Vídeos em três dimensões deixaram a desejar, mas público ovacionou o quarteto alemão
O cancelamento do show que Björk faria nesta sexta, 11, na primeira noite do festival Sónar, fez, ao contrário do que se esperaria, a alegria de muita gente. A atração escolhida para substituir a cantora não poderia ser mais emblemática para um festival que é conhecido como "de vanguarda": o Kraftwerk, afinal, é pioneiro indiscutível da música eletrônica como a conhecemos hoje. Nesta quarta passagem pelo Brasil, eles ainda vieram com uma proposta a mais – o alardeado show 3D, iniciado com 30 minutos de atraso, às 23h30.
A propaganda foi intensa, mas o efeito em si não era dos mais caprichados. Em muitas das projeções, era pouca a diferença entre a visão do telão com e sem os óculos de papel que foram distribuídos na entrada do evento. A localização também afetava o resultado: no meio, a visão era melhor do que nas laterais. Ainda assim, houve bons momentos – os números em "Numbers", as notas musicais que surgiram ao final de "Autobahn" e em "Music Non Stop", a última do show. Em cada um deles, o público vibrava com as imagens. Não era raro ouvir exclamações de entusiasmo diante das porções mais inspiradas do 3D "suave" da apresentação. “Spacelab”, segunda da noite, foi uma das mais celebradas, com vídeos da Terra e do espaço.
Fora isso, o show do Kraftwerk não mudou muito desde a última vinda da banda ao Brasil, no festival Just a Fest, em 2009 – aliás, a estrutura básica da apresentação é a mesma há muito tempo. Ralf Hütter ainda é o único integrante da formação original; ele e seus três companheiros ficam postados diante do telão, sem se movimentar muito, com discretos equipamentos à frente deles; e muitas imagens permanecem as mesmas, como em “The Robots”, que lembra o clássico clipe da faixa e a capa do disco The Man-Machine, de 1978 (os quatro integrantes vestidos com camisa vermelha e gravata preta).
Desta vez, no entanto, o Kraftwerk era uma das atrações mais aguardadas de todo o festival (diferente de 2009, quando a banda apenas abriu para o Radiohead). Eles conseguiram ganhar e surpreender o público, pelo menos na maior parte dos 90 minutos da apresentação. Depois de uma hora de show, já era possível ver gente saindo do espaçoso local onde foi montado o palco, dentro do Anhembi Parque. Mas quem ficou até o final, depois de Hütter conceder um raro “Boa noite” (em inglês e alemão) ovacionou o quarteto.
O show do Kraftwerk é obrigatório para qualquer admirador da música eletrônica – ver e ouvir ao vivo músicas como “Computer World”, “Radioactivity” e “Trans-Europe Express”, que ainda têm algo de moderno (todas foram lançadas antes de 1982), é gratificante. E embora as batidas herméticas e minimalistas não agradem a todos os ouvidos (e, em uma hora e meia, cansem até os que agradam), no Sónar o Kraftwerk reinou.