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A trupe de Pitty

Cantora fala sobre o DVD ao vivo A Trupe Delirante no Circo Voador

Por Patrícia Colombo Publicado em 25/05/2011, às 14h14

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Pitty lança seu novo DVD ao vivo, <i>A Trupe Delirante no Circo Voador</i> - Caroline Bittencourt
Pitty lança seu novo DVD ao vivo, <i>A Trupe Delirante no Circo Voador</i> - Caroline Bittencourt

Pitty e sua banda estão lançando neste mês um novo DVD ao vivo, A Trupe Delirante no Circo Voador, gravado em dezembro de 2010 na casa de shows carioca.

"Queria que quem assistisse pudesse sentir como é estar ali no olho do furacão", afirmou Pitty sobre o trabalho, em entrevista por e-mail à Rolling Stone Brasil. Dirigido Ricardo Spencer, o DVD mostra alguns momentos do show a partir de uma câmera situada no meio do público.

Neste segundo registro ao vivo (o primeiro foi {Dês}Concerto, lançado em 2007), o repertório conta com faixas do mais recente álbum de Pitty, Chiaroscuro. Além das canções do disco de 2009, os fãs podem também ouvir a inédita "Comum de Dois", uma versão para "Se Você Pensa", de Roberto Carlos, e outra para "Senhor das Moscas", da banda baiana Cascadura.

Confira a entrevista abaixo:

Esse é o seu segundo DVD ao vivo. O que você buscou com esse trabalho?

Quisemos registrar essa fase da banda, uma parte da turnê do Chiaroscuro, e trazer à tona alguns lado B do primeiro disco que nunca haviam sido registrados em imagens. Buscamos também uma estética mais minimalista e direta.

Quais os cuidados que vocês tomaram para que ele se diferenciasse de {Des}Concerto?

O principal era que o repertório fosse totalmente outro, que nenhuma música do {Des}Concerto se repetisse. Marcar a fase Chiaroscuro, dar um passo adiante, não se prender à facilidade dos velhos hits. A sonoridade é mais crua que a do primeiro, com mais vazamentos por causa do palco menor, mais suja. Hoje eu opero meus próprios efeitos de voz através de um pedal - de lá eu manejo delay, distorção, flanger, chorus. Isso me traz uma independência maior. Outra diferença é que nesse show tive vontade de adicionar teclados e minimoog para texturizar as músicas, e chamamos Brunno Cunha para se juntar à trupe.

Por que decidiram gravar no Rio de Janeiro? Qual a relação da banda com a cidade?

Quando saí de Salvador pra gravar o Admirável Chip Novo, fui morar no Rio. Dei os primeiros passos com esse projeto por lá, tentando trazer os meninos de Salvador para tocar comigo, fazendo os primeiros shows em lugares pequenos. Acabamos formando um público que acompanha a banda desde o começo e temos vários amigos na cidade. Além disso, o Circo Voador é um lugar emblemático e todos os nossos shows lá sempre foram catárticos. Sabia que ali era o lugar pra registrar em vídeo essa quentura, essa crueza de um show de rock.

O DVD passa a sensação de que as imagens foram feitas por um fã - ora pelo fato da câmera estar no meio do público, ora pela brincadeira com o foco. Como chegaram a esta estética?

Baixo orçamento, câmera na mão e criatividade. Há uma grua apenas, mas as imagens mais poéticas e caóticas foram privilegiadas. Meu projeto inicial era distribuir câmeras na mão de algumas pessoas do público para que eles registrassem a própria versão dos fatos, como fizeram os Beastie Boys, mas essa ideia não foi adiante. A solução foi colocar um dos nossos câmeras no meio da roda de pogo. Queríamos o ponto de vista subjetivo. Queria que quem assistisse pudesse sentir como é estar ali no olho do furacão. O aperto, o calor, o ter que se movimentar junto com a massa que te joga para todas as direções. Nesse vídeo, quase nada foi marcado em termos de cena. A câmera procura o assunto exatamente como o olho humano numa situação dessas: às vezes na penumbra e sem saber qual o próximo passo da banda. Por isso os desfoques e enquadramentos nada ortodoxos: é o olho do câmera procurando enxergar. Isso tudo foi discutido com Ricardo Spencer, e ele tem todo o talento necessário para pegar um material bruto desse e editar de forma coesa e poética. Lembro dele falando pros câmeras: "plano feijoada", que são os detalhes no pé, orelha, mãos. Acabou ficando com um gostinho de Dogma 95. Ricardo Spencer é o grande responsável por isso, não só por juntar uma equipe muito sagaz, como também por conseguir privilegiar na edição essa sensação frenética, sem precisar picotar demais as cenas.

Para você, qual a importância das faixas "Se Você Pensa", do Roberto Carlos, e "Senhor das Moscas", do Cascadura?

Gosto muito dessa fase mais funk-rock-soul de Roberto. São canções incríveis, e mesmo as que falam de amor abordam esse assunto de um jeito muito vigoroso, como é o caso de "Se Você Pensa". "Senhor das Moscas" é uma música de um disco muito inspirado do Cascadura, o Bogary. Essa letra é sensacional, e Martin [Mendonça], Duda [Machado] e Joe já fizeram parte de diferentes formações do Cascadura em épocas diferentes. Eles têm uma ligação especial com a banda.

Como se deu a participação de Fábio Cascadura?

Ele é nosso companheiro de cena, de bar, de vida há muitos anos. E um dos maiores compositores desse país, na minha humilde opinião. Tem uma parceria nossa no lado B do single de "Me Adora" que saiu em vinil, chamada "Sob o Sol". Convidamos Fábio para cantar essa música, e nos ensaios acabamos tocando por diversão "Senhor das Moscas". Resolvemos gravar as duas e acabou entrando só essa porque ficou muito melhor que a outra ao vivo. Foi uma surpresa para nós também, já que o plano era outro, mas essa é a graça: deixar a coisa rolar naturalmente e ser surpreendido. Está sempre tudo certo e nada resolvido, e a gente não costuma se prender, até porque show é um organismo vivo e tudo pode acontecer. Já perguntaram : "Ué, por que não refizeram em estúdio o que não estava bom?". Não fazemos isso. É um DVD ao vivo, e o que está ali é o que aconteceu naquela noite.

Por que vocês escolheram este título para o DVD? Qual a inspiração?

Quando estávamos nos preparando, nos ensaios, mais gente foi se juntando. Nos enfiamos todos num ônibus pro Rio de Janeiro às vésperas do DVD, e mais do que nunca a sensação era de trupe. Iríamos para um "Circo", isso também ajudou nessa fantasia. Queria um nome longo, lúdico e lisérgico. Pensei em títulos de filmes como Sonho de Uma Noite De Verão, As Sete Faces do Dr. Lao e O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus. Pesquisando descobri que "trupe" é também o coletivo de palhaços, aí fechou [risos].

Você acha que quando uma banda se propõe a gravar um DVD de um show, a atmosfera ao vivo muda? Acredita que interfere na naturalidade das apresentações?

Existe um cuidado maior, mas não acho que interfira na naturalidade. No meu caso, procuro apenas ter mais atenção na execução das músicas porque temos a filosofia de não refazer nada em estúdio. Sabemos que o que acontecer no palco naquele momento é o que vai para tela. Fico mais concentrada por causa disso, mas não deixo que se transforme em tensão. Para te falar a verdade, na hora que se pisa no palco a sensação é meio de "Ah, quer saber? Foda-se. Vou me divertir e pronto, que seja o que tiver que ser".

Você já tem planos para um novo álbum? Sente-se pronta para entrar em estúdio novamente?

Penso que mais pro fim do ano. Agora tem a turnê do DVD, e no meio disso ainda inventei de fazer show com o Agridoce [projeto paralelo da cantora].