Média-metragem estrelado por Pedro Pascal e Ethan Hawke provoca novas narrativas em filmes de cowboy
Em Estranha Forma de Vida (2023), Pedro Almodóvar se propõe a contar, em 32 minutos, a história de dois ex-amantes, Silva e Jake, interpretados por Pedro Pascal e Ethan Hawke, respectivamente. Na trama os personagens se reencontram após 25 anos, e o que parece ser simplesmente um reencontro romântico se desdobra em uma narrativa repleta de tensão, desencadeada por um crime na cidade, com pitadas de mágoas pelo passado da dupla.
Ao longo do filme é possível ver a assinatura do icônico diretor espanhol, seja na maneira como a câmera se move, que acompanha o olhar de Jake pelo corpo de Silva no quarto, ou nas transições entre as cenas, que se dão de uma maneira muito característica.
Algo se perde, no entanto, no uso do inglês como idioma utilizado no filme. Se você está acostumado com os filmes de Almodóvar em língua espanhola, talvez sinta falta da lírica latina, que no inglês — mais frio — não se encontra. Não que esse detalhe atrapalhe a experiência, mas definitivamente gera uma diferença entre os trabalhos do cineasta.
O figurino do filme é assinado por Anthony Vaccarello para Saint Laurent, que é também produtor associado. Digno dos filmes de velho oeste, mas com um toque de modernidade que agrada, como no colete acetinado do personagem de Hawke e no verde marcante da jaqueta usada por Pascal, que nos relembra as “cores de Almodóvar,” como diria Adriana Calcanhotto.
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A trilha sonora de Alberto Iglesias é precisa e dá o tom nos momentos necessários. O músico, parceiro de longa data do diretor, assina a trilha de diversos trabalhos de Almodóvar, como Mães Paralelas (2021), Dor e Glória (2019), Fale com Ela (2002) e Carne Trêmula (1997). A sinergia entre dupla fica evidente ao longo do filme.
Vale ressaltar também o uso do fado “Estranha Forma de Vida”, da cantora portuguesa Amália Rodrigues, em uma versão gravada por Caetano Veloso, amigo de Almodóvar, e dublada pelo ator espanhol Manu Rios logo no início da produção.
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Estranha Forma de Vida se mostra um filme de cowboys quase tradicional, não fosse o olhar do diretor, que empresta ao gênero uma modernidade típica de seus filmes. O filme foi gravado no cenário construído para a Trilogia dos Dólares, estrelada pelo galã máximo do gênero, Clint Eastwood.
O toque de Almodóvar se dá, por exemplo, pelas pinturas nas casas dos protagonistas: o tonalismo de Maynard Dixon para Jake, as paisagens do Novo México pelo olhar de Georgia O’Keefe para Silva.
Outro ponto que chama atenção é o romance, em pleno velho oeste, protagonizado por dois homens. Com exceção do clássico O Segredo de Brokeback Mountain (2005), esse gênero não costuma retratar relações amorosas entre pessoas do mesmo sexo.
A escolha dos atores também não foi por acaso, Pascal tem 48 anos, Hawke, 52. E apesar de estarem produzindo mais do que nunca, não podemos deixar de notar que não é comum vermos atores de meia-idade encenando cenas de sexo. Almodóvar já havia feito isso em 2019 — com Antonio Banderas e Leonardo Sbaraglia, à época com 60 e 50 anos, respectivamente — e acerta mais uma vez.
A produção de Estranha Forma de Vida é bem realizada e sem pontas soltas. Poderia ser um filme de longa-metragem, mas não deixa de divertir por isso. Pelo contrário, deixa aberta a porta para o exercício de imaginarmos o que terá sido dos personagens após os créditos subirem na tela. Apesar disso, a duração não é uma desvantagem.
Como um bom filme de Almodóvar, é feito para as telonas. Outra jogada interessante do cineasta, que quer levar as pessoas ao cinema para ver um filme de curta duração. Seja pela curiosidade sobre a história, ou pelo nome que assina a produção, vale o ingresso. Estranha Forma de Vida estreia nos cinemas no dia 14 de setembro de 2023. Vale ressaltar que a exibição do filme é seguida por uma entrevista com o diretor.
Veja o trailer abaixo: