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Análise: Childish Gambino faz história no Grammy ao levar rap para o topo

Com This is America, o alter-ego do ator Donald Glover ganhou duas das principais categorias do Grammy: gravação e disco do ano

Pedro Antunes, Editor Publicado em 11/02/2019, às 08h36

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Childish Gambino, em show em 2018, não compareceu ao Grammy 2019 (Foto: John Salangsang)
Childish Gambino, em show em 2018, não compareceu ao Grammy 2019 (Foto: John Salangsang)

Childish Gambino, o alter-ego musical de Donald Glover, fez história neste domingo, 10, durante a cerimônia de entrega dos prêmios do Grammy, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Com "This is America", poderosa canção lançada com um clipe igualmente impactante, o rapper/cantor/ator/produtor/roteirista elevou o gênero ao posto máximo ao garantir o gramofone dourado de melhor gravação e canção do ano, duas das principais categorias do Grammy, ao lado de disco do ano.

Foi a primeira vez na história da premiação, iniciada em 1959, que o rap esteve no topo nessas categorias. Kendrick Lamar, nos últimos anos, com os discos To Pimp My Buterfly e Damn, além da música "Humble", esteve próximo do feito em 2017 e 2018.

Mesmo apontado como favorito para a crítica, a Academia preferiu por celebrar a música pop.

A esnobada em Jay-Z, em 2018, foi ainda maior. O rapper chegou ao Grammy com oito indicações, incluindo as principais, como disco do ano e gravação do ano, mas voltou para casa de mãos abanando.

Desta vez, Gambino fez diferente.

O rapper, contudo, não esteve presente durante a cerimônia. Especula-se que sua ausência se deva à relação ruim entre o Grammy e a cultura hip-hop. Dias antes, foi noticiado que o artista havia se recusado a se apresentar na premiação, assim como Kendrick Lamar e Drake.

Lamar, aliás, também esteve ausente. Drake apareceu e recebeu o prêmio de melhor canção de rap, por "God's Plan", mas deixou o palco irritado ao ter seu discurso cortado.

Childish Gambino, ao todo, ganhou quatro gramofones, inclusive de melhor videoclipe, também para "This is America", o vídeo, com uma forte mensagem política, foi assistido mais de 35 milhões de vezes somente nos dois primeiros dias e foi destrinchado um sem número de vezes por críticos e ativistas das causas sociais.

O vídeo toca em temas como violência, armas, racismo e discriminação nos Estados Unidos contemporâneo. Melhor retrato da sociedade norte-americana em explosão não há.


Grammy tenta reparar erros de 2018

Childish Gambino fez história, mas dividiu os holofotes como grande vencedor da premiação com Dua Lipa (em foto abaixo, de Matt Sayles/AP), que levou o prêmio de artista revelação e, principalmente, Kacey Musgraves, dona do álbum do ano, com o disco Golden Hour.

Em mais uma tentativa de reparar erros do passado, o Grammy jogou a sua atenção para artistas mulheres, embora as indicações ainda tenham sido majoritariamente masculinas (a Academia precisa entender que há muito a ser feito quanto a isso).

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Foi a primeira cerimônia apresentada por uma mulher. Alicia Keys foi a mestre de cerimônias e fez da sua posição uma voz a ser ouvida. Desde a abertura, quando entregou uma mensagem sobre o poder transformador da música, ao lado de Lady Gaga, Jada Pinkett Smith, Jennifer Lopez e Michelle Obama (juntas, na foto abaixo, de Matt Sayles/AP).

"Nesta noite, nós celebramos a grandeza que há em cada um por meio da música", disse Alicia, antes de repetir ao microfone, retoricamente, ao verso de Beyoncé: "Com licença… Who runs the world?" (em tradução literal: "quem manda no mundo?").

Cardi B se tornou a primeira artista mulher solo a vencer na categoria de melhor disco de rap por Invasion of Privacy. Musgraves também foi a primeira mulher a ficar com o prêmio melhor disco country desde Miranda Lambert, em 2015.

Ao receber o prêmio de melhor revelação, Dua Lipa provocou o presidente da Academia de Gravação, que comanda o Grammy, ao dizer que estava "honrada por estar indicada entre tantas artistas femininas incríveis porque, ao que parece, neste ano, nós realmente aparecemos".

A alfinetada se deu depois da infeliz colocação de Neil Portnow sobre falta mulheres indicadas nas categorias do Grammy no ano passado. Na época, ele respondeu às questões sobre disparidade de gênero ao sugerir que as mulheres deveriam aparecer mais.

Ainda falta um longo caminho pela frente.

Veja, abaixo, os principais vencedores do Grammy 2019:

Álbum do ano: "Golden Hour" - Kacey Musgraves
Gravação do ano: "This is America" - Childish Gambino
Melhor canção: "This is America" - Childish Gambino
Melhor artista novo: Dua Lipa
Melhor performance pop de duo ou grupo: Lady Gaga e Bradley Cooper - "Shallow"
Melhor disco de country: "Golden hour" - Kacey Musgraves
Melhor música de rap: "God's plan" - Drake
Melhor disco de r&b: "Her" - H.E.R.
Melhor disco de rap: "Invasion of privacy" - Cardi B

Agora, os vencedores da pré-cerimônia, com destaque para Lady Gaga e Chris Cornell (com um tributo póstumo):

Melhor Álbum de comédia: "Equanimity & The Bird Revelation" - Dave Chapelle
Melhor Álbum de Teatro Musical: "The Band's Visit" - The Band's Visit
Melhor Álbum de Música Alternativa: "Colors" - Beck
Melhor Composição Instrumental: "Blut und boden (Blood and soil)" - Terence Blanchard
Melhor Engenharia de Som de Álbum Não-Clássico: "Colors" - Beck
Melhor Álbum Instrumental Pop: "Steve Gadd Band" - Steve Gadd
Melhor Compilação de Trilha Sonora para Mídia Visual: "The greatest showman" - "O rei do show"
Melhor Trilha Sonora para Mídia Visual: "Pantera Negra" - Ludwig Goransson (compositor)
Melhor Canção Composta para Mídia Visual: "Shallow" - Lady Gaga, Mark Ronson, Anthony Rossomando e Andrew Wyatt
Melhor Álbum Folk: "All ashore" - Punch Brothers
Melhor Álbum de Pop Latino: "Sincera" - Claudia Brant
Melhor Clipe: "This is America" - Childish Gambino
Melhor Vídeo Musical Longo: "Quincy" - Quincy Jones, Alan Hicks e Rashida Jones
Melhor Performance Solo de Pop: "Joanne (Where do you think you're goin'?)" - Lady Gaga
Melhor Álbum Pop Vocal: "Sweetener" - Ariana Grande
Melhor Gravação Dance: "Electricity" - SilkCity e Dua Lipa (com participação de Diplo)
Melhor Performance de Rock: "When bad does good" - Chris Cornell (prêmio póstumo)
Melhor performance rap/falada: "This is America" - Childish Gambino
Melhor Álbum de Rock: "From the fires" - Greta Van Fleet
Melhor Canção de Rock: "Masseduction" - St. Vincent (compositores: Jack Antonoff e Annie Clark)
Melhor Performance de Rap: "King's dead" - Kendrick Lamar, Jay Rock, Future e James Blake; "Bubblin" - Anderson Paak
Produtor do Ano, Não-Clássico: Pharrell Williams
Melhor performance country solo: “Butterflies” — Kacey Musgraves
Melhor música country:  "Space cowboy" - Kacey Musgraves