Aos 53 anos, músico carioca libera Motel Maravilha, quinto e mais eclético trabalho da carreira
“Você fala bastante de drogas e álcool aqui”, disse a terapeuta de Rodrigo Santos depois de ouvir Motel Maravilha, novo trabalho solo do cantor, compositor e também baixista do Barão Vermelho. Nada é tão explícito, com uma pequena exceção na faixa “Remédios”, mas todo o turbilhão de autodestruição do vício que culminou na desintoxicação pela qual o carioca passou em 2005 ainda é recorrente no trabalho dele.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, por telefone, falando do Mato Grosso do Sul, Santos conta como se viu perdido diante do abuso de substâncias e que entrou nos eixos graças à intervenção planejada pelos familiares dele e pelos outros integrantes do Barão Vermelho. “Foi depois do primeiro ensaio da volta do Barão [em 2005], quando descobri que a banda iria parar por tempo indeterminado em 2007”, diz ele. “Aquilo mexeu comigo. Tive uma hipoglicemia no avião, indo para Recife, tive que ir para o hospital.”
Rodrigo Santos diz que a perspectiva de uma nova pausa da banda para qual entrou em 1992, durante as gravações de Supermercados da Vida, foi difícil de superar. “Eu não soube lidar com aquilo. A não ser ir me anestesiando de todas as maneiras possíveis e ir aproveitando a festa ao máximo. Bebi muito por quase dois meses. Alguns dias, eu acrescentava drogas.”
O ponto de mudança foi quando Frejat, que já tinha uma carreira solo consolida, disse a ele que, se aparecesse virado mais uma vez, seria substituído. “A prepotência quando você está se drogando é muito grande. Ninguém entende nada, você entende tudo. Em agosto de 2005, eu consegui pedir ajuda”, revela. “Não à toa, eles [banda], a minha mulher e o meu irmão me deram um ultimato para parar de beber e cheirar cocaína. Mas a bebida já acelerava as coisas. Veio esse ultimato e foi a hora de aceitar a ajuda dos amigos.”
O músico, atualmente aos 53 anos e pai de dois filhos, faz questão de dizer o “quanto ama cada um dos integrantes do Barão”. E, mesmo que o grupo seja “igual ano bissexto”, como Santos brinca, ele teve uma importância grande – e também indireta – no recém-lançado Motel Maravilha, que Rodrigo exibirá em São Paulo no próximo dia 17, no Na Mata Café, em São Paulo.
Prioritariamente composto de canções novas, exceto a faixa título, datada de 2004 e fruto de uma parceria com Jorge Israel e Mauro Santa Cecília, o álbum foi sendo escutado por Frejat, Fernando Magalhães e Guto Goffi durante os meses em que a banda se reuniu para a turnê +1 Dose, entre o fim de 2012 e início deste ano. “Me diverti na turnê. Foi mais legal do que eu achei que seria”, conta ele, antes de dizer que cada integrante do grupo gostou de determinada canção do álbum. Desta vez, Rodrigo estava leve. “Eu estava curtindo minha carreira solo”, conta ele. O guitarrista Fernando, aliás, integra o power trio que sairá em turnê com Motel Maravilha, ao lado de Santos e Kadu Menezes, baterista do Kid Abelha.
Desde a intervenção que levou à sua internação, Santos se dedica a uma série de outros projetos além do Barão. Dentre eles está a carreira solo, que chega ao quinto trabalho – anteriormente, vieram Um Pouco Mais de Calma (2007), O Diário do Homem invisível (2009), Waiting on a Friend (2010) e Ao Vivo Em Ipanema (2011). Ao analisar os discos, o músico percebe que chegou a uma canção como “Remédios” (com os versos “remédio para subir/ remédio para descer/ remédio para transar/ remédio para parar”) como uma evolução natural da temática das drogas. “Já falei muito de álcool e drogas, por conta da minha história. Estava recém saído de álcool e das drogas quando comecei a compor”, ele afirma, lembrando-se do trabalho iniciado em Um Pouco Mais de Calma. “Eram músicas mais introspectivas, era o meu momento: guerrear muito contra mim mesmo.”
Motel Maravilha mostra um artista livre de sombras e mais leve. Baixista de formação, Rodrigo toca o instrumento em apenas quatro faixas. Nas outras, o produtor Nilo Romero ficou encarregado dos graves. Uma das canções em que ele está com o baixo nas mãos, aliás, “Me Dê Um Dia a Mais”, é uma parceria com Andy Summers, guitarrista do The Police. “Essa eu fiz questão. Eu quis ser o Sting por um dia”, brinca.
O desprendimento de Rodrigo Santos se mostra em várias camadas. Ainda que seja um álbum de pop e rock, ele não se prende a gêneros e entrega o disco mais eclético da carreira – a canção título, por exemplo, é um samba. E, além de deixar grande parte das linhas de baixo para Nilo Romero, o músico também liberou o produtor para criar nas guitarras. O álbum foi feito a partir das canções enviadas a Nilo em voz e violão. “Quando ele me chamou e pediu para regrar os violões, eu falei: não, eu quero tirar todos eles”, relembra.
“Agora, estou mais solto. Sou tão exigente quanto antes, mas descentralizador. Minha mania era não confiar”, conta. “Eu já tinha uma visão do disco, sabia que queria cantar mais e me preocupar menos. Queria achar os tons, acertar as letras e escolher bem as canções.” Rodrigo Santos e Romero chegaram a conclusão de 11 canções para Motel Maravilha. “Já caí nesse erro de colocar músicas demais”, afirma. “Estou nesse momento de deixar a música fluir. Deixar que as pessoas criem. Eu contratei um cara fodão. Então, vou deixar o cara trabalhar.”
A própria entrevista acaba funcionando como uma terapia. No papo de uma hora, Rodrigo Santos se percebe mais confiante no próprio caminho e nas escolhas. Como ele escreveu nos agradecimentos do disco, “a vida é cheia de surpresas, basta estar vivo”, e nesta vibração de carpe diem, o músico quer aproveitar o máximo que pode. “Minha terapeuta falou de drogas, mas é mais geral. São músicas menos sofridas até. É mais alerta”, diz ele. “Mas no bom sentido.”
Rodrigo Santos em São Paulo
Dia 17 de julho, quarta-feira, às 22h30
Na Mata Café - Rua da Mata, 70 – Itaim Bibi.
Informações: 11 3079-0300
Preço: R$ 30 (compra antecipada ou nome na lista) a R$ 40 (compra na porta).