativo e sempre inovador, conquistou os corações e mentes de quem teve a feliz idéia de acompanhar o festival.

No fim da tarde, na Praia da Tartaruga, mais uma gratíssima surpresa. Foi a vez de Bonerama, banda de New Orleans composta de quatro trombones de afinações distintas, tuba, baixo e bateria. O Bonerama, liderado pelos trombonistas Mark Mullins e Craig Harris, que também fazem vocais e tocam percussão, é um caldeirão sonoro que reverte o som das big-bands, tocando sempre em uníssono com forte marcação de baixo e bateria. Foi uma sessão bem humorada de soul, funk e rock.

A noite tão esperada repetiu o performance de Taryn Szpilman no Palco Costa Azul. Taryn, emocionadíssima e grávida de 8 meses, pode reafirmar o seu talento vocal num show mais do que competente e aproveitou para anunciar o lançamento do seu CD Bluezz. Sua apresentação extrapola o universo do blues e, não fosse o nosso mercado tão marcado por interesses escusos, Taryn com certeza seria reconhecida entre as grandes cantoras brasileiras. O show teve canja do gaitista Jefferson Gonçalves e do batalhador pelo blues, o carioca Big Joe Manfra.

Em seguida, Russell Malone repetiu o show da Lagoa Iriry. À vontade, com um público de dez mil pessoas prontas para ouvi-lo, o guitarrista, bem-humorado, mostrou mais uma vez sua guitarra límpida, de acordes agradáveis.

Na seqüência, o Palco Costa Azul recebeu o sax de Léo Gandelman junto com a banda The Godfather of Groove, trio formado pela guitarra de Grant Green Jr., filho do famoso guitarrista Grant Green. Completam o grupo o organista Reuben Wilson e o baterista Bernard Purdie que, nos seus incríveis oitenta anos e energia de menino, já participou de mais de três mil gravações. A banda mais Gandelman fizeram um show entrosado, parecendo que sempre tocaram juntos.

John Mayall

Finalmente a tão esperada atração: John Mayall & The Blusbreakers, que já teve Eric Clapton em sua formação. A banda é um trio de guitarra, baixo e bateria que se soma aos teclados e à gaita de Mayall. Na abertura, os dois temas com a guitarra de Big Joe Manfra, que tem se repetido nos shows que da banda em outros palcos nesta passagem por aqui. Big Joe tem público cativo no Rio e sua performance foi ovacionada.

Em seguida, entra Mayall e é aplaudidíssimo. O que o público viu foi um senhor de cabelos brancos, vestido de camisa florida e calças brancas. Nada que lembre aquela figura da década de 70. Afinal, Mayall tem hoje 73 anos de idade, mas a música continua pulsando da mesma forma. O problema é que o teclado insistiu em falhar na primeira música e depois de um corre-corre e substituição, o show pode continuar. Foi um anti-clímax, deu uma esfriada, mas o público pacientemente aguardou. "We have a problem with the keyboards", falou John. Problema resolvido, o que se viu foi um artista completo, numa performance correta, entre os solos da guitarra de Buddy Wittington, o baixo pulsante de Hank Van Sickle, a bateria bem marcada de Joe Yuele, a voz, o teclado e a gaita de Mayall. O bluesman inglês teve uma perfeita interação com o público, que não arredou pé do espaço até as duas horas da manhã.

Nota inusitada: antes de sua apresentação, Mayall montou barraquinha e ele próprio comercializou seus cds.