Banda norte-americana retornou ao país com a Cocked, Locked, Ready to Rock Tour, em show realizado neste sábado, 29
Quem esteve presente no Palestra Itália na noite deste sábado, 29, provavelmente teve a sensação de que os problemas enfrentados pelo Aerosmith em um passado recente ficaram para trás. A banda norte-americana realizou seu segundo show no Brasil (após tocar em Porto Alegre no dia 27) com a Cocked, Locked, Ready to Rock Tour, mesclando no setlist clássicos de sua primeira década de vida, hits que figuraram no topo das paradas na virada dos anos 80 para os 90, e faixas lançadas nos anos 2000. E Steven Tyler vai bem, obrigado.
Imenso pano preto com logotipo do Aerosmith à frente do palco, enquanto "Rainy Day Women #12 & 35", de Bob Dylan, tocava após as luzes terem sido apagadas. A queda do tecido apresentou a banda ao estádio e foi com "Eat the Rich", do álbum Get a Grip (1993), que o vocalista soltou o vozeirão em apresentação que teria duas horas de duração pela frente. Se há simpatia de sobra no frontman (pelo menos fortemente demonstrada durante toda a noite), o quesito estilo não fica atrás: calça de zebra, camiseta com o símbolo de sua banda bordado, casaco dourado brilhante e chapéu caído para o lado direito da cabeça. Claro que no pedestal de seu microfone a famosa grande quantidade de lenços pendurados também se fez presente.
A última passagem do grupo ao país ocorreu em 2007, em show realizado no estádio do Morumbi. Após três anos - e sem ter lançado um álbum de inéditas neste período -, o Aerosmith retornou com formato de apresentação semelhante, sobretudo no que diz respeito ao setlist, que se por um lado satisfez a geração que cresceu inserida no contexto do sucesso da banda com o lançamento de Permanent Vacation (1987), Pump (1989) e Get a Grip (1993) (que predominaram no setlist), pode ter deixado algumas caras feias aos adoradores da fase setentista inicial, período em que Tyler e o guitarrista Joe Perry eram conhecidos como os "Gêmeos Tóxicos" devido ao intenso uso de drogas. Sim, estiveram lá faixas clássicas como "Lord of the Thighs", "Dream On", "Sweet Emotion" e "Draw the Line", mas a apresentação foi majoritariamente composta pela considerada, em termos comerciais, fase de ouro da banda.
Apesar do som baixo no começo do show, o público que lotava o Palestra cantou junto ao vocalista diversas vezes, acompanhando não só as letras em si, como também os agudos rasgados da inconfundível voz de Steven Tyler. Em "Love in an Elevator", durante o solo de Joe Perry, o vocalista se apoiou nas costas do guitarrista, arrancando gritos. Na sequência, "Falling in Love (is Hard on the Knees)" (Nine Lives, 1997) foi executada pela banda e, no momento final da faixa, uma bandeira do Brasil com o logo do Aerosmith estampado foi arremessada por alguém da plateia e pega pelo vocalista, que se cobriu com ela. A música seguinte, continuando no Nine Lives, foi "Pink", momento em que o palco foi tomado por uma iluminação rosa.
Tyler se mostrou disposto durante o show, e, apesar do pouco papo, fazia caras e bocas, e andava de um lado ao outro com seu inseparável pedestal cheio de lenços, interagindo não só com Perry, mas também com Tom Hamilton (baixo), Joey Kramer (bateria) e Brad Whitford (guitarra). Durante "Living on the Edge", dirigiu-se ao canto direito do palco e começou a brincar com a câmera cujas imagens eram exibidas nos dois telões localizados nas laterais da estrutura montada no estádio. Participou do solo de Kramer (que contou até com batucadas realizadas com as mãos - sem as baquetas - e com a cabeça do baterista) e tirou onda com uma sensual calcinha vermelha atirada ao palco durante o momento "Wando" da noite, colocando-a no microfone de Joe Perry. O sorriso do frontman era largo - não somente pelo tamanho natural de sua chamativa boca, mas também por aparentar se mostrar satisfeito com o grande número de fãs (mais de 35 mil) que ali estavam para curtir a apresentação da banda que traz na bagagem quatro décadas na estrada e que quase teve suas atividades encerradas em 2009.
Após "Jaded", que se valeu da exibição do clipe no telão, o Aerosmith retornou aos anos 70 com "Kings and Queens". "Direto de 1977, já que estava todo mundo pedindo", disse Tyler. "É de vocês." O clássico, claro, arrancou aplausos. "Crazy" e "Cryin'" foram as próximas, uma seguida da outra - dupla infalível na hora de embalar a plateia. O frontman era o divertido Tyler, mas os holofotes também se dirigiam a Joe Perry. O guitarrista de cara séria se destacou na noite revezando diversos modelos do instrumento em suas mãos e executando solos memoráveis. "Como vocês estão?", perguntou, após "Lord of the Thights". "Toda semana eu encontro alguém que diz que acaba comigo no Guitar Hero [referindo-se a versão da banda para o jogo]. Veremos o que é melhor: videogame ou pra valer." Levou ao palco uma espécie de duelo, com seu personagem no telão, do qual logicamente saiu vencedor. "What it Takes" (balada iniciada à capela e acompanhada em coro pelo público) e "Sweet Emotion" vieram em seguida. "Baby, Please Don't Go", de Big Joe Williams, resgatou o clima blues que já havia marcado presença durante a execução de "Stop Messin' Around", do Fleetwood Mac, cantada por Perry, após seu duelo.
"Draw the Line" foi a última, antes do bis. Para encerrar a noite, duas faixas de peso foram escolhidas: "Walk this Way" e "Toys in the Attic" (faixa-título daquele que é considerado talvez o melhor álbum do Aerosmith, lançado em 1975). O final contou com trocas de elogios entre os integrantes, permanecendo o clima amistoso que esteve presente durante todo o show. Pelo menos pelo que aparenta, o grupo superou as dificuldades pelas quais passaram - e os fãs agradecem.