Com um processo de composição inspirado em questões intrapessoais, profundidade e complexidade, a cantora apresenta músicas vulneráveis e repletas de emoções
Analisar com profundidade os sentimentos, escutar a si próprio e permitir a subjetividade é um caminho vulnerável para alguns artistas, mas também, é um processo de cura, superação e autoconhecimento. Para a cantora de R&B contemporâneo de 20 anos, Alaina Castillo, é exatamente assim que funciona o processo de composição - acompanhada de uma proposta de apresentar ao público um caminho para solucionar as angústias pessoais.
Com vocais doces e sensíveis, as músicas de Alaina transbordam emoções e vivências. A partir das histórias contadas nas canções, ela permeia um trajeto absolutamente vulnerável que soa como uma conversa sobre angústias, alegrias e relacionamentos.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, a artista revisitou os sentimentos e falou sobre o processo de criação do mais recente EP, the voicenotes, lançado em abril de 2020. O projeto foi compartilhado com o público em duas versões em diferentes idiomas: uma em inglês e outra em espanhol - a última chamada mensajes de voz.
Alaina é norte-americana, e nasceu no Texas, Estados Unidos, mas desde criança, aprendeu sobre a cultura mexicana e o idioma espanhol com o pai, que é mexicano, cujo os ensinamentos também foram transmitidos para os irmãos da artista - Adam, Micah e David. Toda a família dela, portanto, está muito próxima ao idioma e aos costumes do México.
“Para esse segundo EP, queria usar a minha cultura e mostrar como tenho orgulho de fazer parte dela, embora eu ainda esteja aprendendo espanhol. Queria ser capaz de ajudar outras pessoas a entenderem o que estou cantando em inglês, porque é um EP bastante vulnerável. O objetivo com este projeto em dois idiomas é conseguir ajudar as pessoas que não entendem inglês, ou não têm tanto domínio do idioma, a partir de uma tradução direta. E ambas versões são bonitas, cada uma em sua própria maneira”, explicou.
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the voicenotes, ou mensajes de voz, conta com quatro músicas correspondentes em inglês e espanhol. Todas as composições são pessoais e vulneráveis, escritas em momentos difíceis da vida dela, como contou Alaina. Ao enfrentar estas situações, a artista não queria falar ou não podia conversar com alguém, porque não se sentia à vontade para se abrir sobre essas questões intrapessoais, e assim, gravou mensagens de voz no celular - que, mais tarde, foram as responsáveis pela ideia do EP.
O processo de criação do projeto começou a partir de constantes idas ao estúdio e diversas conversas com o atual produtor dela, RØMANS. Como é um projeto íntimo e vulnerável para Alaina, a construção do EP é fruto de diálogos intensos e complexos, além de uma série de revisitação aos sentimentos, relacionamentos e amizades ao contar histórias não só nas letras, mas nas melodias, produção e vocais.
Ainda, o objetivo era apresentar uma maneira de superar estes problemas através das canções. "Queríamos ter certeza de que ao revisitar meus problemas e sentimentos, as músicas não falassem apenas deles, mas pudessem trazer uma arte para essa imagem [da canção] ou uma resolução para esses problemas. A ideia é, através das composições, trazer uma solução para pessoas que estão passando por questões semelhantes às minhas", falou sobre o processo de cura e superação.
Influenciada diretamente pelo R&B contemporâneo, o EP explora as sonoridades do gênero, com flertes ao soul e ao neo-soul. Um pouco mais distante, porém, os sons também buscam elementos do pop - trazidos com mais frequência em trabalhos anteriores da cantora - e até mesmo o pop underground está presente.
Ouça the voicenotes:
Para a artista, o processo de composição começa na melodia, direcionada pelo produtor: "Tenho caderninhos ou pequenos diários para escrever sobre os meus sentimentos, emoções e todas as memórias da minha infância. Quando estou no estúdio com RØMANS, ao ouvir qualquer melodia dele no teclado, violão ou outros instrumentos, passo a ter pequenas imagens na minha cabeça de onde estamos enquanto cantamos aquela canção ou o que aquele som me faz sentir e isso me ajuda a saber sobre qual sensação ou sentimento quero escrever".
Ela continuou: "Depois da melodia, sentamos e pensamos: 'Como transformar isso em uma história? Ou em alguma coisa divertida, ou triste?'. Neste momento da composição, tento criar a música juntamente com as imagens já formadas na minha cabeça por conta da melodia e que me provocam determinadas 'vibes' e sensações."
Antes de the voicenotes, Alaina lançou o EP antisocial butterfly (2019). O projeto já apresentava músicas sensíveis e repletas de emoções que conversam com o público sobre a subjetividade, auto-conhecimento, processo de superação, e relacionamentos. Embora flertasse mais com o pop, as sonoridades do R&B contemporâneo também estiveram fortemente presentes neste trabalho.
Em algumas canções de antisocial butterfly, como em “no importa”, “papacito”, e “mentiras”, apostou em letras em espanhol, ou em mesclas dos dois idiomas, além da relação com o pai, com a cultura mexicana, o intuito também foi de alcançar mais pessoas com a música.
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“i don't think i love you anymore” é o principal single do EP anterior, sendo também o que mais se aproxima do R&B explorado pela cantora no atual trabalho. O videoclipe da música soma 4 milhões de visualizações no YouTube, e é a segunda faixa mais ouvida da artista no Spotify.
Ouça "i don't think i love you anymore":
O contato de Alaina Castillo com a música teve início ainda na infância. De acordo com a artista, ela tinha mais ligação com canções cristãs e cresceu cantando na Igreja devido à influência dos familiares e principalmente dos pais. Na época da ‘middle school’ (Ensino Fundamental II aqui no Brasil), percebeu como gostaria de se tornar uma cantora, mas ainda não sabia exatamente em qual estilo ou gênero musical se encaixava - e muito menos como alcançaria este objetivo.
Só no primeiro ano do Ensino Médio que a cantora passou a publicar vídeos no YouTube, momento no qual pensou: "Existe essa plataforma enorme, e talvez se eu usá-la e começar a publicar vídeos nela, eu passe a ganhar seguidores e inscritos, e pode ser um bom começo".
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Em princípio, não funcionou, e a ideia resultou na publicação de apenas seis vídeos. No terceiro ano do Ensino Médio, voltou a investir nos covers no YouTube e, de acordo com ela, foi como a carreira, de fato, começou: “O YouTube realmente me ajudou a encontrar meu caminho até me tornar quem eu sou [musicalmente].”
Em janeiro deste ano, a cantora mudou do Texas para Los Angeles para estar mais próxima do produtor RØMANS - o que tem facilitado a produção de novas músicas e projetos e apesar de a artista explicar que não pode revelar os planos para o futuro, garantiu pensar em um disco de estúdio.
Para guiá-la nas sonoridades, Alaina se inspira em artistas do R&B: "Ao longo do meu crescimento e amadurecimento, Drake, Usher, Ne-Yo, Rihanna e outros nomes desse estilo [a inspiraram]. Atualmente, os principais nomes os quais me inspiram são Daniel Caeser e outros artistas com músicas sensíveis sobre temas vulneráveis e que tenham algum significado pessoal."
Ouça o cover de "Lovely", de Billie Eilish e Khalid:
Inicialmente, a relação de Alaina com as redes sociais não foi muito boa, após uma experiência negativa com o TikTok. Ao publicar um vídeo com “sad girl”, música do EP the voicenotes, algumas pessoas pareceram não se importar com os sentimentos expostos pela cantora na composição - o que a machucou bastante a ponto de se arrepender da publicação.
"De uma maneira dolorosa, precisei entender como algumas pessoas nas redes sociais são tóxicas, farão qualquer coisa por um pouco de likes, e não vão considerar seus sentimentos. Por isso, você precisa aprender a tentar não se importar. Acredito, porém, na possibilidade de usar essas mídias de uma forma adequada, e ser uma maneira incrível de alcançar pessoas que ouvem sua música para conversar com elas, compartilhar informação, e falar sobre novos lançamentos. Além de poder ser usada para conversar sobre sentimentos, porque você tem uma plataforma para poder fazer a diferença", contou.
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Alaina escolheu manter um discurso nas redes sociais semelhante aos das músicas - sobre sentimentos e emoções - que pretende aproximá-la ainda mais dos fãs. Portanto, na biografia do Instagram, a artista deixa o número de celular disponível para quem quiser, puder contatá-la da maneira mais simples possível - com uma mensagem de texto.
"É uma maneira mais próxima de conversar com os fãs, porque acredito que eles são uma parte muito importante da carreira. Quando passei a publicar meus vídeos no YouTube, eles estavam lá por mim, me apoiando e tendo certeza de que eu ficaria feliz ao postar aquele conteúdo", explicou.
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Ela acrescentou: "Estar presente para eles, agora, é uma maneira de manter uma conexão, mas também ajudá-los em conselhos, por exemplo, porque eles não imaginam o quão feliz eles me fazem por conta do amor e do apoio que estão sempre me mostrando. Deixar um número disponível para conversar com eles, é uma tentativa de fazer algo em troca por eles, por conta desse amor. Mandar mensagens e conversar com eles é o que quero sempre fazer, juntamente com a minha música".
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